Tesla Model Y Performance. Os riscos de ser diferente

Elétrico mais vendido na Europa em 2022, o Model Y é também o mais recente exemplo da forma diferente como a Tesla encara o Automóvel.

Elétrico mais vendido na Europa em 2022, o Model Y é também o mais recente exemplo da forma diferente como a Tesla encara o Automóvel. O que, diga-se, não significa, mesmo nesta versão Performance com mais sex-appeal, apenas coisas boas...

Num mundo em transformação acelerada, os automóveis elétricos têm vindo a ser apresentados, na última década, como a melhor solução para o futuro. Desde logo, devido à sustentabilidade que asseguram, enquanto forma de mobilidade individual e particular, e sem que isso signifique abdicar da maior parte dos argumentos já afirmados pelos veículos a combustão.

Por outro lado e graças, também, a uma maior simplificação da componente técnica, a Mobilidade Elétrica acabou trazendo novos actores para o sector. A maior parte deles, jovens empresas sem o lastro ou, também, a experiência dos fabricantes tradicionais, embora e igualmente, com o objectivo assumido e declarado de oferecerem uma nova abordagem ao Automóvel.

Nesta nova corrente, a Tesla tem sido, sem dúvida, o "jovem lobo" que mais rapidamente se afirmou com um fabricante capaz de fazer diferente, conforme, aliás, demonstra, naquele que é a sua mais recente proposta, o Model Y. E que, embora um membro assumido e declarado dos hoje em dia muito apreciados SUV e crossovers, não deixa de afirmar, inclusivamente nos mais pequenos pormenores, essa mesma vontade de ser diferente; ainda que e na nossa modesta opinião, retirada do ensaio que aqui relatamos, nem sempre com os melhores resultados...

Ah, o espaço!…

De resto e se em termos de estética exterior, este Model Y poucas novidades traz face à restante família Tesla, a não ser e por se tratar da versão mais desportiva Performance, umas inesperadas jantes de 21" com pneus 255/55 à frente e 275/55 atrás, acrescidas de pinças de travão ao melhor estilo desportivo (vermelhas, pois então!...), já no habitáculo, ao qual se acede accionando uma cada vez mais vulgarizadas, ainda que não propriamente práticas, pegas retrácteis (mas, para isso, é preciso ter connosco o cartão que destranca o carro... ou, então, a app da marca descarregada no smartphone e que permite destrancar automaticamente as portas), torna-se possível disfrutar da óptima habitabilidade proporcionada por um automóvel com 4,87 metros de comprimento e 1,9 m de largura. E no qual não faltam sequer três três verdadeiros lugares atrás, nos quais se torna possível, até mesmo trocar a perna!

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Mais... estranho, mesmo para quem já tenha conduzido um Tesla, é, contudo, o ambiente guardado para os passageiros da frente, onde, a par da fácil constatação da evolução em aspectos como a qualidade dos materiais ou até da melhor construção, só existe, além de um volante de óptima pega e com duas "rodinhas" apenas, e uma só haste na coluna de direcção para engrenar o sentido da marcha, um único ecrã - o enorme tablet de 15" disposto na horizontal e ao centro do tablier, no qual está centrado praticamente tudo o que são funcionalidades neste Model Y!

Quer accionar os limpa pára-brisas? Então, primeiro vai ter de os ligar no tablet, podendo também seleccionar manualmente a velocidade de atuação; quer ligar os quatro piscas? Então, vai ter de ir ao tablet e ligá-los porque não há botão físico e independente para tal; quer saber a que velocidade está a circula? Só mesmo desviando olhar para o tablet, já que não existe qualquer painel de instrumentos, por mais pequeno que seja; quer regular o excelente banco em couro? É isso mesmo... no tablet!

Aliás e já que falamos "no tablet", importa também dizer que, com esta concentração de funções e tecnologias "no dito", a Tesla acabou por complicar grandemente a tarefa a quem se senta pela primeira vez num Model Y. Já que se vê obrigado a, ou reservar tempo para, ainda antes de disfrutar em pleno do seu veículo, tentar descobrir onde está efectivamente tudo (a quantidade de menus, sub-menus e opções à disposição é imensa!...), ou, então, enveredar pela solução mais usual, que é a da tentativa/erro/volta-atrás, sempre que necessita de recorrer a uma nova funcionalidade!

De resto e ainda sem conseguirmos perceber o porquê a necessidade de levar tão além a vontade de ser diferente, acabámos por encontrar respaldo em alguns aspectos que já eram e continuam a ser valorizados em qualquer automóvel, como é o caso da posição de condução, confortável ainda que um pouco mais alta como já é expectável num crossover, além de com uma visibilidade traseira diminuta. Esta última, uma característica que não chega a ser problema, já que o sistema de câmaras 360° tudo resolve e facilita.

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Igualmente em bom plano, os vários espaços de arrumação, a juntar às duas bases para carregamento wireless de smartphones, mas também a uma bagageira cuja capacidade pode variar entre os 561 litros, com acesso amplo através de um generoso portão de accionamento elétrico (a partir do interior, a abertura é comandada... no tablet), e os 2.041 litros, já com as costas dos bancos traseiros, de inclinação ajustável, totalmente rebatidas 60:40. Algo que, mais uma vez, também pode ser feito no ecrã central, ou, então, accionando os botões físicos colocados na lateral da bagageira. E que, a par do fundo alçapão por baixo do piso falso, da estreante chapeleira articulável, ou até mesmo do segundo alçapão de 117 litros que está sob o capot dianteiro (bom para arrumar os cabos de carregamento...), são bons exemplos de soluções funcionais...

