Afirmar-se como referência dinâmica dependendo de um motor de dois litros, quatro cilindros e menos de 300 cv não é fácil. Stelvio vs Macan. O confronto inevitável promete ser renhido. O novo Porsche Macan de 245 cv aposta tudo na defesa do título perante os 280 cv do Alfa Romeo Stelvio
Encerrado o capítulo diesel, a Porsche aposta num motor de dois litros e quatro cilindros para a base da gama Macan.
Com turbo, injeção direta de gasolina, abertura variável de válvulas e filtro de partículas, o bloco de 1984 cc desenvolve um total de 245 cv e 370 Nm de binário.
Um motor muito redondo e silencioso que, em combinação com a caixa PDK de sete velocidades e o Pacote Sport Chrono (1175 €), é capaz de lançar o Macan até aos 100 km/h em 6,5 segundos.
É tão equilibrado, com consumos na ordem dos 9 l/100 km desde que a velocidade não ultrapasse os 100 km/h, que levanta a dúvida sobre a validade do investimento adicional de 17 mil euros para chegar aos 354 cv do V6 de três litros do Macan S…
Na conta certa
Quem é que estamos a tentar enganar? Estamos a falar de automóveis desportivos e não de meros meios de transporte, por isso queremos sempre mais! Mais cilindros, mais cavalos, GTS, Turbo, tudo aquilo a que temos direito… e dinheiro para comprar. O que nos faz descer à base e ao motor de dois litros neste confronto Stelvio vs Macan.
Se 80 mil euros garantem o sonho de ter um Macan, os 102 mil euros deste Porsche Verde Mamba (923 €) chegam para comprar um Macan S e ainda sobram 5000 € para extras. É uma conta a fazer, especialmente quando a Alfa Romeo propõe o Stelvio a partir dos 63 mil euros.
É verdade que se trata da versão de 200 cv do motor de dois litros e quatro cilindros a gasolina, bom para levar os miúdos à escola. No entanto, por 67 mil euros é possível adquirir a versão de 280 cv do mesmo bloco sobrealimentado.
Junte-se o nível de equipamento B-Tech e mais alguns extras como o Azul Mizano (1000 €) e o preço sobe para os 76 mil euros.
Esta é a versão mais potente
Não serve este preâmbulo para defender que optar pela versão base do Porsche Macan equivale a comprar "gato por lebre". Pelo contrário. Neste Stelvio vs Macan, estamos perante duas belas "lebres", sendo a alemã ligeiramente mais pesada, logo menos ágil, que a italiana.
Leveza italiana
Mais potente e com menos 135 kg, o que equivale a dizer que cada cavalo tem de mover 6,2 kg contra 7,6 kg do Macan, o Stelvio dispara até aos 100 km/h em 5,7 segundos.
Com a caixa automática de oito velocidades no modo económico, o Alfa Romeo consegue ser ligeiramente mais económico que o Porsche.
Mas não é para andar devagar que lhe interessa ser mais leve. Não foi para isso que criámos o confronto Stelvio vs Macan.
Depois de deixar o Macan para trás no arranque, o Stelvio dilata a vantagem nas zonas mais encadeadas. Num território onde normalmente costuma brilhar, o Porsche ressente-se da falta de alma do motor.
Não é lento, mas fica muito aquém das capacidades do chassis. O Macan curva bem, não se desequilibra com travagens tardias e suporta acelerações laterais elevadas. O problema está nas recuperações de velocidade, mais mastigadas do que é hábito na Porsche. Condição que acaba por limitar o potencial de diversão do Macan.
Com este motor, não é fácil puxar pelo eixo traseiro. Sem força para sair sozinho, mexe-se com alguma ajuda do volante e até do travão, para deslocar o peso para a frente.
Nestas condições, à boleia do movimento de rotação, o eixo traseiro ganha alguma dinâmica, um momento tão ambicionado como breve.
Tração integral permanente
E no entanto, apesar de não desligar a eletrónica por completo, quando chega o momento da diversão pura, esta é muito mais permissiva que a do Alfa Romeo.
