A reparação de plásticos tornou-se numa operação habitual na oficina, adquirindo uma relevância cada vez maior.
O avanço tecnológico dos materiais, dos produtos e dos equipamentos utilizados na reparação de plásticos, assim como um maior conhecimento dos profissionais sobre a aplicação das diferentes técnicas de reparação permite que os resultados obtidos sejam excelentes.
Para a recuperação das peças de plástico da carroçaria utilizam-se várias técnicas de reparação como a colagem através de adesivos, a soldadura com adição de material, a inserção de grampos metálicos ou o desamolgamento com aplicação de calor e pressão.
Com estas técnicas, por vezes combinadas entre elas, conseguem-se excelentes resultados que conferem qualidade e garantia à reparação. Cada uma delas apresenta diferentes vantagens a destacar que devem ser tidas em conta para a escolha da técnica de reparação.
Identificação de plásticos
Os materiais plásticos utilizados no fabrico de peças da carroçaria, em geral, podem ser classificados em três grandes grupos em função do seu comportamento perante o aquecimento.
Os termoplásticos que se caracterizam por permitirem o seu aquecimento até à temperatura de soldadura e o seu arrefecimento sem se deteriorarem, os termoestáveis que não admitem o aquecimento sem se deteriorarem e os plásticos compostos ou compósitos que consistem em combinações dos plásticos anteriores reforçados com cargas de outros materiais como vidro, kevlar ou carbono e que também não admitem o aquecimento sem se deteriorarem.
Face às diferentes técnicas de reparação e tipos de plástico existentes, o técnico reparador deverá decidir qual é ou quais são as mais adequadas a cada caso, analisando vários aspetos fundamentais, como o tipo de plástico, a forma, a amplitude ou a localização dos danos no plástico.
Uma correta identificação do material permite saber as técnicas que são aplicáveis ao mesmo. Através da codificação marcada com base na norma UNE-EN-ISO 11469 sabe-se o material com o qual uma peça de plástico foi fabricada.
Caso esta marcação não exista, o "ensaio de pirólise" pode orientar o reparador sobre o tipo de plástico de que se trata. Este ensaio é fundamentado no comportamento que os plásticos apresentam perante a ação de uma chama: cor e tipo de chama, odor ou tipo de fumo.
O material na sua combustão apresenta diferentes comportamentos típicos, consoante o plástico de que se trate. De acordo com isto, conhecendo-se as principais características identificativas deste comportamento pode-se identificar o tipo de plástico.
O material na sua combustão apresenta diferentes comportamentos típicos, consoante o plástico de que se trate. De acordo com isto, conhecendo-se as principais características identificativas deste comportamento pode-se identificar o tipo de plástico.
Adesivos para todos
A reparação por adesivos consiste em unir as superfícies através da aplicação de um adesivo correspondente ao substrato a colar.
Os adesivos utilizados foram sendo melhorados para se adaptarem às particularidades dos diferentes materiais plásticos.
Os produtos existentes no mercado são adesivos com base em poliuretanos e epóxi, com distintas flexibilidades e primários melhorados para assegurar a aderência aos diferentes plásticos.
Trata-se de adesivos bicomponentes de grande resistência, de rápida cura, que permitem o lixamento e aceitam bem a pintura. Estes adesivos permitem preencher e reconstruir orifícios ou faltas de material nas peças. Também existem adesivos com
diferentes velocidades de cura em função da necessidade da oficina. Alguns deles permitem a aceleração da cura aplicando calor com as estufas de infravermelhos. Para a reparação de plásticos compostos utilizam-se como adesivos as resinas de poliéster juntamente com reforços de fibra de vidro aplicados em várias camadas como se fosse uma sanduíche.
A grande vantagem que os adesivos proporcionam é a sua polivalência para reparar todo o tipo de plásticos, independentemente da sua natureza, sejam termoplásticos, termoestáveis ou plásticos compostos.
Soldadura em termoplásticos
A reparação por soldadura em plásticos termoplásticos consiste na união das superfícies separadas através da inserção de uma vareta de plástico como se fosse um cordão de soldadura.
Os materiais a soldar são levados até à temperatura de soldadura atingindo um estado visco-plástico no qual se produz a união do material base da peça com o material de adição exterior.
