As autoridades estão preocupadas com o aumento da taxa de sinistralidade a que estamos a assistir neste início de ano, na sequência aliás, de uma tendência que já se tinha manifestado na segunda metade de 2018.
Quem anda diariamente na estrada constata, facilmente, que o aumento desse flagelo não é obra do acaso; antes corresponde à proliferação de comportamentos irresponsáveis, à degradação da qualidade do ensino da condução (algo que, estranhamente, deixou de ser falado), à redução das atividades de patrulhamento e, por fim, mas não menos importante, à quase total ausência de ações públicas de sensibilização.
Esta mistura explosiva, comprovada pelo aumento do número de automobilistas intercetados a falar ao telemóvel enquanto conduziam, ou a fazê-lo com elevadas taxas de alcoolémia, é do conhecimento das autoridades que, manifestamente, estão a demitir-se do seu papel regulador e preventivo, nem que seja pela via de uma fiscalização efetiva. Embora não estejamos na posse dessa estatística, arriscamos dizer que o número de quilómetros percorridos nos dois últimos anos em patrulhamento tem vindo a diminuir e se nos lembrarmos dos efeitos da operação Tolerância Zero, há alguns anos, facilmente compreendemos quanto essas atividades são realmente importantes. A verdade é que a polícia tornou-se praticamente "invisível", confiando o papel "profilático" que lhe cabe aos radares de controlo de velocidade, que toda a gente sabe onde estão, bem como aqueles que estão ou não em funcionamento.
Não admira assim que enquanto a tendência europeia aponta para alguma convergência ao objetivo fixado pela EU de reduzir para metade o número de vítimas de acidentes rodoviários em 2020 (face aos números de 2010), Portugal parece seguir exatamente no sentido oposto.
Artigo de opinião publicado originalmente na edição escrita da Revista Turbo de fevereiro de 2019.