O Mustang Mach-E bem pode ser considerado como o mais ambicioso Ford das últimas (muitas) décadas. A autonomia pode chegar aos 610 km e está disponível com tração traseira (um motor) ou integral (dois motores). As primeiras entregas estão previstas para setembro, com o preço a começar nos 50 100€.
São muitas as razões que justificam o facto de dizermos que este é o mais ambicioso Ford das últimas décadas.
Trata-se do primeiro modelo 100% elétrico da marca americana que mostra um nível tecnológico muito elevado, mas a principal justificação para este nosso "voto de confiança", resulta da experiência de condução (uma centena de quilómetros) que nos permitiu concluir que estamos perante uma das melhores propostas elétricas da atualidade.
Está, assim, legitimado o facto de a Ford ter batizado o seu primeiro elétrico com um dos nomes mais carismáticos da história do automóvel.
Sendo algo bizarro imaginar que a prioridade de um automovel elétrico é oferecer uma dinâmica de condução desportiva, a verdade é que o Mustang Mach-E é muito agradável de conduzir, como adiante veremos, tem uma imagem cativante, apostando na configuração SUV por ser a da moda, enquanto o interior oferece muito espaço, conforto e, principalmente, um nível tecnológico de referência.
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Mas é naquilo que mais conta num automóvel elétrico, que ele mais se destaca: a utilização de baterias de grande capacidade e, principalmente, os consumos baixos que pudemos verificar, concorrem para uma autonomia oficial (WLTP) que chega aos 610 km.
Com 4,71 metros de comprimento, o Mustang Mach-E tem as dimensões típicas de um SUV do segmento médio/superior.
A altura ao solo é sublinhada pela utilização de jantes de 19 polegadas, na frente os faróis esguios evocam a origem Mustang, mas a principal originalidade é o perfil Coupé da carroçaria de cinco portas, com estas a prescindirem do tradicional manipulo de abertura e fecho, que é substituído por um botão de acionamento elétrico. A abertura e fecho da porta do condutor pode processar-se através do nosso telemóvel.
Interior generoso e funcional
O interior beneficia das dimensões generosas e do fundo totalmente plano: o espaço na traseira é amplo em altura, comprimento e na distância aos bancos dianteiros, enquanto a capacidade da bagageira, não sendo exuberante (402 litros), conta com a "ajuda" do compartimento adicional (81 litros) na frente.
A posição de condução é bastante boa, alta, como de resto acontece com todos os lugares, dada a altura da plataforma, necessária para alojar o módulo da bateria.
Outra característica central do interior é, como referimos, o nível tecnológico, bem destacado pelo tablet central, em nossa opinião excessivamente grande e proeminente. É a partir deste iPad de 15,5 polegadas que comandamos todas as principais funções: da climatização, ao sistema de som, passando pelas informações de condução, sistema de navegação, computador de bordo ou a escolha dos modos de condução.
Autonomia convincente
A Ford disponibiliza o Mach-E com tração traseira (um só motor) ou integral (dois motores), que combina com baterias de diferentes capacidades. A bateria Standard de 75,7 kWh (68 kWh úteis) garante uma autonomia de 440 km no caso da versão de tração traseira e menos 40 km para a versão de tração total. A potência (198 kW/269 cv) é igual, independentemente se tratar das versões com um ou dois motores, enquanto a aceleração de 0-100 km/h é de 6,1 segs. e 5,6 segs. respetivamente.
Disponível está, também, uma bateria com 98,7 kWh de capacidade (88 kWh úteis), uma das maiores do mercado. No caso da versão de tração traseira, a autonomia está associada a um motor de 294 cv de potência e a autonomia anunciada pode chegar aos 610 km. Já na versão de tração integral, os dois motores alcançam uma potência de 351 cv e a autonomia anunciada chega aos 540 km.
A temperatura ideal do módulo da bateria é mantida através de um sistema de refrigeração e aquecimento a água, o que permite controlar a sua eficácia em todos os momentos. A par do nível tecnológico dos motores, esta é a explicação para o reduzido consumo (que favorece a autonomia).
Consumos? Surpreendentes
No nosso primeiro contacto ao volante, esta foi mesmo a característica que mais nos impressionou.
Utilizámos a versão AWD (351 cv) com a bateria de 98,7 kWh e se a resposta pronta ao acelerador faz jus às características com que já nos acostumámos a identificar os elétricos, o nível de consumos é francamente melhor do que aquilo a que estamos acostumados.
No painel de controlo podemos escolher de entre três programas de condução (Active, Whisper e Untamed), por forma a otimizar o consumo, a dinâmica e o conforto, fazendo variar a resposta ao acelerador, o 'feeling' da direção (apenas varia o "peso" e não a desmultiplicação) e a firmeza da suspensão (Magneride) de amortecimento variável.
Desde Cascais até à entrada de Lisboa, pela A5, com uma condução absolutamente normal, no modo Active que combina dinâmica e conforto, realizamos uma média de 19 kWh, um valor francamente bom.
A partir das Amoreiras, entrámos na cidade utilizando o programa (Whisper) que favorece o consumo energético e com o modo de pedal único acionado, para favorecer a regeneração. Após 10 quilómetros, o computador de bordo indicava um consumo de 15 kWh, que nos parece muito interessante.
Por fim, no trajeto de regresso a Cascais, optámos pela estrada que desce de Sintra até Colares, a chamada "volta à Serra", pelo Cabo da Roca e descida para o Guincho, no modo mais desportivo, que evidencia um bom controlo do chassis. Claro que é notório o peso do conjunto de 2,3 toneladas, ditado pelo peso da bateria que chega aos 596 kg (477 kg no caso da bateria de 75,5 kWh). Ainda assim, a resposta ao acelerador é muito boa, sendo também de destacar que, neste modo, a capacidade de regeneração de energia é também maior.
Ao cabo dos 100 km deste primeiro contacto, com utilização em cidade e algumas experiências de aceleração, tínhamos ainda disponíveis (de acordo com o computador de bordo) 75% da capacidade da bateria. O que permite acreditar que, com facilidade, teria sido possível cumprir, com uma única carga, bastante mais de 400 km.
Começa a chegar em Setembro
A Ford começa a entregar, em setembro, as primeiras unidades do Mustang Mach-E.
O preço começa nos 50 100€, para a versão com a bateria mais "pequena", de tração traseira, enquanto a proposta mais potente, com tração total e bateria de 98,7 kWh, custa 66 800€.