Super coupés unidos pela potência na casa dos 400 cv, o BMW M2 Competition é "O" M2, enquanto o Mercedes C 43 AMG é o patamar de acesso ao V8 do C 63 AMG. Posicionamentos distintos que se complementam de forma inesperada.
Por força dos invernos rigorosos, os proprietários de automóveis do Norte da Europa são forçados a realizar trocas de pneus sazonais. Misturas de borracha e piso para verão e inverno alternam ao ritmo imposto por calendários legais.
Protegidos de despesas adicionais com pneus pelo clima temperado do Sul, elevámos a parada. Partindo do novo BMW M2 Competition imaginámos um cenário onde, em vez de apenas pneus, fosse conveniente ter um desportivo para a estação seca e outro para a húmida. Super coupés para todas as estações.
Diferentes mas iguais
A diferença de tamanho, o BMW é 23 cm mais curto, não os posiciona como concorrentes óbvios. No entanto, quando se procura um coupé com motor de três litros, seis cilindros e potência na casa dos 400 cv, o Mercedes-AMG C 43 4Matic apresenta-se como o candidato ideal. Com 390 cv e um preço base de 85 050 €, o modelo das imagens chega aos 104 258 €, é como uma introdução à AMG para o Classe C. Para o nível avançado, a Mercedes-AMG reserva o V8 4.0 com 476 cv na variante C 63 ou 510 cv na versão C 63 S.
Sem receio de cair em lugares comuns, porque independentemente da qualidade das mãos que seguram o volante ou da precisão do pé que trabalha o acelerador, quatro rodas são sempre mais eficazes do que duas a colocar o binário no chão, o desportivo de verão é o BMW M2 Competition. Com 410 cv e 550 Nm de binário despejados no eixo traseiro, está tão disponível para acelerar até aos 100 km/h em 4,2 segundos, como para rabiscar o alcatrão de qualquer curva. Ou reta.
Fumo branco
Pleno de dramatismo, o M2 Competition é daqueles super coupés que não se coíbem de marcar os arranques e as curvas com sólidas linhas de borracha, que transferem dos pneus para o piso, ao mesmo tempo que assinalam o momento com plumas de fumo branco. Momentos de puro prazer, prolongados pela ação do autoblocante com controlo eletrónico, que convidam a descobrir a vida para além do cronómetro e das voltas limpas. Convite à diversão com selo de qualidade M e a, cada vez mais rara, possibilidade de trabalhar com uma caixa manual. Tem seis velocidades e dá corpo à versão de acesso, por 76 500 €. Com esta caixa de dupla embraiagem M com Drivelogic e sete velocidades entre a habitual mão cheia de opções, o preço final sobe para os 93 534 €.
Mais discreto, o Mercedes-AMG C 43 4Matic Coupé serve-se das maiores dimensões para apresentar uma carroçaria mais bem proporcionada. A elegância das linhas não deixa adivinhar a raça do AMG que encerram. Aumentando o tamanho e a pressão dos turbos, posicionados no exterior do V, o V6 de três litros ganhou 23 cv. Se a potência subiu para os 390 cv, o binário manteve-se nuns saudáveis 520 Nm. Valores suficientes para, em conjunto com a tração integral 4Matic, lançarem o C 43 AMG até aos 100 km/h em 4,7 segundos.
AMG Speedshift MCT 9G
Sem acesso às transmissões AMG Speedshift MCT 9 G de dupla embraiagem do C 63, o C 43 AMG trabalha em exclusivo com a caixa automática 9G-Tronic. O conversor de binário é lento e mantém a tradição de reduzir quando lhe apetece e não quando se pressiona a patilha esquerda do volante. Já se sabe que é feitio e não defeito, pelo que se perdoa esquecendo as patilhas em favor do modo Auto.
Afinado para entregar 69% do binário ao eixo traseiro, o sistema de tração integral 4Matic promete. E cumpre. É rápido e eficaz como poucos, sem precisar de bloqueio de diferencial. Parece é não saber que há vida para além do cronómetro e das voltas limpas.
Se estivéssemos a comparar um BMW 218d com um Mercedes C 200 d Coupé podíamos dedicar algum tempo a perceber qual das filas traseiras é a mais exígua ou aquela cujo acesso exige maior aptidão física. Podíamos também discorrer sobre a diferença de 10 litros entre a capacidade das duas bagageiras. Felizmente estamos a escrever sobre super coupés como BMW M2 e o Mercedes C 43 AMG, desportivos onde tudo o que fica para trás do banco do condutor não interessa.
Focados na estrada
Baixas, bem enquadradas e plenas de regulações, as posições de condução são idênticas ou não estivéssemos a escrever sobres dois super coupés.
