UMM: a marca que nos deu o jipe das "1001" versões

Portugal está repleto de histórias, projetos e marcas dignas da nossa consideração. Desta vez contamos-lhe a história da marca UMM.

A grande maioria de nós, portugueses, somos incapazes de indicar mais do que uma ou duas marcas de automóveis lusitanas. Aqui na Turbo, e durante as próximas semanas, pretendemos retificar esta lacuna, pois, na verdade, Portugal está repleto de histórias, projetos e marcas dignas da nossa consideração. Desta vez contamos-lhe a história de uma marca que, provavelmente, já ouviu falar: a UMM.

A Cournil era uma pequena marca francesa, que se estabeleceu na década de 50 do século passado, e que se dedicava à modificação e produção de veículos todo-o-terreno.

Em 1970, no entanto, abriu falência. Sendo que, seis anos após o fecho de portas, vendia os seus direitos de produção, à UMM e à Auverland.

Dois exemplos do primeiro modelo produzido pela marca portuguesa, o UMM Cournil 4x4
Dois exemplos do primeiro modelo produzido pela marca portuguesa, o UMM Cournil 4x4

A UMM, sigla para União Metalomecânica, começou então, em 1977, a produzir o UMM Cournil 4x4. E que era, essencialmente, um Cournil, mas fabricado em Portugal.

Estavam, assim, construídos os alicerces para o estabelecimento da marca de automóveis portuguesa que mais fama e projeção ganhou, até aos dias hoje.

UMM Alter 4x4

Foi já com o desenrolar dos anos 80, que a marca UMM ganhou um maior cunho nacional. Mais precisamente, com a introdução do UMM Alter I.

Este modelo exibia modificações, que o distinguiam dos Cournil: novas motorizações, um novo design frontal, tablier em fibra, novos componentes em plástico no exterior, jantes Mangel, uma nova porta traseira e um melhor isolamento acústico.

Em 1985 a UMM lançou o Atler I, com um cunho mais português, que marcou os modelos Atler I e II
Em 1985, a UMM lançou o Alter I, com um cunho mais português, e que marcou, tanto o Alter I, como o Alter II

Ao longo da sua existência, os UMM beneficiaram de incontáveis versões, com variações nas portas, distâncias entre eixos, carroçarias fechadas e abertas, versões de caixa aberta, além de uma panóplia de motores Ford, Indenor e, até, BMW.

Contudo, foram as motorizações Peugeot, que ganharam destaque. Tendo a grande maioria das versões militares, estatais, comerciais, e de competição, adotado estas mecânicas.

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De resto e no caso específico das unidades pertencentes a instituições ligadas ao Estado, estes UMM granjearam, mesmo, um papel fulcral.

O Exército português, por exemplo, adotou este todo-o-terreno em larga escala, tendo encomendando, logo em 1978, 245 unidades.

Também os exércitos de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Congo, França, e até da Holanda, encomendaram lotes da versão militar do UMM.

UMM Cournil 4x4, do Exercito português, com variantes que equipavam mísseis TOW/MILAN, metralhadoras pesadas Browning e canhões sem-recuo de 106mm
UMM Cournil 4x4, do Exercito português, com variantes que equipavam mísseis TOW/MILAN, metralhadoras pesadas Browning e canhões sem-recuo de 106mm

Ainda em Portugal, a GNR, a EDP, a Guarda Florestal, a Guarda Fiscal, e inúmeros departamentos de bombeiros, adotaram variadas versões deste "jipe" português.

Um jipe, "1001" versões

Aliás, uma das características mais salientes dos modelos da UMM, era a sua versatilidade.

Graças às inúmeras configurações disponibilizadas pela marca, estes todo-o-terreno adaptavam-se facilmente às mais variadas funções.

Um dos melhores exemplos para ilustrar esta ideia, foi quando, em 12 de maio de 1991, na visita do Papa João Paulo II à Madeira, foi utilizada uma versão modificada "papa-mobile" do UMM.

Outro grande feito deste jipe português, aconteceu em 1988, quando a marca realizou uma expedição todo-o-terreno, num percurso de 22 mil quilómetros, durante 46 dias, entre Macau e Lisboa.

O grande número de configurações disponibilizadas pela marca permitia a sua adaptação às mais variadas funções laborais, estatais, desportivas, agrícolas e militares
O grande número de configurações disponibilizadas pela marca permitia a sua adaptação às mais variadas funções laborais, estatais, desportivas, agrícolas e militares

Já no que à competição diz respeito, o UMM revelou-se "mais tímido" que o seu rival, o também português Portaro.

No entanto e embora não tenha alcançado tantos títulos, os UMM acabariam por participar num número muito maior de eventos nacionais e internacionais.

Os UMM participaram em grande parte das edições do Paris-Dakar realizadas nos anos 80, onde tiveram um desempenho respeitável
Os UMM participaram em grande parte das edições do Paris-Dakar realizadas nos anos 80, onde tiveram um desempenho respeitável

O fim

No ano de 1986, foi introduzido o Alter II. O qual contava com novas caixas de velocidades e novos motores, mais competentes e refinados.

Graças a eles, a UMM continuou a somar muitas vendas, incluindo, para inúmeros mercados europeus.

No entanto e com a chegada dos anos 90, a marca começou a perder algum vigor, devido a fatores como, a recessão económica do início dos anos 90, redução dos apoios estatais, além de uma concorrência que oferecia modelos cada vez mais competentes.

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Em 1992, a UMM ainda fez uma tentativa de produzir um "jipe" mais moderno, o Alter III. Modelo que, infelizmente, nunca chegou à fase de produção.

A produção, em série, findaria assim em 1994. Embora, na verdade, tenha continuado até 2006, em pequenos lotes.

Em 2006, a empresa desapareceria, definitivamente, do setor automóvel, terminando com um total de quinze mil unidades produzidas.

Este é o Alter III, que tinha uma conceção moderna e argumentos para rivalizar com a concorrência, nomeadamente, o Nissan Patrol e Mitsubishi Pajero
Este é o Alter III, que tinha uma conceção moderna e argumentos para rivalizar com a concorrência, nomeadamente, o Nissan Patrol e Mitsubishi Pajero