A Mercedes-Benz já foi dona da Audi em 1959 e esteve à beira de comprar a BMW. O negócio só não se concretizou porque os acionistas do fabricante de Munique rejeitaram o plano de reestruturação. A Auto Union, que deu origem à Audi, acabaria por ser comprada pelo Grupo Volkswagen.
A rivalidade entre as marcas premium alemãs é antiga, mas a Mercedes-Benz, a Audi e a BMW estiveram próximas de serem detidas pela mesma entidade. Na verdade, duas delas estiveram juntas durante alguns anos antes de seguirem caminhos separados.
Tudo começou em 1958 quando a "dona" da Mercedes-Benz, a então Daimler-Benz, deu luz verde para a aquisição de quase 88% da Auto Union, construtor automóvel que era proprietário da Audi e de três outras marcas.
A Auto Union tinha sido constituída em 1932 e era detentora da Audi, Horch, DKW e Wanderer. A Auto Union praticamente desapareceu após a Segunda Guerra Mundial até ser ressuscitada em 1949.
Um dos grandes acionistas da Daimler-Benz, Friedrich Flickr, teve a ideia de juntar a Mercedes-Benz e a Auto Union. Ele acreditava que seria positivo trabalharem juntas para obtenção de sinergias e redução de custos. Menos de dois anos depois, as duas empresas selavam um acordo, com a marca de luxo com a estrela de três pontas a adquirir as ações remanescentes. O negócio tornou efetivamente a Audi numa subsidiária detida totalmente pela Daimler-Benz.
Tentativa de compra da BMW
O ano de 1959 poderia ter sido ainda mais importante se tivesse sido concretizado um negócio entre duas marcas alemãs premium. A Daimler-Benz ainda andava às compras e quase adquiriu a BMW, poucos meses depois de ter fechado o negócio da Auto Union.
Na reunião anual de acionistas da BMW em dezembro de 1959 esteve em cima da mesa, segundo um comunicado de imprensa da marca de Munique "a venda da empresa à Daimler Benz AG" a qual parecia ter um desfecho já anunciado.
Na verdade, a BMW estava em sérias dificuldades no final da década de 1950 devido às reduzidas vendas de automóveis e motociclos. O referido comunicado de imprensa deixa entender que a empresa "estava à beira de um colapso financeiro".
Encontrar um novo dono parecia ser a solução para salvar a BMW de uma crise ainda maior. Embora a venda à Daimler-Benz parecesse ser um acordo fechado, o negócio acabou por nunca acontecer porque à última hora os pequenos acionistas da BMW não concordaram com o plano de reestruturação que fazia parte da aquisição.
Os pequenos acionistas consideraram que a BMW e os seus funcionários tinham sido subavaliados. Como consequência, a BMW continuou a ser uma marca independente e a enfrentar dificuldades em 1960 até que o acionista Herbert Quandt apresentou um plano de reestruturação. O novo 700 conseguiu recuperar as vendas, mas só quando chegou o 1500 da gama Neue Klasse é que o destino da BMW mudou significativamente para resultados positivos.
Volkswagen adquire Auto Union
Apesar do negócio com a BMW não ser ter concretizado, a Daimler-Benz ainda detinha a Auto Union, mas não durante muito tempo. A 1 de janeiro de 1965, a Volkswagen tornou-se no principal acionista da Auto Union ao adquirir 50,3% do capital.
No final de 1966, a Volkswagen comprou a parte restante e avançou com a fusão entre a Auto Union e a NSU Motorenwerke em 1969, dando origem à Audi NSU Auto Union AG. Em 1985, transformou-se na Audi AG que todos conhecemos.
A ligação entre a Auto Union e a Daimler-Benz teve, no entanto, os seus frutos. Os engenheiros do fabricante de Estugarda foram enviados de Untertürkheim para Inglostadt para trabalharem num novo motor de quatro cilindros. Projetado em Estugarda, o M118 fez a estreia num automóvel da Audi em setembro de 1965 e foi o primeiro modelo da Auto Union com motor de quatro cilindros desde a Segunda Guerra Mundial.
Além disso foi o primeiro modelo do Pós-Guerra com os quatro anéis. Foi chamado simplesmente de Audi até ser rebatizado como Audi 72 devido à potência do motor (72 cv).
No âmbito deste negócio, Auto Union alugou as suas instalações de Düsseldorf à Daimler-Benz em 1962. Quando, três anos depois, a Volkswagen adquiriu a Auto Union, a Daimler-Benz manteve a fábrica até aos dias de hoje. Atualmente é a maior fábrica de veículos comerciais da Mercedes-Benz. Começou por produzir um modelo que ficou conhecido por "Düsseldorf Transporter" e hoje em dia é a principal fábrica onde é construído o modelo Sprinter.
Projetos que não viram a luz do dia
A associação entre a Daimler-Benz e a Auto Union também esteve na origem do proteto de uma berlina compacta, conhecida internamente com o nome de código W118. O veículo tinha o motor M118 com carburador, mas nunca passou da fase de protótipo. A Mercedes-Benz ainda criou uma variante coupé, designada W119, mas também não viu a luz do dia.
Aqueles projetos foram desenvolvidos em 1962 e tinham tração dianteira. Em dezembro de 1965, pouco antes da sua reforma, o diretor de desenvolvimento da Mercedes-Benz Fritz Nallinger explicou o que seriam os carros.
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"Na altura estava previsto que este modelo - que, já estava a ser testado por nós - iria ser produzido pela BMW ou pela Auto Union. Sou da opinião que o segundo modelo, que pode ser considerado de entrada na gama, deve ser construído e testado o mais rapidamente possível".
Contudo, tal nunca veio a acontecer. Só em 1982 é que a Mercedes-Benz teve um modelo de entrada de gama, com o lançamento do W201, o antecessor indireto do atual Mercedes-Benz Classe C, mas este último com um posicionamento diferente, já que tecnicamente não é um modelo de acesso.