Nos últimos anos uma fonte de rendimento importante e garantida para a Tesla, o grupo Stellantis acaba de anunciar que não comprará mais créditos de carbono à empresa norte-americana. Notícia que, diga-se, ameaça tornar-se um problema gigante para a companhia de Elon Musk, que continua a perder dinheiro com os seus automóveis...
Vista pelo público como uma espécie de marca diferenciadora e até estatutária, no domínio dos veículos exclusivamente elétricos, a Tesla continua, no entanto, incapaz de conseguir resultados positivos com os automóveis que produz e comercializa.
No entanto e, de certa forma, ajudada pelo combate dos governos às emissões de CO2, a empresa fundada por Elon Musk encontrou nos créditos de carbono, e na sua venda a construtores automóveis cuja média de emissões ultrapassa o legalmente estabelecido, uma forma de ajudar a atenuar os prejuízos.
Entre os principais interessados, ao longo dos últimos anos, nos créditos a que Tesla tinha direito, mas dos quais não necessitava, esteve, durante os últimos anos, o grupo ítalo-americano Fiat Chrysler Automobiles. Que, no entanto e com a fusão com a francesa PSA, já bem mais avançada neste esforço, anuncia agora, enquanto parte do novo grupo automóvel Stellantis, que não voltará a necessitar de comprar créditos ao fabricante de Palo Alto.
Mais do que uma boa notícia para as marcas do grupo liderado pelo português Carlos Tavares, a decisão agora anunciada é uma péssima notícia para a empresa de Elon Musk. A qual continua sem conseguir compensar, com o encaixe financeiro da venda dos seus carros, os custos de produção e comercialização dos seus automóveis.
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Numa entrevista ao jornal francês Le Point, foi o próprio Tavares a garantir que, graças à tecnologia desenvolvida pela PSA, as marcas da Stellantis serão capazes de ficar abaixo dos limites de CO2 estabelecidos pela União Europeia, já a partir deste ano. Garantia que deixa a FCA a salvo de ter de gastar dinheiro na compra de créditos de carbono, por exemplo, à Tesla.
De resto e segundo avança a Automotive News, só entre 2019 e 2021, a FCA gastou cerca de 2,4 mil milhões de dólares (quase dois mil milhões de euros) na compra de créditos à Tesla, permitindo a esta anunciar, pela primeira vez, lucros na facturação. Encaixe, proveniente exclusivamente da venda de créditos de carbono, que terá sido, segundo revelou a própria marca norte-americana, de 2.365 mil milhões de dólares (pouco mais de 1.966 mil milhões de euros).
Contudo e tomando ainda como referência os resultados relativos ao período entre o terceiro quadrimestre de 2019 e o primeiro quadrimestre de 2021, números mais uma vez divulgados pela empresa de Elon Musk, os resultados líquidos da Tesla, após descontados os custos, não terão ido além dos 1.404 mil milhões de dólares (pouco mais de 1.167 mil milhões de euros). O que leva a concluir que a marca de elétricos gastou cerca de mil milhões de dólares (mais de 831 milhões de euros) desses créditos, em despesas com o seu negócio automóvel, o que também significa que a Tesla continua a perder dinheiro com o fabrico e comercialização dos seus veículos.
Contudo, um porta-voz da Stellantis também revelou que o grupo está, neste momento, a debater com a Tesla as implicações financeiras desta decisão, muito possivelmente, também como forma de adequar à nova realidade um acordo que, segundo a Automotive News, as duas companhias terão celebrado em Abril de 2019 e ao abrigo do qual a FCA garantia a compra desses créditos. Algo que, no entanto, a empresa ítalo-americana já não necessita, mas que e numa perspectiva de todo o grupo Stellantis, pode, inclusivamente, "transformar-se" noutro tipo de bens.
Quanto à Tesla, também poderá tentar novos acordos com outros construtores, até porque e segundo defende um analista do Credit Suisse, Dan Levy, a procura por créditos de carbono, por parte dos fabricantes automóveis mais tradicionais, promete continuar a crescer, em 2021. Embora não garanta que esta procura venha a ser tão elevada quanto era da parte da FCA...