A grande maioria de nós, portugueses, somos incapazes de indicar mais do que uma ou duas marcas de automóveis lusitanas. Aqui na Turbo, e durante as próximas semanas, pretendemos retificar esta lacuna, pois, na verdade, Portugal está repleto de histórias, projetos e marcas dignas da nossa consideração. Hoje, contamos-lhe a história da Portaro.
ATA, DM, AGB e IPA representam as marcas portuguesas que, embora tenham tido inúmeros méritos, falharam no verdadeiro desafio que era conseguir estabelecer uma marca de automóveis lusitana.
Contudo, na segunda metade dos anos 70, houve uma marca que conseguiu fazê-lo. Essa marca foi a Portaro.
A marca Portaro (Portugal + ARO), nasceu da mente de Hipólito Pires e de Costa Freitas, que, em 1975, idealizaram um automóvel que tinha como objetivo satisfazer as necessidades especificas do consumidor português.
Resumindo, decidiram criar um todo-o-terreno, que fosse robusto, mas também simples e económico.
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Para tal, utilizaram como base um modelo já existente. Mais propriamente, o ARO 240 4x4 - um todo-o-terreno de fabrico romeno.
Hipólito Pires negociou, então, com o governo romeno, titular da marca ARO, a aquisição dos chassis e outros componentes, para posteriormente serem montados e acabados em Portugal.
No entanto, a Portaro não se limitou apenas ao fabrico de modelos ARO, sob licença. Pelo contrário, fez também alterações e modificações, que constituíram um salto de qualidade em relação aos modelos romenos.
Os modelos da marca portuguesa distinguiam-se, sobretudo, pelos conjuntos propulsores mais potentes, económicos e refinados.
Na verdade, este acréscimo de qualidade provinha de motores Diesel da Daihatsu e de motores a gasolina da Volvo, que eram mecânicas superiores, provenientes de marcas conhecidas pela sua qualidade e durabilidade.
Os principais modelos
O primeiro modelo da marca, lançado em 1976, foi o Portaro 240 4x4.
Em seguida, a Portaro lançou outro modelo, o 260 4x4, com um motor diesel de 2.530cc, caixa de 4 velocidades e 75 cv às 3.600 rpm. Atingia 130km/h e tornou-se num dos modelos mais bem sucedidos da marca.
Outro grande sucesso foi o Portaro 320 4x4 Campina, uma pick-up de três lugares, disponível em várias versões.
Destaque também para as versões a gasolina, que utilizavam motores Volvo, provenientes dos modelos 240, 260, 440 e 460.
Por exemplo, o Portaro 210PT TURBO 4x4 foi o modelo mais potente da marca. Tinha um motor Volvo de 2.127cc, com Turbocompressor, e debitava 156 cv. Além de estar, também, disponível, numa versão descapotável.
Outro modelo interessante, foi o Portaro NATO GVM 4x4 (1984), que foi uma versão militar do todo-o-terreno, adaptado para as forças armadas portuguesas.
Este jipe acabou, no entanto, por não ter grande adoção, uma vez que as Forças Armadas preferiram outro veículo português: o UMM.
Destaque, igualmente, para o Portaro Pampas 260 4WD, que foi um modelo de exportação, concebido especificamente para o mercado inglês, com volante à direita.
Competição
A Portaro revelou-se uma agradável surpresa, também, no desporto, tendo-se tornado na marca portuguesa que mais sucesso alcançou em competições internacionais.
Ganhou o Rally Atlas, em 1982, e alcançou o 9º lugar na edição de 1983, do Paris-Dakar.
Alcançou lugares cimeiros, também, no Paris-Agadir de 1983, com um Portaro 230PV altamente modificado. E que, inclusivamente, terminou à frente de concorrentes de maior renome, como os Mercedes Classe G ou os Toyota Land Cruiser.
O Fim
Apesar do sucesso de algumas versões, a Portaro começou a debater-se com dificuldades financeiras, no início dos anos 90, e na sequência daquilo que foi uma crise financeira mundial.
Ao mesmo tempo, a marca sofreu, igualmente, uma acentuada redução nos apoios do Estado Português, o que acabou por resultar, em 1995, na morte da Portaro.
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Permanecendo no mercado de 1976 a 1995, a Portaro saboreou, ainda assim, algum sucesso, ao disponibilizar um total de 31 modelos ou versões distintas.
Ao todo, fabricou cerca de dez mil unidades, três mil das quais, foram exportadas para o estrangeiro.
No seu auge, a marca chegou a produzir 2.000 veículos por ano.