O Presidente americano promete elevar o nível da guerra comercial no sector automóvel, e anunciou que está prestes a ficar concluído o estudo que poderá determinar o aumento, para valores oito vezes superiores aos atuais, das tarifas de importação para carros europeus com destino aos Estados Unidos. A Comissão Europeia já disse que a resposta deste lado do Atlântico será igual… Apesar da Harley-Davidson estar de momento no 'olho do furacão' após ter deslocalizado parte da produção para fora dos Estados Unidos, de forma a escapar ao diferendo entre Estados Unidos e União Europeia, os principais protagonistas da contenda podem brevemente ter quatro rodas ao invés de apenas duas. Isto porque está, aparentemente, cada vez mais próximo o aumento das taxas de importação de carros europeus rumo aos Estados Unidos para os 20%, o que significa nova escalada na guerra comercial no sector automóvel. A ameaça tinha sido feita por Trump na última semana, com a Comissão Europeia a ameaçar responder na mesma moeda, e agora a Casa Branca 'volta à carga' e diz que o estudo relativo a estas medidas está praticamente concluído. Donald Trump veio dizer que "estamos a finalizar o estudo de taxas para os carros da União Europeia, através do qual eles têm vindo há muito tempo a ganhar vantagem sob a forma de barreiras e tarifas comerciais. A conclusão será que tudo será nivelado – e não vai levar muito tempo". A verdade é que, se analisarmos de forma isolada o sector automóvel, o excêntrico líder americano até tem razão, pois os carros europeus pagam 2,5% de taxa de importação contra os 10% que são aplicados em sentido oposto. O que já antes tinha dado origem a declarações do líder americano e resultou no caso que agora envolve a Harley-Davidson. Mas a diferença atual não justifica, aparentemente, os 20% desejados agora, que são oito vezes mais do que o atual. Há que referir, além disso, que estes acordos não costumam ser negociados apenas para um produto, e se é verdade que os automóveis europeus beneficiam de condições vantajosas, certamente em outros bens que fazem caminho inverso a situação é a oposta, com benefício para os americanos. Há ainda que referir que no caso das pick-ups a situação é diferente, e é aplicada uma taxa de 25% nas alfandegas americanas. A verdade é que os impactos da guerra comercial no sector automóvel e outras áreas, iniciada por Donald Trump com a Europa e a China, já se fazem sentir nas marcas. No início deste mês, por exemplo, a Daimler reconheceu que esta situação vai ter reflexos nas suas contas de 2018. E já após a mais recente ameaça de Trump, a Volvo veio informar que a alteração do atual acordo pode ter impacto na contratação de funcionários para a sua primeira fábrica americana. Recordamos que este será o local de produção do novo Volvo S60, mas que provavelmente pode ver deslocalizada parte da produção para outro local caso a sua importação para a Europa seja afetada por taxas aduaneiras mais altas, o que iria obrigar a aumentar o seu preço no mercado. Outra situação que pode ajudar a explicar esta posição sempre belicista e protecionista do Presidente americano relativamente ao sector automóvel pode ser a forma como algumas das suas primeiras medidas no cargo foram aceites. Logo que chegou à Casa Branca, também ameaçou com taxas para os carros importados de fábricas no México, indicando que ao aproveitarem os custos de produção mais baixos as marcas estavam a "roubar" postos de trabalho nos Estados Unidos. Nessa altura a Ford, por exemplo, recuou na intenção de deslocalizar parte da produção para sul da fronteira americana. Mas agora a situação é diferente, e tendo em conta o peso que o sector automóvel tem em países como a Alemanha, e até em toda a União Europeia, é possível que a resistência e reação às medidas de Trump seja maior.