Fomos a Graz conhecer as linhas de montagem que dão forma à última das lendas do TT: o Mercedes Classe G. Há muito trabalho manual e atenção ao ínfimo detalhe, como seria de esperar do modelo mais caro do construtor da estrela.
É curioso pensar que o modelo mais dispendioso do alinhamento da Mercedes seja… um jipe. E dos bons.
Não questionamos as capacidades para subir passeios dos restantes SUV da marca da estrela. São bons, confortáveis e modernos. Mas estamos a falar do Classe G e o G não é um SUV nem sobe passeios. É um jipe e trepa paredes.
Parece um exagero. Até porque a última coisa a passar pela cabeça de quem gasta 161 950 € na versão base, o V8 de quatro litros e 422 cv, é andar com o G 500 aos saltos num caminho de cabras. Mas foi o que fizemos e não custou nada. Definitivamente, o G nasceu para aquele tipo de utilização.
Se a consulta da tabela de preços pode induzir em erro, a visita às linhas de montagem do Classe G na Magna Steyr, na Áustria, ajuda a perceber o posicionamento. Não arriscamos afirmar que seja o melhor todo-o-terreno do mundo, mas foi com esse objetivo que foi idealizado, no início da década de setenta.
Quatro décadas depois, ao contrário da generalidade dos automóveis, o design não mudou. Evoluiu ligeiramente, mas as linhas tipo caixote, as dobradiças à vista, os piscas dianteiros proeminentes ou o portão traseiro com abertura lateral e pneu pendurado mantêm-se. A razão é tão simples como o fechar e trancar das portas tipo portão de quinta: se não fosse assim não era um Mercedes Classe G.
Segurança reforçada
Por essa razão recebeu importantes evoluções tecnológicas e de segurança, como os sistemas de apoio à condução do Classe E, sem abrir mão do chassis de longarinas. De outra forma seria impossível manter a rigidez e capacidade de transposição de obstáculos que o transformaram numa lenda.
A frente foi redesenhada para proteger os peões em caso de impacto e os piscas saídos precisaram de uma homologação especial, mas estão lá para, apesar das câmaras com visão 360º, indicarem ao condutor os limites do G.
Só um chassis de longarinas, como o do G, com suspensão independente dianteira, com torres de amortecedores reforçadas, e eixo traseiro rígido de cinco braços, permite tanta amplitude de movimentos verticais às rodas sem comprometer a estabilidade.
Avançando ao longo da linha de montagem chega-se à zona dos motores e transmissões.
À distância, formando uma muralha com quatro unidades de altura e não conseguimos contar as do comprimento, blocos V8 4.0, com e sem tratamento AMG, aguardam a vez de se juntarem às caixas automáticas de nove velocidades, completando a transmissão.
Feito à mão
Linhas de escape completas, discos de travão e maxilas, jantes, consolas centrais ou painéis de instrumentos são apenas um exemplo dos inúmeros componentes que dão forma ao Mercedes Classe G e colorido à linha de montagem.
Chamaram-nos a atenção para os bancos. Da estrutura interna ao forro em pele, são montados "in situ" por uma equipa dedicada, que faz tudo à mão, do corte da pele ao manuseamento preciso da máquina de costura.
Depois de ver todo este cuidado custa lançar um Classe G às feras. Ou às pedras, como fizemos.
No entanto, a facilidade com que o G 500 passou, literalmente, por cima de toda a pedra mostrou que o jipe mais caro da Mercedes não está desconfortável fora do alcatrão. Pelo contrário.
Mesmo quando os instrutores aceleraram encosta abaixo, saltando sobre pedras que no percurso inverso precisaram dos bloqueios central e traseiro para serem transpostas, nunca perdeu a sensação de controlo e segurança.
No final, recordaram-nos que, do ponto de vista da mecânica, aquela estava longe de ser uma forma saudável de fazer TT. Mas, se fosse para conduzir assim, que se conduzisse um Mercedes Classe G.