Considerado o maior e mais duro rali para automóveis clássicos do mundo, o East African Safari Classic Rally vai ter, em 2022, presença lusa. A responsabilidade é de quatro portugueses, um dos quais ex-piloto de F1, que, aos comandos de duas Renault 4L, prometem fazer história. Neste caso, chegando, apenas e só, ao fim.
A verdade é que o desafio é tudo menos fácil: trata-se de um rali para veículos clássicos, neste caso, obrigatoriamente anteriores a 1986, o qual tem lugar, desde 2003, nas duras picadas africanas do Quénia. Procurando, dessa forma, reacender o espírito do Safari Rallye, prova que ganhou a reputação do mais difícil rali do mundo.
Em 2022, ano em que se realiza a 10.ª edição deste East African Safari Classic Rally, os pilotos voltam a ter de enfrentar uma dura jornada de cerca de 5.000 quilómetros, arrancando no próximo dia 10 de fevereiro, para terminarem o seu desafio 11 dias depois, mais precisamente, a 21 de fevereiro. Data em que, caso tudo corra pelo melhor, estarão a passar a linha de meta.
Foi, precisamente, esta aventura que, quatro portugueses, entre os quais o ex-piloto de Fórmula 1 e ex-bicampeão nacional de ralis, Pedro Matos Chaves, a par daquele que continua sendo um dos principais promotores nacionais e mundiais da histórica Renault 4L no todo-o-terreno (já participou, inclusivamente, em diversas provas do WRC, com a sua 4L!...), António Pinto dos Santos, decidiram agora abraçar.
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Acompanhados de Marco Barbosa, que faz equipa com Matos Chaves, e de Nuno Rodrigues da Silva, o navegador de Pinto dos Santos, a 'Team Renault 4L 60th Anniversary' far-se-á à savana africana, como o próprio nome do projecto deixa antever, aos comandos de duas já muito experientes Renault 4L - ambas com idades a rondar os 30 anos, uma delas, soma já qualquer coisa como 200.000 quilómetros, ou passo que, a outra, menos rodada, anuncia cerca de 120.000 quilómetros.
Números, apenas números...
Números que, no entanto e para o mentor da iniciativa (e dono dos carros!), António Pinto dos Santos, são apenas isso - números. Com o piloto de Coimbra a não ter dúvidas de que, mesmo com as duas Renault 4L praticamente de origem (beneficiam, apenas, de reforços da carroçaria e suspensão, além dos equipamentos de segurança exigidos pela FIA), será possível atingir o objectivo a que a equipa se propõe: chegar ao fim.
Aliás e ainda sobre as duas 4L, é o próprio Pinto dos Santos que frisa o facto de, tanto o motor - com os seus 34 cv de potência e a anunciar uma velocidade máxima perto dos 120 km/h -, como a caixa de velocidades de quatro velocidades e com o tradicional 'cajado' a entrar no tablier, assim como a direcção, "assistida a braço", permanecerem rigorosamente de série. O mesmo acontecendo, como nós próprios tivemos de oportunidade de constatar, com o habitáculo, onde os tradicionais plásticos na cor creme continuam a fazer-se notar...
Já sobre a participação propriamente dita, o piloto comenta que "o projeto de participação no East African Safari Classic Rally foi a melhor maneira que encontrámos para homenagear os 60 anos da Renault 4L, o modelo ao qual estão associadas as minhas aventuras nos ralis". Sendo que, "vamos alinhar com duas carrinhas 'rejuvenescidas', que contamos nos permitam concluir a prova e erguer a bandeira portuguesa à chegada".
Contudo e "devido à extensão do rali, onde quase todos os dias teremos etapas com cerca de 700 quilómetros (300 km em troços cronometrados), teremos que manter sempre um ritmo elevado, para cumprir a média de 65 a 70 km/h obrigatória". Pelo que, reconhece, "essa poderá ser uma das dificuldades, mas confiamos na fiabilidade e nas capacidades da Renault 4L."
"A primeira vez em que o objectivo não é... ganhar!"
Quanto a Pedro Matos Chaves, piloto que chegou a competir na Fórmula 1, além de se ter sagrado bicampeão nacional de ralis, regressa agora à competição, "17 anos depois de ter deixado", e, logo, para encarar um desafio que é, para si, totalmente novo: "Será a primeira vez que participo numa prova em que o objetivo não é… ganhar!", recorda. Embora e apesar de ser "um pouco estranho", "é também um desafio extra que quero vencer", afiança.
Apesar da abordagem poder ser algo diferente, o também outrora piloto oficial da Renault não tem dúvidas de que será "um grande desafio participar no East African Safari Classic Rally". Desde logo, porque são "muitos quilómetros a percorrer, durante nove dias, numa mítica Renault 4L de tração à frente e pouca potência".
Já quanto ao percurso, "a verdade é que muitas das estradas são antigos troços do WRC, o que faz antever, desde logo, dificuldades para cumprir os tempos impostos, sem esquecer os lamaçais que teremos que ultrapassar e que serão, por certo, uma dificuldade acrescida".
No entanto, termina Matos Chaves, "a Renault 4L tem fama de passar por todo o lado e, por isso, só podemos partir confiantes que chegaremos ao fim deste que é um dos ralis mais exigentes e duros do mundo". Sendo que, "se acontecer, saberá certamente a vitória e será uma excelente prenda para a Renault Portugal, dignificando ainda mais o modelo".