Aprofundado o detalhe, o volante do BMW pode ficar ligeiramente mais baixo e vertical. Para compensar, o do Mercedes é mais fino e tem uma pega perfeita.
De um modo geral, o C 43 AMG apresenta um interior mais sofisticado, com um ecrã de grandes dimensões ao centro do tablier e outro no lugar do painel de instrumentos. As múltiplas opções de personalização são um bom entretém para os momentos de trânsito congestionado. Por oposição, o painel de instrumentos analógico do M2 parece da velha guarda.
Há modos de condução para afinar os super coupés ao gosto do condutor e em função das condições do piso. Nada de novo, por isso concentrámo-nos nos extremos. Tudo no conforto ou tudo ao ataque. Os ganhos dos modos intermédios são difíceis de quantificar em estrada, ao mesmo tempo que os benefícios das afinações menos agressivas de motor e caixa na autonomia são notórios.
Ligeira vantagem para o BMW neste particular, por herdar do M3/M4 os botões programáveis do volante. Dois toques, porque é preciso confirmar a desativação do controlo de estabilidade, bastam para passar do Efficiency ao Sport Plus.
Passagens no limite
Mais tenso, logo desde a postura, com a via traseira larga e a frente afilada, como uma faca, o M2 não demora a mostrar ao que vem. Sempre nervoso, ganha alguma descontração sob a influência da programação eficiente do botão M2, para se tornar numa máquina de precisão com dois toques no M1.
Numa rara demonstração de comunicação e interatividade, a direção segue escrupulosamente o camber da estrada. Onde o modo Comfort passa a direito, o Sport Plus exige pequenas correções. E atenção, porque com a eletrónica desligada a traseira não pára quieta. Escorrega ao sabor das curvas animada por uma relação peso/potência de apenas 3,8 kg para cada cavalo.
As passagens de caixa no limite do red line são recompensadas com o pontapé resultante da próxima aceleração até ao limite. É preciso manter o regime muito baixo para encontrar o ligeiro atraso do turbo. Em condução urbana, talvez. De resto, o motor é um exemplo de entrega e capacidade de modulação no limite.
Com o chassis ao nível do bloco de seis cilindros, o M2 transforma-se numa extensão do condutor. A facilidade como posiciona a frente chega a ser desconcertante, tal como a rapidez com que todo o resto a segue.
A linha de comunicação direta com as rodas permite identificar a capacidade de aderência de cada pneu e tratar o acelerador em concordância. A resposta é imediata mas, apesar da proximidade ao M3/M4, menos agressiva. Não há aquela sensação de seguir no fio da navalha, de que a qualquer momento a coisa pode correr muito mal. Pelo contrário, há uma sensação de controlo total, reforçada pela inesgotável capacidade do sistema de travagem M opcional.
Ligação direta
Saltar entre os modos Comfort e Sport+ do C 43 AMG dá um pouco mais de trabalho do que no BMW, mas não se pode dizer que seja difícil. É diferente, tal como a recompensa associada a cada um. Sempre mais descontraído, em Comfort assume uma postura mais próxima de um GT do que de um AMG puro e duro. Essa vertente mais dinâmica só se encontra no Sport+. Liberta-se o escape e todo o C 43 AMG se torna mais reativo sem, no entanto, perder o ligeiro filtro que teima em se instalar entre o condutor e a estrada.
Mais pesada e com maior tendência para arrastar, a frente do C 43 AMG não é tão fácil de posicionar. Sem a ligação direta à estrada, parece flutuar logo acima do alcatrão. Não vai descontrolado, pelo contrário. Sabe-se sempre para onde e vai e é bastante fácil, até mais do que o M2, de jogar com as transferências de massas. Ajustes de volante e acelerador que tornam o C 43 AMG mais permissivo nos limites. Desde que se conte com o aquecimento rápido dos travões, o C 43 AMG dificilmente se vira ao condutor. O M2 também não se vira à mão que lhe segura o volante, mas não lhe dá tanta margem. Há um desafio velado e constante aos nossos limites e é isso que o torna tão viciante.
Pleno direito
Não é justo classificar o C 43 como um AMG Lite. Afinal também é capaz de produzir fumo nos arranques e deixar marcas de borracha nas curvas. A diferença está no empenho que exige para fazer uma coisa que é apenas natural ao C 63 AMG.
É por esta sensação de equilíbrio e neutralidade de reações que escolhemos o Mercedes-AMG C 43 4Matic Coupé para desportivo de inverno. Até é a opção mais confortável para a peregrinação anual à neve.
Para desportivo sem amortecimento ativo, o BMW M2 Competition nem pode ser considerado desconfortável. Na verdade anda tão perto da perfeição, que nos leva a corromper o ponto de partida deste trabalho e trocar o desportivo de inverno por um curso de condução à chuva.