Porsche Cayenne Coupe vs Volkswagen Touareg. Encontro de irmãos

Partilhando o ADN do Grupo Volkswagen desde a primeira geração, Porsche Cayenne e Volkswagen Touareg representam formas distintas de encarar

Partilhando o ADN do Grupo Volkswagen desde a primeira geração, Porsche Cayenne e Volkswagen Touareg representam formas distintas de encarar o fenómeno SUV. Independentemente de o posicionamento ser mais desportivo ou aventureiro, ambos adotaram motorizações híbridas.

Em meados da década de '90 do século passado, o Grupo Volkswagen deu início a um dos mais polémicos e bem-sucedidos projetos da história recente. Denominado Colorado, previa o desenvolvimento de um veículo desportivo multiuso para a Porsche. Foi um escândalo! A notícia caiu como uma bomba entre os adeptos ferranhos da Porsche, que se sentiram ultrajados ao ver o escudo do construtor de Estugarda no capot de um SUV.

Por mais arredondadas que fossem as linhas, com inspiração evidente na frente da geração 996 do Porsche 911, não deixava de ser um caixote com 4,78 metros de comprimento, 1,70 m de altura e cinco portas. Tudo menos um Porsche! Como o tempo veio a provar, a razão estava do lado do Projeto Colorado.

Ao contrário dos indefetíveis da Porsche, os clientes da Volkswagen receberam com entusiasmo o segundo produto do Projeto Colorado: o Touareg. Um construtor generalista só tem a ganhar com um SUV espaçoso e confortável. Também foi o primeiro SUV do gigante de Wolfsburg e, apesar da novidade, não esqueceu a vertente desportiva com versões inesperadas como o W12 6.0 de 450 cv a gasolina ou V10 TDI 5.0 com 313 cv.

Duas décadas e três gerações depois da estreia, os dois modelos receberam atualizações de imagem e conteúdos tecnológicos para acompanharem um mercado em permanente evolução. O maior beneficiado foi o Porsche, que viu a capacidade da bateria da versão híbrida recarregável aumentar para os 25,9 kWh (21,8 kWh úteis).

Antes do restyling utilizava a bateria de 17,9 kWh (14,3 kWh) do VW Touareg. Isto significa que, enquanto o VW mantém uma autonomia elétrica na ordem dos 50 km, o Porsche anuncia 74 km. Uma diferença significativa, capaz de tornar o novo Porsche Cayenne E-Hybrid Coupé ligeiramente mais barato que o modelo que veio substituir.

Gémeos falsos

Na verdade, com um preço de 120 695 €, o modelo de entrada na gama PHEV (470 cv) é o mais acessível da linha Cayenne Coupé. O V6 3.0 a gasolina, com 353 cv, custa 134 675 €. Com uma gama simplificada, o VW Touareg tem apenas duas motorizações híbridas de bateria recarregável. Utilizam o mesmo V6 3.0 a gasolina associado a um motor elétrico para debitar 380 cv na versão e-Hybrid (88 029 €) aqui ensaiada ou 460 cv no Touareg R (96 978 €). Uma versão com menos 10 cv do Cayenne E-Hybrid.

Diferenças à parte, os dois modelos partilham a base mecânica e tecnológica da arquitetura MLB Evo do Grupo Volkswagen. Equivalem-se nos 2,90 metros de distância entre eixos e no 1,98 m de largura. O estilo coupé torna o Cayenne 3 cm mais longo (4,93 m) e 4 cm mais baixo (1,67 m) que o Touareg. Ao contrário das primeiras gerações, que partilhavam o para-brisas e as quatro portas, os estilos são distintos.

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Podem ambos ter sempre teto panorâmico em vidro, mas as razões por trás desta solução são diversas. No Volkswagen faz parte do equipamento de série, incluindo a função teto de abrir.

