Como um bom vinho, o Mazda MX-5 sabe envelhecer. Apurado por três décadas de evolução, a colheita atual refinou o comportamento e reforçou as tecnologias de segurança e apoio ao condutor.
No dia nove de fevereiro de 1989, o Salão Automóvel de Chicago apresentou ao mundo aquele que, onze anos mais tarde, com a produção a ultrapassar as 531 890 unidades, viria a ser reconhecido pelo Livro de Recordes do Guinness como o roadster mais vendido da história. O Mazda MX-5.
A certificação foi atualizada em abril de 2016, quando a produção ultrapassou o milhão de unidades, tendo as vendas atualmente superado as 1 055 000 unidades.
Por detrás do segredo do sucesso do Mazda MX-5 está a simplicidade do conceito: dois lugares, descapotável, compacto, motor dianteiro, tração traseira, suspensão de duplos triângulos à frente e atrás, centro de gravidade baixo e apenas 955 kg equitativamente distribuídos pelos dois eixos. Poucas vezes um caderno de encargos terá sido tão simples e tão escrupulosamente cumprido, permitindo manter o preço controlado e fazer do Mazda MX-5 um caso de sucesso à escala global.
Comparando as quatro gerações, é fácil confundir a continuidade das linhas exteriores com falta de investimento no design quando, na verdade, acontece o contrário.
A Mazda desafia os seus criativos a desenvolverem os novos modelos com uma única premissa: a inconfundível silhueta do roadster deve ser facilmente reconhecível a uma distância de 100 metros. Foi assim em 1998, com a segunda geração (NB), em 2005, terceira geração (NC), e 2015, com a atual quarta geração ND.
Não há amor como o primeiro
Diz-se que não há amor com o primeiro e a primeira geração do Mazda MX-5 é simplesmente perfeita. Pequeno, elegante e com um "feeling" mecânico como só um desportivo, ainda que animado por um modesto bloco 1.6, com 30 anos pode oferecer.
Não tem motor para se atravessar nas curvas – até talvez tenha mas, por respeito à idade e atenção à falta de peças, não o provocámos em excesso – no entanto, a combinação entre o bloco de 116 cv e a caixa de cinco velocidades é perfeita!
Do peso da embraiagem ao curso do seletor tem um toque mecânico, puro, como nenhum sistema eletrónico consegue, sequer, simular.
Com volante fixo e regulações limitadas para o banco, a posição de condução é… a possível.
Fino e de grande diâmetro, o volante remete para os modelos clássicos, ao mesmo tempo que promove contacto desnecessário entre os joelhos e as mãos nas curvas mais apertadas. Tudo se perdoa a um modelo que, verdadeiramente, representa a materialização do conceito Jinba Ittai – condutor e máquina como um todo – tão apreciado pelos responsáveis da Mazda.
Na verdade, quando nos sentamos ao volante da segunda geração até estranhamos a leveza da direção assistida. O NA não tinha e não lhe fazia falta nenhuma.
O NB é, assim, um descapotável mais moderno. Conduz-se como uma evolução do original, com o motor 1.8 a chagar aos 141 cv, gerido por uma bem oleada caixa de cinco velocidades. Mas não é a mesma coisa…
A traseira é mais fácil de provocar, o volante é ligeiramente mais pequeno e a regulação em altura permite afastá-lo das pernas, a posição de condução melhora, tal como o conforto, mas perde-se a ligação direta à máquina. E, até ver, os faróis escamoteáveis.
Excesso de filtro
Fazendo do conforto um dos argumentos mais fortes, o MX-5 de terceira geração é o mais distante do condutor.
Conduzido isoladamente não transmite essa impressão, e até pode ser da unidade ensaiada, mas este NC, com motor MZR 2.0 de 160 cv, mostrou-se sempre excessivamente macio.
Há uma evidente perda de informação entre as rodas e o volante, com a frente a afundar nas travagens e as transferências de massas a saírem mais enroladas que o desejável.
