Combinando a economia do motor diesel de dois litros, com a eficiência do motor elétrico, o Mercedes E 300 de é realmente poupado. Com acesso a carregadores para as baterias é mesmo provável que um depósito de gasóleo faça mais de 1000 km
Normalmente associados a motores térmicos com grande apetite por gasolina, a maioria dos híbridos de carregar na tomada, como o Mercedes E 300 de, deixa de ter argumentos assim que a carga da bateria se esgota.
E enquanto os 30 km de autonomia elétrica desaparecem num instante, a maioria dos condutores não tem acesso a um carregador ou não está para se dar ao trabalho.
Um cenário incongruente repetido um pouco por toda a Europa, mesmo na organizada Escandinávia, e justificado pelos benefícios fiscais associados a estes veículos.
Se não se vai carregar muito a bateria, mais vale comprar um diesel. Melhor ainda, um diesel híbrido de carregar na tomada como o Mercedes E 300 de.
Potência híbrida
Resumindo em poucas linhas um processo bastante complexo, o Mercedes E 300 de combina o bloco de dois litros, quatro cilindros e 194 cv do E 220 d com um motor elétrico de 122 cv. Como habitual, os dois picos de performance não acontecem em simultâneo, situando a potência combinada nos 306 cv e o binário nos 700 Nm.
A bateria de 13,5 kWh anuncia 52 km de autonomia e, quando ligada a um carregador de 7,4 kW, repõe a carga em menos de duas horas. Numa tomada convencional, este tempo pode estender-se até às cinco horas.
O sistema elétrico acrescenta 325 kg ao peso da carrinha E 220 d. Fardo que se sente na afinação ligeiramente mais firme dos amortecedores, ainda com muito curso antes de poderem ser considerados desconfortáveis, e na redução da capacidade da mala dos 640 litros para os 480 l. Um degrau que interrompe o piso plano e pode interferir com o transporte de objetos compridos ou volumosos.
A tomada de corrente está muito bem integrada no lado direito do para-choques traseiro, posição que a deixa exposta aos pequenos toques do estacionamento.
Classe E com mais autonomia
Passando ao lado da tecnologia, o E 300 de não difere da restante Classe E. Oferece espaço e conforto, servidos por materiais e acabamentos de qualidade, e apresenta a informação num dos maiores ecrãs panorâmicos do segmento.
Um botão na consola seleciona os modos de condução específicos (EV, Híbrido, Reserva de carga e Carregamento da bateria com recurso ao motor térmico), que se juntam aos habituais Eco, Comfort, Sport e Individual.
O arranque é sempre feito em Comfort e Híbrido, que mantivemos por este último ignorar o motor diesel desde que não se abuse do acelerador, mesmo em autoestrada.
Recebemos o E 300 de atestado de gasóleo e eletrões, com a autonomia combinada a anunciar 1135 km! Cinquenta quilómetros de recados em ambiente maioritariamente urbano, 32 km dos quais percorridos em modo EV, resultaram em médias de 4 l/100 km e 17,7 kWh/100 km.
Sem vaga nos carregadores Mobi.e ao pé de casa, partimos para uma viagem de autoestrada com zero quilómetros de autonomia elétrica. O cenário ideal para testar as qualidades do diesel híbrido PHEV.
Não desiludiu. Ao fim de 77 km registava uma média de 6,4 l/100 km e tinha percorrido 17 km em modo EV com a energia recuperada nas travagens e descidas.
Viajante descontraído
Funcionando de forma autónoma, o sistema híbrido utiliza o radar de proximidade, mesmo quando o cruise control adaptativo não está ativo, para travar suavemente o E 300 de sempre que este se aproxima do veículo da frente. Sente-se a desaceleração, sem chegar a ser irritante.
Faz parte do temperamento descontraído de este Classe E, sem pressas para percorrer as nove relações da caixa 9G-Tronic ou acelerar. Parece mesmo indeciso sobre que motor escolher quando se esgota o curso de acelerador até ao ressalto antes do kick-down. Tratando o pedal direito com calma responde com uma progressividade que só é possível com a ajuda do motor elétrico para o arranque.
Depois do silêncio do motor elétrico, as aparições do diesel, que até é bastante refinado, parecem ensurdecedoras. É aqui que se sente a falta do equilíbrio de um bloco seis cilindros, amplamente compensada pela maior eficácia do conjunto, que em estrada registou média de 3,7 l/100 km.
Consumos controlados
O balanço suave das curvas longas evidencia o excesso de peso, que a direção se esforça por filtrar do eixo dianteiro. Nada de extraordinário num estradista nato, claramente focado no conforto e na eficácia em detrimento das performances puras.
Depois de uma noite à carga foi altura de testar a autonomia elétrica. Desenhámos um circuito misto e ao fim de 34 km esgotámos a bateria, com o sistema a anunciar uma média de 26,3 kWh/100 km.
No total, rodámos 517 km com o Mercedes E 300 de. Mais do que as médias globais de 6,5 l/100 km e 4,7 kWh/100 km importa registar que 164 km foram percorridos em modo EV. Um valor surpreendente atendendo a que as cargas de bateria na tomada só chegaram para 66 km do total.
Outro dado interessante é o tempo total de viagem: passámos 10:22 h ao volante, 5:44 h das quais em modo EV. Muito tempo para rodar poucos quilómetros, significa que o E 300 de cumpriu o objetivo de circular em cidade e no para-arranca com emissões zero.
Se esta vantagem é suficiente para justificar os 9350 € que acrescenta ao preço da carrinha E 220 d, só o sentido ambiental do proprietário o poderá dizer. Nós ficámos rendidos à progressividade do motor diesel, auxiliado pelo elétrico, e ao tempo que passámos ao volante sem produzir emissões.
Há uma versão E 300 e a gasolina, com 320 cv de potência combinada (211 cv do bloco de dois litros a gasolina, mais os 122 do motor elétrico), mas duvidamos que a autonomia real possa chegar aos 1000 km, quanto mais ultrapassá-los.
Ensaio publicado na íntegra na Turbo 454