Com 480 cv... e 3,7s nos 0 aos 100 km/h

Sobre a unidade que tivemos oportunidade de ensaiar, tratava-se, conforme já foi referido, da versão mais potente e desportiva do Model Y, denominada Performance, e que se destaca por contar com um trem de força composto por dois motores elétricos a atuarem sobre ambos os eixos (tracção integral, portanto...) e a garantirem uma potência combinada de 480 cv, além de um binário máximo de 639 Nm. Tudo isto, com o apoio daquela que é a bateria de maior capacidade à disposição no modelo, de 75 kW úteis, garantia, entre outros predicados, de uma autonomia anunciada de 514 quilómetros.

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Transpostos para a condução, estes argumentos acabam resultando numa capacidade de aceleração e recuperação verdadeiramente impetuosas, em particular, quando passada a aceleração do modo 'Relaxado' para 'Desportivo', o que também ajuda a concretizar os 3,7 segundos que este Tesla Model Y Performance anuncia como aceleração dos 0 aos 100 km/h.

Ao mesmo tempo e sempre que tiramos o pé do acelerador, é perceptível o esforço do sistema para recuperar alguma da energia perdida, podendo o condutor seleccionar a intensidade da intervenção, da mesma forma (no tablet, portanto...) que opta por qualquer um dos outros modos de condução à disposição. Seja ele a 'Assistência ao Todo-o-Terreno', opção que, apesar da menor altura ao solo (140 mm, contra 167 mm) do Model Y, procura optimizar o desempenho do controlo de tracção quando em pisos mais soltos que o alcatrão, ou o "Arranque com Patinagem", pensado para ajudar a soltar o carro na neve, na areia ou na lama.

Já em condições ditas normais, ou seja, em estradas alcatroadas, sobressai a boa eficácia do conjunto, mesmo sem esconder a maior altura e peso (cerca de duas toneladas), além de um certo beliscar do conforto, a partir do momento em que o piso se torna mais irregular. Sendo possível perceber, também, uma direcção que, embora pesada, falha na capacidade de comunicação ao condutor, ficando aquém, por exemplo, do convencimento proporcionado pelo sistema de travagem...

Quanto a consumos, uma média registada 19,4 kWh/100 km, valor ligeiramente acima dos 19 kWh/100 km prometidos pela marca norte-americana, e que também significa que a promessa de mais de 500 quilómetros, poderá não ser tão facilmente realizável. Sendo que, uma vez entrados na chamada "zona vermelha", que nos deixa mais próximos de poder ficarmos sem energia, é, sem dúvida, bom, poder ter por perto um Supercharger da marca, no qual basta chegar perto, deixar a portinhola do carro abrir-se sozinha, colocar a ficha... e, em apenas 15 minutos, garantir energia suficiente para mais cerca de 250 km!

Pelo contrário e já em postos lentos de apenas 11 kW, o melhor, mesmo, é contar com 8,6 horas para repor a totalidade da capacidade da bateria.

Pelo que o veredicto é…

Ainda hoje apontada como referência para grande parte dos elétricos que todos os dias vão chegando ao mercado e, principalmente, para aqueles que, tal como a própria Tesla, nascem sem qualquer ligação ao Automóvel tradicional, a verdade é que o fabricante californiano continua a fazer as coisas de forma diferente. À sua maneira.

Apesar disso, valorize-se o facto de não abdicar de alguns predicados desde sempre valorizados no Automóvel, como é o caso da habitabilidade e até do conforto, aos quais acresce, depois, outras soluções que acabam sendo um pouco como o design - ou se amam, ou se odeiam.

Tratando-se de um crossover compacto, cujo preço ultrapassa, nesta versão de maior sex-appeal, os 70 mil euros, o maior problema é que a aceitação, nomeadamente, dos excessos de afirmação da diferença, tende a ser menor. Podendo, mesmo, levar ao nicho....

Tesla Model Y Performance

Preço 71.000 euros

Motor Elétrico (2)
Bateria/Capacidade Iões de lítio 75 kWh úteis
Potência combinada 353 kW (480 cv)
Binário combinado 639 Nm
Transmissão Auto, 1 vel.
Tracção Integral
Peso 1.995 kg
Comp./Larg./Alt. 4,75/1,92/1,62 m
Dist. entre eixos 2,89 m
Mala 561 l – 2.041 l
Desempenho 3,7 s 0-100 km/h; 250 km/h Vel. Max.
Consumo 19 (19,4*) kW/H
Autonomia 514 km
Emissões CO2 0 g/km
Tempo de carga 22 min (80% – 250 kW DC); 7h (11 kW); 11h (7,4 kW); e 33h (tomada doméstica)

* Medições TURBO

GOSTÁMOS

– Prestações
– Habitabilidade
– Bagageira

NÃO GOSTÁMOS

– Preço
– Complexidade do sistema operativo
– Conforto em piso irregular