O caso é curioso: o fabricante automóvel Tesla está a celebrar o primeiro ano de lucros - 2020 -, na sua história. Facto que se torna ainda mais surpreendente, porque, ao contrário do que seria de esperar, este momento histórico não resultou daquela que é a atividade principal da empresa, a venda de automóveis, mas da venda de créditos de carbono a outros construtores!
Construtor automóvel norte-americano, a Tesla acaba de registar, pela primeira vez na sua existência, lucros. Mais concretamente, durante o último ano de 2020.
Contudo e ao contrário do que seria de esperar de um construtor automóvel, este feito acabou por ter origem, não na venda de automóveis, no lançamento de um novo modelo de sucesso, no corte dos custos, ou até mesmo numa agressiva campanha de comercialização, mas, sim, numa "atividade de negócio" nova e acessória - a venda de créditos de carbono, que permitem compensar as emissões, a outros fabricantes automóveis com gamas baseadas nos motores de combustão.
Assim e numa altura em praticamente todos os construtores automóveis se vêem a braços com a necessidade de acomodar o excesso de emissões que os colocam à mercê de pesadas multas, não só na União Europeia, como também nos EUA, a Tesla aproveitou o facto de ser um fabricante de modelos exclusivamente elétrico, para fazer dinheiro com os seus créditos relacionados com as emissões de CO2. Atividade lhe garantiu, pela primeira vez na sua existência, chegar ao final de um ano fiscal, com lucros!
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Com lucros de 100%
No caso específico dos EUA, terão sido um total de 11 estados, em 50, a aumentar os níveis de exigência em termos de metas ambientais, anti-emissões, também como forma de obrigar os construtores automóveis tradicionais a virarem-se para os veículos elétricos.
No entanto e porque a Lei parece andar mais depressa que a conversão tecnológica, muitos dos fabricantes tradicionais viram-se obrigados a comprar créditos junto de outros construtores em situação muito mais desafogada, de forma a cumprirem o imposto. Já esses fabricantes, como é o caso da Tesla, "descobriram" uma nova fonte de rendimento; e que, ainda por cima, garante um lucro de 100%!
Segundo dados avançados pela norte-americana CNN, a companhia automóvel de Elon Musk terá encaixado, ao longo dos últimos três anos, qualquer coisa como 3,3 mil milhões de dólares - qualquer coisa como 2,7 mil milhões de euros - com a venda de créditos, 1,6 mil milhões (1,3 mil milhões de euros), só em 2020. Embora o CFO da Tesla, Zackary Kirkhorn, avise, desde já, que a companhia não pode basear a sua atividade neste negócio.
Venda de automóveis continua no vermelho
No entanto, a realidade é que, sem a venda de créditos, a Tesla teria fechado 2020 como mais um ano de perdas, já que o resultado líquido proveniente da venda de automóveis, não foram além dos 721 milhões de dólares, pouco mais de 598 milhões de euros.
Ainda assim, os responsáveis da Tesla não deixam de assegurar que, ao contrário do que os números relativos a 2020 anunciam, o construtor não precisa de vender créditos de emissões, para ser rentável. Apontando, mesmo, o crescimento nos resultados, antes de impostos, para 5,4 mil milhões de euros, como uma justificação para esta certeza.