No Porsche é a forma mais eficiente, do ponto de vista dos custos de produção, de desenhar a linha descendente do tejadilho. A mesma que condiciona ligeiramente a capacidade da mala e o acesso aos lugares traseiros. Estes são tão confortáveis e plenos de espaço para as pernas como os do Touareg. Exigem apenas um pouco mais de atenção para evitar a moldura da porta. O que começa como uma questão de cuidado, resolvida ao fim de uma ou duas cabeçadas, pode complicar-se se for necessário ajustar crianças nos respetivos bancos.

Estilo a quanto obrigas

Mais funcional, o VW recebe três passageiros no banco traseiro com maior conforto que o Porsche, nitidamente pensado para dois mais apoio de braço. O conforto do Touareg é reforçado pelo ajuste individual das costas dos bancos e longitudinal do assento.

Ambos os modelos oferecem movimento elétrico dos portões traseiros e, cortesia da suspensão pneumática, possibilidade de ajustar a altura do plano de carga. Os bancos também rebatem na proporção 40:20:40, mas só o VW permite realizar esta operação a partir da mala. Aqui não há comparação entre os 665 litros do Touareg e os 434 l do Cayenne.

Ao contrário da primeira geração, muito influenciada pela Volkswagen, a terceira geração do Cayenne não podia ser mais distinta do Touareg. No início, os custos de produção e a incerteza à volta do sucesso do Projeto Colorado forçaram a que o painel de instrumentos fosse adaptado a partir do Touareg. Mantinha os cinco mostradores redondos interligados, mas deslocava o taquímetro da posição principal, ao centro, para uma secundária, à esquerda.

A identidade Porsche era mantida pelo volante original de três raios, o canhão para a chave de ignição à esquerda da coluna de direção e as pegas na consola central, ainda presentes no modelo atual. O mesmo não se pode dizer da disposição do painel de instrumentos.

Seguindo abordagens diferenciadas, o desenho interior dos dois modelos acompanhou as respetivas linhagens familiares. O Touareg utiliza o volante com comandos capacitivos da casa e um tablier limpo de botões. A interação com o novo sistema operativo acontece no ecrã de 15 polegadas, no qual é possível espelhar smartphones sem necessidade cabos.

Há também melhorias no sistema de reconhecimento vocal e nas ajudas à condução, como a navegação de alta-definição que permite ao Touareg saber em qual das faixas da autoestada circula. O condutor pode aceder à informação da viagem no painel de instrumentos digital de 12 polegadas ou no head-up display opcional (1312 €).

Inspiração elétrica

Enquanto o Volkswagen utiliza o desenho curvo do tablier para criar uma separação clara entre condutor e acompanhante, o Porsche segue um conceito mais inclusivo. Inspirada no Taycan, a secção dianteira do Cayenne recebe os ocupantes com dois ecrãs de 12,3 polegadas, complementados por uma linha de comandos para a climatização. Um terceiro ecrã de 10,9 polegadas permite ao passageiro fazer o mesmo que faz no mostrador central sem ter de se virar para a esquerda. Este opcional no valor de 1409 € tem um tratamento que o torna opaco quando visualizado do lado do condutor.

Plenos de ajustes no banco e coluna de direção, os dois modelos sentam o condutor numa posição elevada, criando um campo de visão desimpedido para a frente e para os lados. Para trás só no VW, porque o tejadilho do Porsche também rouba visibilidade.

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Os volantes têm boa pega, com os botões do Cayenne a revelarem-se mais fáceis de utilizar que os comandos hápticos do Touareg. Enquanto o Volkswagen mantem a manche caraterística da caixa DSG na consola central, o novo design de interior do Porsche deslocou o comando da caixa de velocidades para o tablier, atrás do volante, ao alcance fácil da mão direita.

Não faltam modos de condução para ultrapassar os mais variados desafios e obstáculos que se possam cruzar no caminho de qualquer dos SUV.

O Volkswagen mantém dois comandos rotativos perto do apoio de braços central. O da direita ajusta a altura ao solo de forma independente. O da esquerda percorre os modos de condução Eco, Comfort, Auto, Normal, Sport, Individual e Neve. O volante do Porsche tem um comando rotativo na secção inferior direita para variar entre os modos Normal, Sport, Sport Plus e Off Road.

