Volkswagen Group perde milhões em cada Bugatti Veyron

Com um preço de venda ao público entre 1,7 milhões e 2,3 milhões de euros, o Volkswagen Group perde cerca de 6,7 milhões de euros por cada unidade vendida do Bugatti Veyron. Confuso? Nós explicamos porque motivo é um desastre financeiro para o construtor germânico que, mesmo assim, nunca deixou de o apoiar.

Uma das jóias da indústria automóvel pela excelência da sua engenharia é o Bugatti Veyron. Este super-desportivo redefiniu as fronteiras daquilo que era possível alcançar por um carro de produção, mas, por outro lado, constitui uma fonte de despesa imparável que faria o mais audacioso administrador financeiro pensar duas vezes.

A história do Veyron é uma combinação de excesso na indústria automóvel, inovações tecnológicas e uma casa-mãe disposta a suportar aquilo que desafiar a lógica financeira.

Na verdade, quando o Volkswagen Group adquiriu a moribunda Bugatti em 1998, poucos poderiam adivinhar o brilhante futuro à sua frente. Sob a liderança de Ferdinand Piëch, o visionário presidente da Volkswagen, a Bugatti iria tornar-se no exemplo de excelência automóvel. Como verdadeiro engenheiro, Ferdinand Piëch, procurou atingir um desafio que parecia impossível: a criação do automóvel de produção mais rápido e potente de sempre.

O protótipo que iria dar origem ao Veyron apareceu pela primeira vez no Salão de Tóquio de 1999. Inicialmente, o protótipo 18.4 tinha um motor de 18 cilindros, distribuídos por três bancos de seis cilindros. A designação para este modelo constituiu uma homenagem a Pierre Veyron, um engenheiro e piloto da Bugatti que ganhou as 24 Horas de Le Mans em 1939.

Contudo, e mesmo com recursos quase ilimitados, as leis da física levaram a melhor. O motor W18 revelou-se ser uma aposta pouco acertada devido aos problemas de fiabilidade e peso. A equipa de engenharia optou então pela ainda enorme configuração W16 de oito litros, que, na prática, se tratam de dois motores V8 unidos num ângulo de 90º, complementado por quatro turbocompressores. O compromisso acabou aí.

Versão de produção em 2005

Quando o Veyron 16.4 de produção chegou finalmente em 2005, quase após seis anos de desenvolvimento, as suas especificações pareciam uma fantasia da engenharia. O W16 com quatro turbocompressores desenvolvia uma potência de 1001 cv e um binário de 1250 Nm, que lhe permitia acelerar dos 0 aos 100 km/h em 2,5 segundos e atingir uma velocidade de ponta de 407 km/h, superando mundos automóveis de competição daquela altura.

As prestações exigiam soluções técnicas extraordinárias. O Veyron tinha uma caixa de dupla embraiagem de sete velocidades, tração integral e dez radiadores para gerirem a elevada quantidade de calor produzida.

Os travões de cerâmica permitem a imobilização deste bólide com mais de duas toneladas desde os 400 km/h em menos de dez segundos. A asa traseira serve de travão aerodinâmico, sendo ativada a velocidades elevadas para aumentar a força descendente e a estabilidade.

Os pneus do Veyron, desenvolvidos especialmente pela Michelin, custam 42 mil euros por conjunto e necessitam de ser substituídos a cada 4000 quilómetros. À velocidade máxima, os pneumáticos durariam cerca de 15 minutos antes de se desintegrarem, já que o depósito de combustível de 100 litros fica vazio em 12 minutos à velocidade máxima.

Os astronómicos custos de desenvolvimento - estimados em 1,62 mil milhões de euros - nunca poderão ser recuperados devido às vendas limitadas por uma produção reduzida. Segundo a consultora Bernstein Research, cada Veyron vendido representa uma perda impressionante de 6,24 milhões de euros para o Volkswagen Group.

Produção anual de 45 unidades

Mesmo com preços compreendidos entre 1,7 milhões de euros e 2,7 milhões de euros para as edições especiais como o Grand Sport Vitesse, os números são brutais. Com apenas 450 unidades produzidas numa década e uma produção anual de aproximadamente 45 unidades, o Veyron nunca esteve destinado a ser um sucesso financeiro.

Apesar do desastre financeiro, o Veyron conseguiu uma coisa bastante mais valiosa, já que é responsável pela criação de uma categoria totalmente nova na indústria automóvel: o hipercarro. Antes do Veyron, os supercarros como o Ferrari Enzo e o McLaren F1 representavam o pináculo dos automóveis de prestações elevadas. O Veyron criou um nova categoria por cima dessa, combinando prestações anteriormente inimagináveis com luxo e exclusividade.

Este legado esteve na origem dos modelos seguintes da Bugatti. O Chiron, introduzido em 2016 e construído sobre a base do Veyron, viu a potência aumentar para os 1500 cv, permitindo oferecer prestações ainda mais extremas. As edições limitadas que se seguiram - Divo, Centodieci e La Voiture - tinham preços de tal maneira elevados que quase tornava “acessível” o Veyron original.

Montra tecnológica

A vontade da Volkswagen de absorver as enormes perdas do Veyron deve-se ao valor intangível que acrescentou. Como montra tecnológica, o Veyron reforçou a reputação tecnológica de todo o Volkswagen Group. As tecnologias desenvolvidas para o Veyron acabaram por ser utilizadas noutras marcas do grupo, incluindo a Audi, Bentley e Porsche.

Além de revitalizar a marca Bugatti, o Veyron transformou-a de uma nota de rodapé histórica num produtor dos automóveis mais desejados do mundo. Isso concretizou o maior objetivo de Ferdinand Piëch: demonstrar que o Volkswagen Group conseguia fazer os melhores carros do mundo, independentemente do custo.