Ambos têm tração integral permanente, com foco dinâmico e prevalência do eixo traseiro, mas é o Porsche que melhor uso faz dessa configuração.
Depois de ameaçar a dinâmica das versões mais potentes da anterior geração do Macan com o V6 2.9 Biturbo de 510 cv, o Stelvio volta a assombrar o Porsche. Desta vez começa pela base.
Associado a uma caixa automática de relações mais curtas, ainda que ligeiramente menos interativa que a PDK de dupla embraiagem, o motor de dois litros e 280 cv sobe melhor e é mais fácil de dosear no limite que o do Macan. Pode não passar muito para além das 5000 rpm, mas até lá mantém a capacidade de reação, enquanto o Porsche perde o fôlego pouco depois das 4000 rpm.
Dança sobre as estradas mais retorcidas com um nervosismo saudável. Pode ser certo e eficaz, merecedor de nota máxima para a técnica, ou simplesmente divertido, puxando pela criatividade do condutor.
Sabemos que o Macan pode ser assim, mas não com este motor. A falta de resposta no limite, não deixa grande margem para improvisos. O melhor é apostar na eficácia, sem abusar dos travões, que aquecem mais depressa que os do Alfa Romeo.
Suspensão adaptativa
Trocando a serra por ambientes de condução mais mundanos, os papéis invertem-se. Não é uma alteração radical, apenas o suficiente para começar a justificar a diferença de preço. Nota-se no pisar, mais sofisticado, fruto do amortecimento ativo PASM.
Sem a subtileza do Porsche na abordagem a juntas de dilatação e raízes, o Alfa Romeo pode surpreender os ocupantes com pancadas bruscas transmitidas à direção e ao volante. Esta tendência para pisar ligeiramente mais firme mantém-se no empedrado e na cidade em geral, sem que possa ser considerado desconfortável.
Com o comprimento a rondar os 4,70 metros e a distância entre eixos alinhada pelos 2,80 metros, Stelvio e Macan equivalem-se no espaço que ocupam na rua e naquele que oferecem no interior.
Mais direta, a direção do Alfa Romeo não é tão agradável de utilizar em espaços apertados como a do Porsche.
Atrás do volante, a facilidade de ajustes e a visibilidade equivalem-se. O conforto dos bancos também está equilibrado, sendo que o apoio lateral do banco desportivo do Stelvio pode invadir o espaço dos cotovelos dos condutores que gostem de ajustar o volante para a posição mais baixa.
Qualificar estilos de design é quase tão arriscado como discutir política ou futebol, por isso vamos dizer apenas que Stelvio vs Macan têm abordagens distintas.
A apresentação mais sofisticada do Porsche contribui para aumentar a qualidade percetível do Macan. A passagem da mão pelas arestas dos seletores das caixas de velocidades confirma na prática esta sensação.
Atenção ao detalhe
O Stelvio é menos cuidado e, para além de ter um ecrã mais pequeno, este tem menos possibilidades de personalização.
Também não tem aplicações específicas para gravar percursos fora de estrada, sobrepor os dados recolhidos a mapas ou vídeos gravados pelo smartphone e posteriormente publicá-los nas redes sociais como o Macan.
São pormenores como estes que fazem com que a versão base do Porsche Macan seja mais cara que o mais potente dos Alfa Romeo Stelvio "normais". O Quadrifoglio pertence a um campeonato diferente. É um posicionamento difícil de defender apenas com a qualidade dos materiais e o pisar mais refinado. É claro que é um Porsche e, ao fim de alguns anos, quando for altura de o trocar, é capaz de valer mais do que o Alfa Romeo.
Mas estes automóveis, apesar de serem bons, não se qualificam como investimento, devendo por isso ser encarados no presente.
No presente, o Alfa Romeo Stelvio 2.0 TB de 280 cv é uma proposta mais convincente que o Porsche Macan de 245 cv.
Comparativo publicado na íntegra na Turbo 454