Os fabricantes de equipamentos de soldadura de plásticos oferecem varetas de diferentes materiais adaptando-se aos utilizados no fabrico de peças de carroçaria como ABS, PP, PE, PC, HDPE e inclusivamente combinações como PC/PBT, P/E, PP/EPDM. Desta forma, os materiais adicionados às uniões melhoram a sua semelhança em relação ao material da peça a reparar, existindo menos diferenças entre as características dos materiais unidos.
A transmissão de calor realiza-se através de maçaricos/aquecedores elétricos que recolhem e aquecem o ar ambiente dirigindo-o através dos bicos adequados para a zona de soldadura. Outra forma de transmitir calor à zona realiza-se através da injeção de uma corrente de gás quente na zona de soldadura para proteger a zona de fusão.
A utilização de um gás em relação ao ar ambiente proporciona uma atmosfera protegida na zona de fusão que evita o contacto entre o material plástico e o oxigénio e humidade do ambiente.
Os gases, ao disporem de uma maior densidade em relação ao ar, proporcionam uma zona de proteção na soldadura, obtendo-se cordões de boa penetração com uma reduzida transmissão de calor, e conseguindo-se um aquecimento mais uniforme do material.
As principais vantagens que a utilização de um gás na soldadura proporciona consistem no facto de se evitarem ou reduzirem aspetos como a oxidação dos materiais, a porosidade da soldadura, a emissão de fumos tóxicos ou o stress térmico dos materiais.
O nitrogénio é um dos gases mais utilizados para esta soldadura devido ao seu reduzido custo económico e às suas boas características na soldadura. Também se podem utilizar outros gases inertes, como o árgon ou hélio + dióxido de carbono, que garantem uma boa proteção.
Os equipamentos disponíveis no mercado são catalogados em dois tipos: os que necessitam de uma garrafa do respetivo gás e os que já integram um gerador próprio de nitrogénio (tecnologia PSA) que produz o gás a partir do ar comprimido limpo.
A vantagem a destacar da reparação por soldadura é que se obtém uma boa resistência mecânica da união e os materiais são da mesma natureza, existindo menos diferenças físicas entre eles. O acabamento da zona exterior da peça realiza-se com adesivos de acabamento para plásticos.
Grampos metálicos em termoplásticos
Outra das técnicas de reparação utilizadas em plásticos termoplásticos é a soldadura de grampos metálicos para unir as partes separadas das gretas ou ruturas presentes nas peças.
Esta técnica baseia-se em aquecer os grampos metálicos através de uma resistência mecânica e inseri-los exercendo pressão no interior do material plástico, que se funde localmente devido ao calor transmitido pelo grampo. As duas partes separadas da superfície mantêm-se unidas pelos grampos inseridos.
Esta técnica tem de ser combinada com a aplicação de adesivos na parte exterior da peça para se preencher a junta e conseguir-se um bom acabamento da parte exterior.
Os equipamentos térmicos de aplicação de grampos dispõem de um seletor da temperatura de aquecimento, a regular em função da espessura e do tipo de plástico a reparar e são fornecidos com diferentes grossuras e formas de grampos, em U, em S ou em V, para se adaptarem à geometria das zonas a reparar.
A vantagem desta técnica de reparação é a sua simplicidade e a rapidez de aplicação dos grampos, obtendo-se uma união bastante reforçada, mas introduz-se um material de diferente natureza com propriedades diferentes.
Remodelação em termoplásticos
No caso dos plásticos termoplásticos que permitem o seu aquecimento sem se deteriorarem, também se pode realizar uma remodelação das mossas ou deformações existentes. Esta técnica baseia-se na aplicação de calor com um aquecedor ou maçarico de ar quente na zona deformada a fim de amolecer o material e poder remodelá-lo através da aplicação de esforços de pressão até recuperar a forma original da superfície.
Conclusão
Atualmente, a recuperação de peças de plástico através dos processos de reparação adequados a cada tipo de material é um processo habitual na oficina. O conhecimento por parte dos profissionais das particularidades de cada material e da aplicação das técnicas de reparação mais apropriadas para cada um deles permite obter excelentes resultados na reparação.