Para fazer deslocar as limusinas de luxo da Maybach, a Mercedes-Benz pensou em desenvolver um motor de 24 cilindros, mas este nunca chegou a ver a luz do dia.
Nos finais do século passado e início do autal, a indústria automóvel atravessava o seu momento alto. As marcas atreviam-se a fazer qualquer tipo de desenvolvimento técnico porque o risco de fracassar era diminuto face às elevadas receitas. O setor estava igualmente numa fase de transição para a era da eletrónica e a digitalização facilitava a obtenção de resultados.
Entre os principais avanços tecnológicos, um dos mais espetaculares terá o motor sobrealimentado W16 da Volkswagen que acabaria por ter como destino o Bugatti Veyron. Mas essa não foi a única loucura de uma época em que se acreditava que os motores dos automóveis seriam sempre de combustão.
Para responder ao W16 da Volkswagen, a Mercedes-Benz quis construir um motor com 24 cilindros, que se destinava a relançar em grande a sua "nova" marca de luxo, a Maybach.
Renascimento em grande
Wilhelm e Karl Maybach fundaram a sua empresa na Alemanha em 1909. Inicialmente, a empresa dedicava-se à construção de motores para aeróstatos (balões de ar quente) e, ao longo dos anos foi evoluindo até que, em 1960, a Daimler se tornou mo seu principal acionista.
Quatro décadas mais, e depois de se ter ocupado da divisão de impulsores pesados da multinacional germânica, a administração da Mercedes-Benz decidiu criar uma marca de luxo extremo, posicionada acima da habitual estrela de três pontas. Assim, renascia o duplo M.
Como resultado dessa estratégia surgiram os modelos 57 e 62, com comprimentos até 6,17 metros, pesos em vazio (tara) de 3,4 toneladas e uma dotação de equipamento mais que completa, alguma dela oriunda do setor aeronáutico.
Cheque em branco
A Maybach Motorenbau recebeu, desde o seu ressurgimento em 2002 até 2013, um cheque em branco da Daimler para criar os melhores automóveis do mundo, competindo diretamente com a Bentley (VAG) e com a Rolls-Royce (BMW), com "limusinas", cujos preços, há mais de 20 anos, ultrapassavam os 400 mil euros.
Para fazer deslocar esses veículos, a Mercedes-Benz tinha de criar um motor com uma elevada potência, inclusivamente para os padrões da altura, onde as motorizações turbodiesel já dominavam o mercado.
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Face às aquisições das duas marcas de luxo britânicas pelas suas rivais germânicas e para competir no segmento da opulência máxima (com grandes berlinas que utilizavam blocos W12 a gasolina), a equipa de engenharia de Estugarda pensou numa diferenciação com um monstruoso V24. A ideia era para ser concretizada em 1999, mas acabou por cai por terra.
Custos astronómicos
Inicialmente, a Mercedes-Benz pensou unir dois dos seus V12 (como aqueles utilizados no Classe S W220) para construir um propulsor único e pioneiro na indústria, cujos números eram tão espetaculares como hipotéticos: cilindrada de 12 litros, 72 válvulas, 550 quilos de peso e mais de 1000 cv de potência.
Na verdade, os novos Maybach acabaram por ser lançados com um bloco V12 biturbo com 612 cv, sendo a potência superior aos seus "primos" da Mercedes-Benz.
Segundo os engenheiros encarregues do projeto, um motor V12 até poderia caber por baixo do grande capot dos Maybach, mas isso seria acompanhado por um conjunto de problemas, o que acabou por por de lado esta ideia e adotar uma solução mais tradicional. Como consequência não deixavam de ser uns Classe S transformados, já que usavam a mesma plataforma.
Além disso, o consumo de combustível do V24 também deveria ser enorme, obrigando à instalação de um depósito de 150 litros para a obtenção de autonomias aceitáveis, enquanto as emissões provavelmente também não cumpririam os limites da norma Euro 3.
Os custos astronómicos de desenvolvimento e produção, dificilmente amortizáveis, levaram os alemães a colocar a razão à frente do coração e acabariam por não avançar com este V24.