Estivemos em Hiroshima, no Japão, para celebrar os 100 anos da Mazda e testemunhar o seu passado tecnológico de referência. Do motor Wankel ao MX-5, passando pelo desportivo RX-8. Uma história fascinante marcada pela inovação.
[smartslider3 slider=212]A Mazda está a comemorar 100 anos desde a sua fundação. Mesmo que não seja um líder de vendas, a Mazda tem tido um papel de primeira linha no desenvolvimento de novas tecnologias e de alguns dos automóveis mais emblemáticos. No primeiro caso, recordamos os motores Wankel e SkyActiv, enquanto no segundo a lista é vasta e inclui designações emblemáticas como o MX-5 ou o RX-8, apenas para citar alguns exemplos.
Visitámos o "coração" da Mazda, em Hiroshima, no Japão, e testemunhámos a importância da empresa para a cidade onde se assume como o maior empregador. Uma importância que foi ainda maior no período imediatamente posterior à Segunda Grande Guerra Mundial, após 1945, quando a Mazda assumiu um papel social que cabe recordar nestes dias difíceis que o Mundo está a viver.
Em Hiroshima, visitámos, como referimos, o imenso complexo industrial que inclui uma fábrica com cinco linhas de montagem, onde trabalham 16 mil trabalhadores, e podem ser produzidas, em simultâneo, até sete tipologias diferentes de carroçarias: do CX-30 ao MX-5, passando pelos Mazda 3.
É aqui que está igualmente localizado o excelente Museu Mazda que reproduz, de forma fiel, uma longa história de liderança tecnológica iniciada em 1920, desde logo para dar resposta às necessidades dos japoneses, nomeadamente produzindo artigos em cortiça, o que explica a primeira designação da empresa fundada por Jujiro Matsuda: Toyo Cork Kogyoco Ltd. Em tempos de mudanças aceleradas, num período em que o Japão dava os primeiros passos no caminho da industrialização, a Mazda (a designação evoca a proximidade fonética face ao nome do fundador) não tardou a converter a sua atividade, passando a produzir máquinas e ferramentas diversas, a partir de 1929.
Um triciclo que encantou
Com o número de empregados a aumentar e a procura a crescer muito para lá de Hiroshima depressa se tornou notória a necessidade de transporte dos bens produzidos, algo que foi comum à generalidade das indústrias e ateliers de produção. E foi por isso que em 1931 surgiu o Mazdago, um triciclo de transporte de mercadorias (podia transportar até 400kg) que mostrava, pela primeira vez, a faceta inovadora da Mazda ao ter uma construção em que motor e transmissão formavam uma estrutura única. Tratava-se, a propósito, de um motor monocilíndrico Mitsubishi de 654 cc, com 13 cv de potência, arrefecido a ar.
O Mazdago viria a conhecer um par de evoluções, com destaque, em 1961, para o T2000 que tinha já volante e um motor Mazda de quatro cilindros, com 1985 cc e 81 cv de potência, possibilitando o transporte de até 2000 kg de mercadorias. O sucesso foi tremendo, tendo-se mantido em comercialização durante mais de dez anos.
O primeiro automóvel
Isto apesar de em 1960 a Mazda lançar o seu primeiro automóvel de passageiros, com quatro rodas, o R360 Coupé que beneficiava de um preço muito competitivo (300 000 yen, 2540€ em conversão direta), numa altura em que a televisão a preto e branco estava a mudar os hábitos das pessoas e a impulsionar uma vida de liberdade e convívio.
Além do preço e de uma aparência que imediatamente agradou, o R360 Coupé contava com um interior acolhedor para quatro ocupantes e uma mecânica onde se destacava o motor de dois cilindros de 356 cc, com 16 cv.
