Seguradoras recusam fazer apólices a elétricos chineses

Os veículos elétricos chineses estão a ter muitas dificuldades para serem segurados na Europa porque as companhias recusam fazer apólices

Os veículos elétricos chineses estão a ter muitas dificuldades para serem segurados na Europa porque as companhias recusam fazer apólices ou apresentam valores a pagar proibitivamente elevados. O caso foi detetado no Reino Unido, mas é provável que se estenda a outros países. Não é que exista nada de errado com os veículos…

A indústria automóvel europeia pode ter nas seguradoras um aliado improvável para enfrentar a invasão de automóveis elétricos chineses. Nalguns países, designadamente no Reino Unido, as seguradoras não estão a aceitar fazer seguros para os veículos elétricos das novas marcas chinesas e aquelas que o fazer apresentam preços das apólices proibitivamente elevados.

O fenómeno deve-se sobretudo aos receios relacionados com os elevados custos de reparação, à falta de informação técnica e aos longos tempos para a entrega de peças de substituição. 

De acordo com a publicação britânica Auto Express, os modelos que estão a ter mais dificuldades para serem segurados são o BYD Seal, GWM Ora 03 e alguns veículos da MG.

A empresa britânica de inteligência avaliação de risco, financiada pela indústria, Thatcham Research, atribui esta apreensão ao reduzido entendimento das marcas chinesas relativamente aos processos de reparação na Europa.

Chineses ainda não perceberam realidade europeia

Ben Townsend, diretor do Thatcham Research, não tem dúvidas em sublinhar que não há nada de errado com os carros. Contudo, acredita que as novas marcas de veículos elétricos ainda não perceberam bem os mecanismos do setor segurador. 

"A mensagem para as organizações chinesas e para aquelas na Índia ou no Vietname é que não se limitem a trazer os carros para o mercado britânico e pensarem que os vendem", afirma Ben Townsend.

"Venham falar connosco, entendam o mercado, entendem os passos que têm de dar. Assim, quando chegarem a mercado já têm toda a logística no seu lugar. Nós temos uma rede independente de reparação que pode dar assistência os vossos veículos e torná-la sustentável no mercado, baixando o custo total de propriedade, assegurando aos consumidores que têm a escolha que merecem", adianta Ben Townsend.

Falta de disponibilidade de peças

Contudo, Martin Rowley, diretor executivo da Associação de Reparadores de Automóveis do Reino Unido, afirma não entender a falta de disponibilidade de peças para os veículos chineses, citando como exemplo o GWM Ora 03. "Temos reparadores que não puderem aceitar o carro por razões estúpidas, o que seria escandaloso se fosse um Ford ou um Vauxhall. Infelizmente, não há peças para aquele veículo, o que é ridículo, considerando se trata de um negócio no valor de vários milhões de libras".

Inquirida sobre estas questões pelo Auto Express, fonte oficial da GWM Ora confirmou que a empresa está ciente que alguns clientes enfrentam dificuldades em obter uma apólice de seguro. Adiantou igualmente que estão a ser tomadas várias medidas para melhorar as coisas, embora a marca assegure que a disponibilidade de peças está garantida. A GVW Ora considera que o facto reside na pouca notoriedade da marca, "com a comunicação de terceiros" a exagerar nos tempos de entrega das peças. 

Custo de mão-de-obra é diferente

Todavia, existe ainda outra barreira. No mercado doméstico chinês, a documentação do fabricante da reparação de veículos nem sempre existe. Em outros casos existe uma perceção diferente na visibilidade das reparações.

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Como o custo de mão-de-obra na China é muito inferior, uma grande reparação numa carroçaria é encarada como uma tarefa que se pode realizar. Em tais situações, a informação é transmitida da China para as oficinas ocidentais. Porém, como os custos de mão-de-obra são mais elevados na Europa, essa reparação não faz sentido do ponto de vista financeiro.

Embora seja evidente que existem bastantes diferenças entre o setor segurador europeu e as expetativas dos fabricantes chineses, o elo mais fraco acaba por ser o consumidor. Atendendo ao aumento previsto das tarifas, isto pode revelar-se um fator significativo na diminuição da competitividade dos veículos elétricos chineses na Europa.