Prova dos 500 km. Saiba qual o elétrico com maior autonomia real

Fomos para a estrada tentar percorrer 500 quilómetros com três dos elétricos que anunciam maior autonomia e ver quem chega mais longe.

Numa espécie de comemoração "eletrificada" da edição 500 da revista Turbo fomos para a estrada tentar percorrer 500 quilómetros com três dos elétricos que anunciam a maior autonomia do mercado e ver quem chega mais longe. Aqui estão os resultados. Para ler ou reler.

Apesar do forte crescimento dos carros elétricos, as pessoas continuam a temer alguns dos seus constrangimentos como a autonomia, o tempo de carga da bateria e a sua longevidade, já para falar do custo da energia para quem depende da rede pública. 

Este é um problema pouco falado, mas que interessa avaliar na hora de comprar um carro elétrico. Importa esclarecer que face às perdas da ordem dos 20 por cento entre a tomada e as rodas, esse custo é inflacionado. 

Prova nos 500 quilómetros partiu do Parque das Nações em Lisboa com as baterias totalmente carregadas

O objetivo foi reunir três dos carros elétricos com maior autonomia que anunciam mais de 500 quilómetros e verificar o seu efetivo raio de ação. 

Os carros escolhidos estão no top cinco das vendas juntamente com o Tesla Model S que, apesar da nossa insistência junto da marca esta não se mostrou disponível para participar. 

Os eleitos

Entre os cinco carros elétricos com mais de 500 km de autonomia encontram-se o Mercedes EQS que nesta prova alinhou com a sua versão AMG 53 (560 km), o BMW iX 60 (564 km) e o Mustang Mach-E (550 km). 

À exceção deste último, os outros dois têm baterias com mais de 100 kWh de capacidade útil, o que nos dava alguma tranquilidade para atingir o propósito desta prova que era ultrapassar os 500 km de autonomia. 

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Convém ainda referir que estamos perante carros pesados e com potências elevadas que vão desde os 351 cv até aos 658 cv, ou seja, nenhum deles é propriamente um carro para andar tranquilamente pela cidade onde sabemos que os carros elétricos têm melhor desempenho. 

De fora do ranking dos cinco carros elétricos com mais autonomia ficaram o Mercedes EQE e como já dissemos o Tesla Model S.

Metodologia

Apesar da autonomia confortável de cada um deles e sabendo que a capacidade regenerativa de qualquer dos sistemas tem maior prevalência na cidade, onde travamos e desaceleramos mais, não deixamos de ter que planear muito bem a viagem, sendo sabido que nenhum dos participantes atingiria a meta a que nos propusemos se fizéssemos apenas uma viagem pela auto-estrada, apesar de ser essa a vocação de qualquer destes modelos. A menos que fossemos a uma velocidade abaixo do limite dos 120 km/h. 

Estipulamos também na metodologia programada para este teste que a prova entraria na fase final quando chegássemos ao limite mínimo de 50 km de autonomia. Nessa altura somaríamos esse valor à distância entretanto percorrida e avaliaríamos quais os carros que ultrapassariam os 500 km. 

Um trajeto misto 

Com saída planeada para o Parque das Nações onde carregamos as baterias a 100 por cento, o trajeto escolhido tentou contemplar vários tipos de utilização (auto-estrada, estrada e cidade). 

Depois de um primeiro troço por auto-estrada até Vila Franca de Xira, tomámos a velha Nacional 1, um trajeto que nos fez lembrar os tempos em que auto-estrada acabava no Carregado, para só depois a apanharmos à chegada ao Porto, nos Carvalhos! 

Ao fazermos a N1/IC2 até Coimbra estávamos a dar a possibilidade dos sistemas regenerativos intervirem numa gestão mais sustentável, o que se verificou, dada a intensidade de trafego, que nos fez demorar mais de três horas até chegarmos a Coimbra e depois de uma pequena pausa na Batalha. 

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Depois de termos andado na cidade de Coimbra rumamos à Figueira da Foz pela auto-estrada e seguimos até à praia de Quiaios, passando pelas minas do Cabo Mondego e a Serra da Boa Viagem junto ao mar, regressando pelo mesmo caminho até à cidade que em 2023 recebeu o prólogo do rali de Portugal, desviando depois para a Gala pela ponte da Figueira da Foz e apanhar a estrada nacional até Leiria. 

