Em 2022. Usados importados foram mais de dois terços das matrículas novas

Num ano de 2022 em que o número de matrículas novas voltou a cair 30% face a 2019, os importados usados foram mais de dois terços do total

No mesmo ano em que o número de carros novos matriculados voltou a cair 30 por cento face ao último ano pré-pandemia (2019), o mercado automóvel português fechou 2022 com o acentuar de uma outra tendência preocupante: os veículos usados importados representaram mais de dois terços das matrículas novas.

A conclusão resulta dos números apresentados, esta quarta-feira, pela ACAP - Associação Automóvel de Portugal, naquele que foi mais um balanço anual feito pela entidade, relativamente ao desempenho do sector automóvel em Portugal, no último ano concluído. No qual e segundo os mesmos dados, o número de automóveis ligeiros de passageiros usados importados de outros países subiu, em 2022 e face a 2021, de 49,5 para 67,1%, e dos 72.586 para os 104.908 veículos..

Aliás e ainda sobre estas importações, o secretário-geral da ACAP, Hélder Pedro, destacou o facto destes veículos apresentarem uma idade média de 7 anos, facto que veio contribuir para o envelhecimento de um parque circulante que, em 2021, era de 5,6 milhões de veículos, 63% do qual com mais de 10 anos de idade, e que, já em 2022, contabilizava já cerca de 1,5 milhões de veículos com mais de 20 anos de idade. Contribuindo, assim, para que a idade média dos automóveis a circular em Portugal fosse de 13 anos, no caso dos ligeiros, chegando mesmo aos 14,8 anos, no caso dos pesados de passageiros e mercadorias.

Tal como em anos anteriores, coube ao presidente do Conselho Estratégico, Pablo Puig (à esquerda), ao presidente José Ramos (ao centro), e o secretário-geral Hélder Pedro (à direita), apresentar o balanço anual da ACAP, relativamente ao sector automóvel em Portugal

Para o presidente do Conselho Estratégico da ACAP e também Director de Operações do grupo Stellantis para Portugal , Pablo Puey, "um mercado que contabiliza um total de 180.000 veículos matriculados, dos quais 100.000 são usados importados, só pode ser motivo de grande preocupação". Sendo que, "esta preocupação é, antes de mais, ambiental, pois, ao importarmos carros com sete anos, é também a média de emissões que aumenta em Portugal, algo que também gera uma grande preocupação".

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Já no domínio dos pesados e, mais concretamente dos autocarros de passageiros, que algumas entidades nacionais têm, ultimamente, importado junto de fabricantes chineses, coube ao presidente da ACAP e também presidente da Toyota Portugal, José Ramos, alertar para a necessidade de "uma concorrência leal", nomeadamente, através de uma maior fiscalização dos "componentes presentes nesses veículos". Mais concretamente, "comprovando que estão de acordo com os regulamentos da União Europeia e que nós, fabricantes europeus, já somos obrigados a cumprir."

BEV crescem mais do que o mercado

No entanto e numa altura em que o Parlamento Europeu aprovou o fim da venda de automóveis novos com motores de combustão a gasolina e diesel, já a partir de 2035, com a redução nas emissões a ter de chegar aos 50% em 2030, nota, igualmente, para o facto de, num ano em que se matricularam cerca de 186 mil veículos, uma subida de 6,6% face a 2021, a matriculação de veículos elétricos a bateria (BEV) ter crescido bastante mais. Mais precisamente, 34,4%, para as 17.817 unidades, passando a representar, em 2022, 11% das matrículas novas.

Também graças a este crescimento e, mais uma vez, segundo os números da ACAP, a continuação da queda na média de emissões em Portugal e que passou das 108 gramas em 2021, para 104 gramas no ano transacto.

Os veículos elétricos a bateria registaram o maior crescimento no mercado português, em 2022
Os veículos elétricos a bateria registaram o maior crescimento no mercado português, em 2022

De resto e salientado este crescimento, o secretário-geral da ACAP não deixou de defender que "os construtores automóveis têm feito a sua parte, com o lançamento de vários modelos de veículos elétricos, sendo que, agora, cabe aos Estados fazerem também a sua parte, nomeadamente, disponibilizando incentivos e benefícios fiscais, para quem opta por este tipo de veículos". Ao mesmo tempo, é também preciso "criar uma rede de carregamento sustentável e que permita que cheguemos a 2030 com uma percentagem de EVs que ronde os 50%, de forma a conseguirmos aproximamo-nos das metas definidas pela União Europeia".

Ainda assim e mesmo com a criação de todas as condições pretendidas pela ACAP, o presidente do Conselho Estratégico assume que "será difícil que, em 2023, o sector automóvel em Portugal consiga alcançar os números de 2019", ou seja, as 268.000 unidades matriculadas. O que, salientou, "tem a ver com duas situações: os problemas de produção que o sector registou e o facto dos números que se estão a fazer neste momento serem muito baixos. Ou seja, estamos a caminho de uma segunda metade do ano de 2023 verdadeiramente dramática".

O maior contribuidor fiscal

A terminar e já sobre o peso deste sector na economia nacional, a ACAP recordou, citando dados de 2021, que a indústria automóvel gerou um volume de negócios de 31 mil milhões de euros, tendo sido responsável por 12,6% das exportações nacionais, assim como por 150 mil postos de trabalho, distribuídos por 32,7 mil empresas de alguma forma ligadas ao Automóvel. Sendo que, em termos fiscais, foi mesmo o principal contribuidor, com 8,9 mil milhões de euros, 17,1% da totalidade das receitas fiscais do Estado nesse ano.

O sector automóvel foi o maior contribuidor em termos de receitas fiscais, em 2021
O sector automóvel foi o maior contribuidor em termos de receitas fiscais, em 2021