Superdesportivo de pleno direito, o MC20 é uma homenagem ao legado histórico da Maserati na competição. Um tridente com 630 cv capaz de arrancar até aos 100 km/h em 2,9 segundos.
Esqueça a história recente da Maserati. Esqueça as berlinas e os coupés luxuosos com motores potentes, espírito GT e tendência para cair no esquecimento. Esqueça até os SUV que sustentam o renascer do tridente.
O MC20 é um conceito completamente diferente. Um verdadeiro tributo ao histórico da Maserati na competição, por onde passou Juan Manuel Fangio. Uma história repleta de sucessos que terminou abruptamente em 1957.
No rescaldo de um acidente nas Mille Miglia, o despiste de um Ferrari numa aldeia provocou a morte ao piloto e a dez espectadores, a Itália proibiu as provas de estrada. Esta restrição arrumou o projeto desportivo construtor. Foi preciso a Stellantis entrar em cena, acompanhada de um investimento substancial, para a Maserati regressar aos desportivos. Os planos do grupo incluíam a criação de um modelo de referência. Um desportivo para marcar o novo capítulo na história do tridente, com motor próprio e monocoque em fibra de carbono.
Tridente de Neptuno
Batizado Nettuno, Neptuno, deus do mar em italiano, o primeiro motor concebido pela Maserati em duas décadas, utilizou esboços na gaveta desde 2018. A produção do novo bloco decorreu maioritariamente no Engine Lab do Maserati Innovation Lab, em Modena. A nonocoque em carbono foi encomendada aos vizinhos da Dallara, em Verano de Melagri. Entre os diversos desafios associados à conceção de um automóvel novo, houve um que marcou o perfil do MC20: montar um motor central numa estrutura capaz de acomodar uma cadeia cinemática elétrica, assegurando a transição energética da Maserati.
Para complicar ainda mais o design, a linha de tejadilho tinha de ser baixa e aerodinâmica. Uma opção de estilo que não só limitava o espaço superior, como obrigava a mover todos os perfis aerodinâmicos geradores de downforce para secção inferior da carroçaria. Estas restrições acabaram por direcionar a Maserati para uma arquitetura compacta de seis cilindros, com cárter seco e bombas e depósito de óleo exteriores. O resultado é um V6 a 90 graus capaz de ser montado 150 mm mais baixo no chassis sem comprometer a altura ao solo.
[https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2023/03/Maserati_MC20-82.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2023/03/Maserati_MC20-108.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2023/03/Maserati_MC20-185.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2023/03/Maserati_MC20-212.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2023/03/Maserati_MC20-470.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2023/03/Maserati_MC20-486.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2023/03/Maserati_MC20-659.jpg]Se quisermos ser preciosistas vamos encontrar algumas semelhanças entre o Nettuno e o V8 do Ferrari F154 ou o V6 Alfa Romeo 690T, ambos primos do V6 da Maserati. E o que é que isso interessa? O que importa é que o V6 twin turbo de três litros, com injeção direta e indireta e sistema de pré-combustão ao estilo da F1, desenvolve 630 cv às 7500 rpm. Geridos por uma transmissão Tremec TR-9080 de dupla embraiagem e oito velocidades, o mesmo modelo utilizado pelo Corvette C8, os 730 Nm de binário disponíveis entre as 3000 e as 5500 rpm lançam o Maserati MC20 até aos 100 km/h em 2,9 segundos.
Território de superdesportivo
Por esta altura já se percebe a origem do entusiasmo em torno do MC20. Claro que no nosso caso específico há toda uma decoração que transforma o Maserati numa estrela instantânea de Instagram. Quem não se deixar levar pelas aparências sabe que por baixo dos autocolantes se esconde um superdesportivo com 1475 kg e 327 km/h de velocidade máxima. Pode (ainda?) não utilizar as tecnologias híbridas da moda, mas tem argumentos e atitude para desafiar tubarões como Ferrari F8 Tributo, Lamborghini Huracán Evo ou McLaren 720S.
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Como se de um verdadeiro carro de corridas se tratasse, o Nettuno acorda com estrondo. Mostra logo ao quem vem. O condutor mais distraído podia deixar-se enganar pelas linhas limpas da carroçaria, livres de apêndices aerodinâmicos inestéticos.
Muita fibra
Reservando a espetacularidade para a abertura das portas, com muita fibra de carbono à vista, o interior revela-se minimalista. Um painel de instrumentos digital (10,25''), um ecrã tátil ao centro (10,25'') com a mais recente geração do Maserati Intelligent Assistant, meia dúzia de comandos na consola central e é tudo.