Suspensão pneumática

Entre os 21 cm de altura livre ao solo proporcionados pela suspensão pneumática, de série no Touareg e opcional (2337 €) no Cayenne, e a tração integral permanente, as aptidões fora de estrada dos dois SUV excedem largamente o espírito de aventura da maioria dos proprietários. Em vez de ser uma limitação, o confinamento ao asfalto é um convite à diversão. No caso do Touareg uma diversão confortável em família. O pisar suave encontra correspondência na linearidade do conjunto propulsor híbrido.

Sempre mais desportivo, do desenho da carroçaria à resposta do motor, o Porsche não esconde algum nervosismo. Embora consiga andar devagar e ser tão confortável como o Volkswagen, não esconde a vontade de acelerar. Um traço comportamental patente no patinar da roda traseira interior sempre que arranca com a direção trancada.

É uma caraterística comum aos dois modelos, que os torna desajeitados quando é necessário manobrar em espaços apertados, mais evidente no Cayenne Coupé, incapaz de evitar pequenos espasmos do eixo traseiro sempre que navega por zonas históricas. Seria de esperar que o eixo traseiro direcional (1759 €) atenuasse este nervosismo, mas tal não se verifica…

Em estrada, com as suspensões pneumáticas a reduzirem a altura ao solo e a contrariar os movimentos da carroçaria, os ritmos elevados são fáceis de atingir e manter. Aqui, o eixo traseiro direcional ajuda o Porsche a negociar com maior facilidade as sequências de curvas mais fechadas. É o Cayenne Coupé a mostrar que a diferença de preço não se deve apenas ao posicionamento ou à capacidade da bateria.

O Volkswagen não compromete e, na verdade, eleva os limites a um patamar difícil de alcançar pela maioria dos condutores. Mas parece sempre mais fora do seu habitat que o Porsche.

Mais autonomia

Navegando uma onda de 600 Nm de binário (650 Nm no Porsche) os dois SUV não sentem dificuldades em movimentar as 2,5 toneladas. As caixas automáticas de oito velocidades são exímias em manter o regime dos V6 de três litros na zona mais sumarenta, entre as 1400 e as 4800 rpm no Cayenne Coupé e entre as 1350 e as 5300 rpm no Touareg. As patilhas metálicas do volante do Porsche, não só têm um acabamento mais agradável do que as plásticas do VW, como garantem uma resposta mais rápida do modo sequencial.

Apesar da disponibilidade para andar depressa de ambos os SUV, estamos perante as versões de acesso às respetivas gamas de motorizações híbridas com bateria recarregável. Há uma preocupação implícita com as emissões, que nenhum dos SUV consegue transpor para além do papel. Os 51 km de autonomia EV anunciados pelo Touareg resumem-se a 36 km. A média dos primeiros 100 km sobe dos 2,2 l/100 km para os 3,1 l/100 km, enquanto a ponderação com a bateria descarregada dispara para os 9 l/100 km. 

A maior capacidade da bateria do Cayenne E-Hybrid Coupé prolonga a condução EV até aos 55 km, aquém dos 74 km anunciados, fixando a média da primeira centena de quilómetros nos 2,3 l/100 km. Já a média real sobe para os 7,8 l/100 km.

Unidos pela mecânica, Porsche Cayenne Coupé e VW Touareg divergem no posicionamento. O Volkswagen segue uma linha convencional, confortável, privilegiando o espaço e a funcionalidade, enquanto o Porsche se mantém fiel à veia desportiva. Há 22 anos que seguem caminhos paralelos, com clientelas bem identificadas. Comportamento dinâmico ou funcionalidade? O Porsche Cayenne com carroçaria tradicional pode tentar baralhar esta conta, mas o posicionamento de preços volta a colocar cada SUV no seu segmento.