Contrariar o tempo não é possível, mas fintar o clima com uma capota que abre ou fecha em 12 segundos é fácil. É o que faz o novo Carrera 4s Cabriolet, sem abdicar da dinâmica caraterística do Porsche 911
A despentear cabeleiras desde 1982, a versão descapotável do Porsche 911 está longe de reunir consensos. Quem gosta elogia a elegância da capota têxtil, por não alterar as linhas do 911, mesmo que o reposicionamento do intercooler da geração 992 deixe a traseira 10 mm mais elevada.
Quem não gosta queixa-se dos efeitos que o excesso de peso, resultante dos reforços estruturais necessários para colmatar a ausência de teto, provoca na condução.
Uma discussão filosófica que não se limita à família Carrera e que, em termos práticos, pode ser definida pelo seguinte rácio: um em cada três Porsche vendidos é descapotável.
Partilhando a mecânica e as tecnologias associadas à geração 992 com o coupé, o novo 911 Carrera 4S Cabriolet herda a capota têxtil e respetiva cinemática da geração anterior. A diferença é feita pela utilização de uma nova bomba hidráulica para agilizar o movimento do mecanismo, que dobra o tecido em Z, permitindo retirar dois segundos ao tempo do modelo anterior.
Em plena estação outono/inverno, isto significa que 12 segundos depois de sentir as primeiras gotas de chuva o cabrio está transformando num coupé. Ou algo muito parecido.
Suspensão adaptativa
Com a nova geração do Carrera Cabriolet chega um defletor aerodinâmico automático. Integrada na moldura da carroçaria que envolve os pequenos bancos traseiros, esta solução prática e eficaz limita a lotação ao condutor e acompanhante.
Para o acionar basta carregar num botão da consola central e, em poucos segundos, elimina-se o turbilhão aerodinâmico. Desfruta-se mais da música e das conversas sem ter de perder tempo a lutar com os encaixes dos defletores tradicionais.
Rodando sobre suspensão adaptativa PASM, estreia nesta geração 992 do Cabriolet, com afinação desportiva opcional (3321 €), que o deixa 10 mm mais baixo, o Carrera 4S descapotável revela-se um automóvel firme. Não o suficiente para ser desconfortável, mas com aquele pisar seco que transmite aos ocupantes a altura exata das bandas sonoras.
Com a resposta agilizada pela afinação desportiva, os amortecedores reagem de forma exemplar às mudanças bruscas de apoio, controlando os movimentos da carroçaria com uma segurança muito próxima à do coupé. Nem o empedrado ou as demais armadilhas do piso citadino ameaçam a integridade do descapotável.
Caixa PDK
Tenha ou não tejadilho, um Porsche 911 será sempre um desportivo que cria dependência.
A designação Carrera 4S quer dizer que a montante do sistema de tração integral permanente e da caixa PDK de dupla embraiagem e oito velocidades se encontra o motor boxer de três litros, seis cilindros e 450 cv.
Tem dois turbos, o que significa que quem procurar bem vai encontrar um ligeiro atraso na resposta. A energia caraterística da sobrealimentação sente-se principalmente nos regimes médios, onde promove uma capacidade de resposta que o anterior bloco 3.8 atmosférico simplesmente não consegue acompanhar.
Rápida como poucas, a caixa PDK só deve permanecer no modo automático para garantir os 3,6 segundos do arranque até aos 100 km/h. De resto, deve ser operada por meio das patilhas do volante que, parte do Pack Sport Chrono (2405 €), também tem o pequeno comando rotativo para selecionar os modos de condução.
Chega o Sport+. Os outros só confundem. É no modo mais desportivo que melhor se vive a experiência Porsche descapotável.
Com eixo traseiro direcional (2325 €) e controlo eletrónico do autoblocante, a somar à tração integral, o Porsche Carrera 4S Cabriolet não tem dificuldade em colocar os 450 cv no chão. O difícil é brincar com a traseira. O binário desviado para a frente cria um comportamento mais neutro.
Agarrado à estrada
É preciso jogar com a desaceleração e aproveitar o movimento de rotação.
Atacando o acelerador no momento certo, os 530 Nm, disponíveis entre as 2300 e 5000 rpm, balançam o eixo traseiro para um breve momento de glória, até a tração integral tomar conta do assunto e devolver o Carrera 4S ao carril.
Longe de ser um desportivo aborrecido, o novo 911 Cabriolet é um exemplo de eficácia e graciosidade, mesmo quando o estado do piso, neste caso bem molhado, desaconselha condução desportiva. Caraterística que é comum aos Porsche Carrera 4.
Quem gosta de descapotáveis sabe que estes serão sempre mais pesados, ruidosos e com pouca visibilidade traseira, ainda que neste caso as reduzidas dimensões do óculo em vidro com desembaciador sejam compensadas por uma câmara, do que os coupé equivalentes.
São opções de estilo, onde o prazer de conduzir a céu aberto justifica plenamente os 14 500 € que o Porsche 911 Carrera 4S Cabriolet acrescenta à versão fechada.