Inspirado num cronómetro e bem diferente do Manettino da Ferrari, o comando dos modos de condução domina a consola em carbono. É por meio dele que se ajustam suspensão, motor, caixa, acelerador, diferencial eletrónico, controlo de tração e sonoridade do escape em função dos modos GT, WET, Sport, Corsa e ESC Off.
Um botão no centro do comando rotativo permite ajustar a suspensão de forma independente. Uma solução particularmente útil quando o acerto dos modos Sport e Corsa se revela excessivamente firme para condução em estrada.
[https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2023/03/Maserati_MC20-625.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2023/03/Maserati_MC20-222.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2023/03/Maserati_MC20-225.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2023/03/Maserati_MC20-247.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2023/03/Maserati_MC20-276.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2023/03/Maserati_MC20-361.jpg]Maserati Corsa
Arrancando por defeito em modo GT, o MC20 é surpreendentemente confortável. O V6 está lá, em fundo, sempre pronto a atacar, mas a entrega de potência é tão suave e linear como as passagens da caixa em modo automático.
Optando pelas patilhas do volante somos recompensados por um toque enganadoramente mecânico. Com os amortecedores no modo mais suave, a suspensão de duplos triângulos nos dois eixos consegue um equilíbrio interessante, para superdesportivo, entre o conforto e o controlo de movimentos.
Interpretando e trabalhando de forma natural com os movimentos da carroçaria, a direção dispensa ajustes adicionais. Transforma o volante numa extensão do eixo dianteiro, oferecendo ao condutor um nível de informação difícil de igualar.
A Maserati deixou o peso da direção fora dos ajustes do comando dos modos de condução por considerar ter encontrado o acerto ideal. Não se enganaram. O MC20 parece farejar as curvas, com o nariz colado ao chão, sempre pronto a fechar a linha sem vacilar perante a velocidade.
Movimentando-se apenas no plano horizontal, a carroçaria carrega as transferências de massas nos ocupantes, que agradecem o apoio das bacquets Sabelt.
Lá atrás, os turbos do V6 sobrealimentado resfolegam. Uma banda sonora entusiasmante que atinge o grau máximo de intensidade na casa das 7000 rpm. Rodar o comando da consola central para a direita torna tudo mais direto. Há uma urgência em acelerar que justifica o MC de Maserati Corsa. O 20 refere-se a 2020. No Mc12, cuja inspiração é visível um pouco por toda a carroçaria, o numeral contava os cilindros.
Elo mais fraco
Conduzir um desportivo com monocoque em carbono significa fazer parte da máquina. O MC20 move-se como um todo transformando o condutor em mais um componente. Eventualmente o elo mais fraco.
Há diferenças notórias entre os modos de condução GT, Sport e Corsa. O mais evidente é a caixa que vai ganhando velocidade e perdendo relações.
Tem oito velocidades em GT, sete em Sport e seis em Corsa. Nos dois últimos modos, o amortecimento torna-se impróprio para consumo nas estradas nacionais, sendo de louvar a possibilidade de o ajustar no modo intermédio.
Se o Corsa já é arrojado para a via pública, não há motivos para acionar o ESC Off. A eletrónica foi afinada de modo a ser bastante permissiva. Atuando em segundo plano, como deve ser, corrige os excessos de entusiasmo sem alarido. Desde o modo Sport que é possível balancear o Maserati e acelerar o desgaste dos Bridgestone Potenza Sport traseiros sem intervenção da eletrónica. E o Maserati MC20 é tão intuitivo e fácil de interpretar que faz maravilhas pela autoconfiança do condutor.
Quando alguma coisa corre mal os discos carbocerâmicos estão lá para resolver o problema. Melhoram a cada travagem, o que os torna ruidosos e algo rudes em cidade.
Só faltou a pista. Este Maserati foi feito para o autódromo. Tem qualquer coisa de GT na afinação dos amortecedores, até uma depressão um pouco mais profunda os levar ao batente sacudindo o habitáculo com vigor.
Em resumo, a Maserati criou um superdesportivo de pleno direito, ainda que tenha "apenas" seis cilindros.
Maserati MC20
Preço 270 155 euros
Motor V6 3000 cc
Potência 470 kW (630 cv)/4200 rpm
Binário 730 Nm/3000-5500 rpm
Transmissão Auto, 8 vel.
Tração Traseira
Peso 1150 kg
Comp./Larg./Alt. 4,67/1,97/1,22 m
Dist. entre eixos 2,70 m
Mala 50 l – 100 l
Desempenho 2,9 s 0-100 km/h; 326 km/h Vel. Max.
Consumo 11,5 (20*) l/100 km
Emissões CO2 261 g/km
* Medições TURBO
GOSTÁMOS
– Motor
– Prestações
– Comportamento
NÃO GOSTÁMOS
– Consumos
– Visibilidade traseira