Mais do que as quatro portas, o conforto ou a exclusividade, o que define este Mercedes-AMG GT 63 S 4Matic+ de quatro portas é o motor. V8, quatro litros e 639 cv! Potência em estado puro para desfrutar sem moderação.
Entre os 4,13 metros de comprimento do SLC e os 5,46 metros do Mercedes-Maybach S, a Mercedes disponibiliza mais de duas dezenas de carroçarias. Uma variedade que sugere haver um modelo da marca da estrela para cada segmento ou sub-segmento de mercado premium.
E no entanto… há nove anos, desde que foi apresentado em 2010, que o Porsche Panamera não tinha qualquer concorrência do construtor conterrâneo de Estugarda.
Uma lacuna colmatada pelo novo Mercedes-AMG GT 4 portas Coupé, berlina desenvolvida pela AMG com nome inspirado no Mercedes-AMG GT C Coupé original.
As semelhanças com o coupé de três portas e dois lugares ficam-se pelo nome. Em vez de esticar o GT original, a AMG trabalhou sobre a plataforma MRA, comum a modelos como Classe C, E ou CLS.
Sendo um desportivo, as intervenções centraram-se no aumento da rigidez estrutural. Há pormenores tão rebuscados como a utilização de uma divisória em de fibra de carbono nas costas da fila traseira de bancos. Um reforço incompatível com a opção do terceiro lugar (850 €) presente na nossa unidade.
Em jeito de compensação pela perda de rigidez, os 461 litros da mala passam a poder ser ampliados até aos 1324 l, opção que deve ter tanta utilidade num Mercedes-AMG GT 63 S 4Matic+ como o lugar do meio atrás…
V8 de quatro litros
Quando nos sentamos ao volante do Mercedes-AMG GT 63 S 4Matic+ o foco passa instantaneamente para o V8 de quatro litros sobrealimentado, com 639 cv e 900 Nm de binário entre as 2500 rpm e as 4500 rpm. É o mesmo bloco do E 63 S (612 cv) com a potência revista em alta e, a exemplo do Classe E, uma versão menos vitaminada, AMG GT 63, com 585 cv.
Entre as duas versões há 17 000 € de diferença.
Um gesto simples como pressionar o botão de arranque do motor é o suficiente para despertar o formigueiro da antecipação. Poucos preparadores sabem afinar escapes tão bem como a AMG. O V8 acorda com estrondo, que se pode prolongar pressionando o botão respetivo na consola central.
Escape potente
No lugar dos botões tradicionais, a nova consola do AMG GT utiliza pequenos ecrãs TFT embutidos, cuja imagem muda de acordo com a função selecionada.
Por baixo dos braços horizontais do volante, inspirado no do Classe E, com um par de botões capacitivos para aceder ao arsenal eletrónico, há mais dois ecrãs TFT programáveis.
Com o escape a troar como uma orquestra sonora e bem afinada, há um nervoso miudinho que se apodera do pé direito, impedindo que as manobras sejam feitas com uma aceleração suave e contínua.
Os toques de acelerador para ouvir as explosões lá atrás são tão irresistíveis como as acelerações que se fazem apenas para ouvir os rateres provocados pelo alívio do pedal direito. Podem ser artificiais, mas fazem maravilhas pela boa disposição do condutor.
Motor brutal
Classificar um motor como sendo brutal parece pouco sofisticado, mas é o termo que melhor define este V8 da família M177, com 3982 cc e os turbos arrumados no ângulo de 90 graus formado pelas duas bancadas de cilindros. Esta arquitetura, juntamente com coletores de escape duplos melhorados, garante uma resposta impressionante ao longo de toda a faixa de utilização.
O atraso do turbo foi praticamente eliminado, com a disponibilidade do binário desde os regimes mais baixos a garantir prestações de superdesportivo.
O AMG GT 63 S é uma berlina de cinco metros, quatro portas e 2,1 toneladas que dispara até aos 100 km/h em 3,2 segundos. Dois décimos de segundo mais rápido que o Porsche Panamera Turbo S E-Hybrid com 680 cv e "apenas" 850 Nm.
AMG Speedshift MCT 9
Bem colado ao asfalto e com uma direção tão direta como comunicativa, é fácil deixar-se levar pela ilusão de estar a conduzir um desportivo mais pequeno e leve. Os movimentos controlados da carroçaria e a disponibilidade do motor enganam.
Seguramente uma das transmissões automáticas mais rápidas do construtor, a caixa AMG Speedshift MCT 9 explora bem a capacidade de entrega do V8 nas últimas 1000 rpm, antes do corte às 7000 rpm.
Sem as limitações de motricidade sobre pisos menos que perfeitos de outros AMG, este AMG GT 63 S convida a explorar os modos de condução mais desportivos.
Volante, motor, caixa, acelerador e suspensão sobem patamares de intensidade e dramatismo, na mesma medida em que a eletrónica se vai tornando mais permissiva.
Até a traseira se torna fácil de provocar. Basta manter velocidades relativamente baixas, sem transferir muito peso para a frente, para que a tração integral não feche a curva acabando com a brincadeira.
Estado Zen
Despois das emoções fortes e da descarga de adrenalina provocadas pela condução desportiva, atinge-se um estado de elevação, quase zen.
É o momento em que se ativa o modo Confort, seleciona um jazz tranquilo na biblioteca de músicas do smartphone e se conduz apenas com quatro cilindros.
É um excelente exercício de descontração, observar o ícone azul do painel de instrumentos, indicando que a desativação de cilindros está a funcionar enquanto rodamos a 130 km/h por volta as 1800 rpm.
É aquele momento que se percebe que os consumos não vão baixar dos 13,2 l/100 km. É também aquele momento em que se pergunta: e o que é que isso interessa a quem compra um desportivo com um V8 de quatro litros e 639 cv?
Ensaio publicado na íntegra na Turbo 450