A traseira mexe-se bem e a caixa de seis velocidades parece manteiga. No entanto, a secção inferior do tablier invade o espaço da canela, atrapalhando os movimentos do ponta/tacão.
Exclusivo da terceira geração foi o tejadilho retrátil. Proposto como alternativa à capota têxtil original fez do MX-5, provavelmente, o CC mais elegante do seu tempo.
Agora temos o RF, mas não é a mesma coisa… Por isso, conduzimos o renovado motor 2.0 Skyactiv-G num MX-5 com capota têxtil. Até prova em contrário, a solução mais simples e rápida de abrir e fechar do mercado. Com um único fecho central, basta abri-lo e empurrar a estrutura da capota para trás e confirmar que ficou presa na posição aberta para tornar o MX-5 descapotável. Faz-se com um braço e demora menos tempo do que o precisou para ler a descrição.
O processo inverso tem procedimento e duração semelhantes.
Ordem cronológica
Para celebrar o 30º aniversário do MX-5, e cumprir as mais recentes normas de emissões, a Mazda efetuou uma revisão profunda ao bloco de dois litros e quatro cilindros.
Alterações de pormenor em diversos componentes que, no conjunto, resultam num ganho de 24 cv e no, muito agradável, aumento do regime máximo das 6800 rpm para as 7500 rpm. Mais modesto, o benefício do binário é de 5 Nm, ficando o valor máximo nos 205 Nm às 4000 rpm.
Conduzindo as quatro gerações por ordem cronológica perdura a sensação de regresso às origens. Como se a quarta geração (ND) representasse uma aproximação à segunda (NB), com o motor progressivo e a caixa bem oleada a evocarem os MX-5 da viragem do milénio.
As seis relações da caixa entram sem esforço, com um movimento natural do pulso, tanto em condução descontraída como em momentos mais empenhados.
Sem necessidade de turbos para oferecer prestações interessantes, os 1105 kg dão uma ajuda neste campo, o motor 2.0 Skyactiv-G também pode ser visto como uma aproximação às origens. Com os 184 cv a chegarem às 7000 rpm, convida a explorar toda a faixa de utilização, que vai até às 7500 rpm.
Indicada para uma condução quotidiana e descontraída, é na primeira parte de este intervalo que mais se sente o elástico do binário. Depois é potência pura, que a progressividade do motor permite dosear com precisão cirúrgica.
Mais firme
Mais firme que na terceira geração (NC), a suspensão não perdeu a capacidade de absorver as irregularidades do piso. Faz do MX-5 um roadster confortável, pouco sensível a tampas de saneamento ou juntas de dilatação, e composto na abordagem às curvas.
A frente não vacila, mantendo uma linha de comunicação direta com a direção. Esta, trabalha em perfeita sintonia com a traseira e o acelerador, permitindo ao condutor decidir como desenhar a curva.
Esta versatilidade faz do Mazda MX-5 mais do que um mero brinquedo de fim-de-semana.
Com menos de quatro metros de comprimento não tem problemas em encontrar onde estacionar, mesmo que a brecagem limitada possa obrigar a algum trabalho de braços extra.
Os 130 litros da bagageira também não impressionam, ainda que sejam complementados por porta-luvas de dimensões razoáveis atrás dos bancos e por um pequeno compartimento na consola central.
Mais do que brinquedo de fim-de-semana
A regulação do volante em altura e profundidade resolve o problema da posição de condução, comum às três primeiras gerações.
O painel de instrumentos resiste à tendência digital, mantendo um taquímetro analógico bem centrado com o condutor. À direita, o velocímetro pode ser obstruído pelo volante, cujos botões do lado esquerdo comandam a informação do computador de bordo, apresentada no ecrã correspondente do painel de instrumentos.
Sabemos que não é possível, nem queríamos, colocar a tecnologia do Século XXI no MX-5 original. É a pureza do conceito que o torna único. Por isso, podendo escolher, optamos por um Mazda MX-5 NA como brinquedo de fim-de-semana, com um Mazda MX-5 ND para os outros dias da semana.
Ensaio publicado na íntegra na Turbo 451