A etapa seguinte levou-nos até à Batalha, a que se se seguiu a Serra dos Candeeiros até à A1, rumo a Lisboa, sem antes termos de parar na área de serviço de Santarém, à medida que se aproximava a barreira dos 50 km de autonomia, o que não nos permitia chegar a Lisboa. 

Embora tenhamos tido a sorte dos três postos de carregamento estarem livres, não foi fácil por os três carros à carga ao mesmo tempo! Isto porque os postos não estavam adequadamente colocados de forma a facilitar essa operação.

Vamos a números 

À saída de Lisboa e depois das baterias terem sido totalmente carregadas, o carro que anunciava uma maior autonomia era o Mercedes EQS com 568 km, seguido do BMW com 538 km e depois o Mustang com 522 km. 

Autonomias que tinham como pressuposto consumos médios de 23,8 kWh/100 km, 27,1 kWh/100 km e 21 kWh/100 km, respetivamente. Após termos gasto mais de três horas e meia para chegar a Coimbra, num trajeto onde respeitamos os limites de velocidade e sempre no modo de condução mais eficiente do ponto de vista energético, os consumos baixaram consideravelmente com destaque para o BMW iX que passou dos 27,1 kWh/100 km para os 20,4 kWh/100 km, uma redução que se deve à enorme capacidade regenerativa perante um trânsito bastante intenso em especial na zona do Alto da Serra e na Venda das Raparigas onde as obras na estrada nos atrasou bastante.

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À chegada a Coimbra e graças a essa forte regeneração o BMW foi dos três carros aquele que apresentava maior autonomia (358 km) seguido do Mercedes EQS (348 km) e o Mustang (295 km) que chegou a essa primeira fase do percurso com um consumo de 18 kWh/100 km, enquanto o EQS registava uma média de 21,3 kWh/100 km. 

Mustang Mach-E era o mais económico

No troço seguinte, o fator auto-estrada, onde nunca passamos dos 120 km/h e a Serra da Boa Viagem fez com que os consumos subissem um pouco e por isso as autonomias baixaram proporcionalmente. Nessa altura, o Mercedes foi o mais resiliente com uma autonomia de 261 km, seguido de perto pelo BMW (248 km) e o Mustang (195 km) que, entretanto, continuava a ser o mais económico com um consumo de 19 kWh/100 km (mais 1 kWh do valor que registava ao chegar a Coimbra). 

À saída Quiaios, a bateria do BMW iX registava 48%, a do Mercedes a 46% e a do Mustang a 41%.  No troço seguinte, e depois da dura prova de atravessarmos a Serra dos Candeeiros durante mais de 30 km e de seguida pela auto-estrada, chegamos à área de serviço de Santarém, com uma autonomia próxima dos 50 km pelo que carregámos as baterias a fim de podermos chegar tranquilamente a Lisboa. 

BMW passou os 500 km 

Ainda que a viagem tivesse corrido sem sobressaltos ficou claro que viajar de carro elétrico ainda não é tão tranquilo quanto uma viagem num carro com motor de combustão, apesar de haver carros elétricos com autonomias significativas como é o caso dos eleitos para este trabalho. 

Interessa também destacar que quase ninguém escolhe a N1/IC2 para chegar a Coimbra, mas se tivéssemos feito um trajeto só em auto estrada, o BMW iX M60 não teria chegado aos 517 Km nem tão pouco o Mercedes aos 489 km e o Mustang aos 446 km, a não ser que fossemos a uma velocidade abaixo dos 120 km/h, o que não deixa ser uma frustração em carros com estes níveis de potência e desempenho do ponto de vista dinâmico e onde os eletrões estão sempre prontos para nos desafiar para sensações mais fortes, inclusive no modo de condução mais eficiente. 

Carregamento na área de serviço de Santarém

Uma nota importante a ter em conta no planeamento das viagens num elétrico é saber onde podemos e como podemos carregar a bateria em caso de necessidade. Nesse capítulo, os sistemas de navegação de cada um dos carros presentes dá um contributo importante. ao indicar, em função do trajeto escolhido, os postos existentes e a respetivamente autonomia para lá chegar. Mesmo que não existisse essa função a bordo, existem inúmeras aplicações do género que podemos usar nos nossos smartphones. Em resumo podemos dizer que a indústria tem evoluído imenso na mobilidade elétrica, mas as infraestruturas de carregamento têm de evoluir à mesma velocidade.  

Trabalho publicado originalmente na edição 500 da revista Turbo - maio de 2023

Pódium

1º BMW iX M60: 517 km

2º Mercedes AMG EQS 53: 489 km

3º Ford Mach-E: 446 km