Apenas dois anos depois, em 1962, a Mazda dava outro passo significativo com o lançamento do Carol, com carroçaria de quatro portas e 3,2 metros de comprimento. A evolução tecnológica do Japão, em especial da indústria automóvel, caminhava a passo acelerado e a Mazda beneficiava disso mesmo. A prová-lo está o motor de quatro cilindros, com apenas 586 cc e 28 cv de potência e principalmente o interior mais espaçoso que se destacava, já na altura, pelo silêncio e conforto.
Década de ouro
A década de 60 deixou uma marca profunda na história da Mazda tendo sido lançados, nesse período, modelos como o Família 800 Sedan (para cinco ocupantes) e o Luce 1500 Sedan. Por razões diversas, cada um tem um papel crucial na história da Mazda. No caso do Família ao incorporar, pela primeira vez, um motor de quatro cilindros inteiramente construído em alumínio (conhecido como o "Motor Branco"), com 782 cc e 42 cv de potência. Já o Luce, desenhado em colaboração com a Bertone, além da possibilidade de alojar até seis pessoas, foi o carro utilizado pelos Beatles quando em 1969 visitaram o Japão, beneficiando, já então, de uma promoção mil vezes superior a potenciada por qualquer rede social nos dias de hoje.
Ainda nos anos 60, concretamente em 1967, a Mazda lança outro modelo fundamental para a sua história: o Cosmo Sport. Coube-lhe a estreia do primeiro motor rotativo (Wankel), com dois rotores de 491 cc e uma potência de 128 cv. O princípio de funcionamento que, até então, todos apontavam como impossível de concretizar, cedo revelou diversas vantagens, como a elevada potência para tão baixa cilindrada.
Wankel: o impossível…possível
Um princípio que foi sendo aprimorado durante a década de 70, durante a qual foram apresentados modelos muito importante para a consolidação do trajeto da Mazda, casos da segunda geração do Família (323), e do Capella (626), em 1977. Logo no ano seguinte surgiria o desportivo RX-7 que às linhas muito desportivas, com uma carroçaria de quatro portas, juntava a utilização de um motor Wankel, desta vez com dois rotores de 573 cc e uma potência de 165 cv. A construção ligeira, a elevada potência e a colocação do motor na frente numa posição muito recuada, permitiam um desempenho dinâmico de referência que apaixonou imediatamente os mercados europeu e americano.
O RX-7 foi, na verdade, o responsável pela sólida afirmação da Mazda no mercado americano, numa tarefa que teria o contributo fundamental daquele que é o ícone da marca: o MX-5, ou Miata, lançado em 1989. Aquela que é hoje tida como a referência da ideia "roadster" não tardou a afirmar a capacidade criativa da Mazda e a conquistar clientes fascinados pelo espírito descomprometido deste pequeno automóvel que juntava à simplicidade interior uma condução divertida, tudo com um preço que estava ao alcance de quase todos. Para muitos, na verdade, o Miata (MX-5) é "o" roadster; o Miata é "a" Mazda.
Sempre a inovar
Mesmo que pelo caminho tenham sido lançados outros modelos capazes de ilustrar o espírito pioneiro da marca, como o Demio, o primeiro monovolume compacto, ou o RX-8 (em 2013), cujo motor rotativo de 1,3 litros disponibilizava nada menos do que 250 cv, numa demonstração das capacidades desta tecnologia que haveria de ficar plenamente demonstradas através da sua utilização sistemática na competição, em especial nas 24 Horas de Le Mans que a Mazda venceu em 1991, com o 787B que utilizava um motor com 4 rotores de 654 cc cada que gerava uma potência de 700 cv.
Com diversas patentes e inúmeros prémios de tecnologia ganhos ao longo de uma história centenária, o último dos quais com a tecnologia Skyactiv, a Mazda entra no segundo século da sua existência com um legado incomparável que é o "combustível" para enfrentar os novos desafios, como é o caso da eletrificação. Sempre com recurso à capacidade inventiva, como é já evidente no seu primeiro modelo 100% elétrico, o MX-30 que começará a ser comercializado no final deste ano.
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