Lucid Air Dream Edition vs Tesla Model S Plaid. Músculo americano

Lucid Air Dream Edition e Tesla Model S Plaid representam a nova geração do músculo americano. Juntos somam mais de 2000 cv

Lucid Air Dream Edition e Tesla Model S Plaid representam a nova geração do músculo americano. Juntos somam mais de 2000 cv. Juntos somam mais de 2000 cv e disparam até aos 100 km/h em dois segundos! Silencioso, amigo do ambiente… diferente

Do início da década de 60 do século passado até ao choque petrolífero de 1973, o imaginário do automóvel americano foi dominado pelo conceito "Muscle car". Coupés desportivos cujo músculo se media pelo tamanho do V8.

Numa rara oportunidade para aplicar o termo "grande cilindrada", modelos como o Dodge Challenger de 1970 utilizavam blocos V8 atmosféricos com capacidades entre os 5.2 e 7.2 litros. Verdadeiros monstros, ávidos por gasolina, com um trabalhar inconfundível e capacidade rara de abanar a carroçaria ao sabor da rotação da cambota.

Meio século depois, o músculo americano está de regresso. O mesmo fascínio pela potência, agora acima dos 1000 cv, com o arrepio do V8 substituído pela vertigem da aceleração. As carroçarias de três portas seguiram o caminho dos motores de combustão, substituídas por silhuetas estilo berlina. Os capots encolheram pela mesma medida em que os habitáculos cresceram e os motores, agora elétricos, distribuíram-se pelos dois eixos. 

Lucid Air Dream Edition P e Tesla Model S Plaid, respetivamente com 1111 cv e 1020 cv, são exemplos representativos da paixão americana pela potência. Mesmo que esta sirva para pouco mais do que insuflar o ego do proprietário e acelerar nas retas de quarto de milha.

Temos de ser realistas. São berlinas com cinco metros de comprimento e mais de 2,2 toneladas, 2,4 no caso do Lucid. Por mais inteligentes que sejam a tração integral e a vectorização de binário, estamos perante especialistas em provas de arranque. 

Vertigem silenciosa

Na melhor tradição dos aviões de acrobacias, a capacidade de aceleração destes dragsters disfarçados de berlina é capaz de causar desconforto aos passageiros menos avisados. É possível que alguém, com a sensibilidade de acelerómetro, consiga distinguir entre os dois segundos do Lucid e os 2,1 segundos do Tesla. Não é o nosso caso. Limitamo-nos a reconhecer que o poder de aceleração é esmagador, capaz de distorcer a visibilidade periférica e criar visão de túnel. Pouco recomendável a quem sofra do coração.

Quando o arranque é igual, as diferenças de binário fazem-se sentir nas recuperações de velocidade. Os 1428 Nm do Model S Plaid superam os 1390 Nm do Air Dream Edition P. No entanto, mesmo sendo mais pesado, o Lucid é nitidamente mais rápido a recuperar dos 160 km/h até aos 200 km/h. Quando os valores de potência e binário se escrevem com quatro dígitos é necessário adaptar os intervalos de referência…

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Apesar das pastilhas dos travões do Tesla terem melhorado a capacidade térmica, continua a ser aconselhável o investimento no Track Package. Mais do que a superfície dos pneus 285/35 à frente e 305/30 atrás, montados em jantes de alumínio forjado de 20'', é o poder de travagem dos quatro discos 410 mm em carbono que é essencial para domar os 1020 cv.

Com jantes de 19'' e discos de aço de 355 mm, o Model S Plaid das imagens é tão rápido a acelerar como a aquecer os travões para lá da eficiência. Mais eficientes, os discos de aço do Lucid, com 386 mm à frente e 381 mm atrás, não perdem a sensibilidade ao fim de três travagens fortes. Aguentam cinco…

Descendente indireto

Por esta altura, alguns leitores perguntar-se-ão de onde veio o Lucid? Da Tesla. Não será um descendente direto, mas quase. Fundada em 2007 pelo, então, vice-presidente da Tesla, Bernard Tse, a Lucid começou por se chamar Atieva e produzir baterias.

Uma vez dominada a tecnologia mais complexa e dispendiosa presente nos automóveis elétricos, a produção de viaturas foi um passo natural. A decisão foi anunciada em 2016 e as primeiras unidades saíram das linhas de montagem em 2021.

Apontando diretamente ao segmento superior, o Lucid Air tem no Tesla Model S o principal concorrente. Na Europa, onde tem cinco concecionários (dois na Suíça, dois na Alemanha e um na Holanda) ainda beneficia do estatuto de "curiosidade".

A gama atual compreende quatro motorizações para o Air: Pure RWD de tração traseira com 430 cv (660 km autonomia), Touring de 620 cv (684 km), Grand Touring com 1050 cv (830 km) e Sapphire de 1234 cv (687 km). O Air Dream Edition que ilustra estas páginas pertence a uma edição limitada.

Especialista em baterias, a Lucid desenvolveu uma unidade com 120 kWh de capacidade (118 kWh úteis) e arquitetura de 900 V. O carregador interno, denominado Wunderbox, ajusta a voltagem para otimizar a velocidade de carregamento e conseguir repor 320 km de autonomia em apenas 12 minutos. Basta encontrar um carregador com 300 kW… 

Importância da rede

Inovadora do campo das baterias e carregadores, a Tesla pode ter sido ultrapassada pela Lucid, mas ainda tem uma palavra a dizer num campo que lhe é muito favorável. A bateria do Model S Plaid tem 100 kWh de capacidade (96 kWh úteis) e 250 kW de potência máxima de carga em DC. O que significa que precisa de cerca de meia hora para repor dos dez aos 80%. Tudo isto numa rede própria de carregadores, que nenhum construtor conseguiu igualar.

Para além dos carregadores, a Tesla tem uma rede de distribuidores bastante mais abrangente que a da Lucid. Ainda que a experiência de compra seja sempre virtual, é possível comprar um Tesla em Portugal.

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Um Lucid também, mas chegará sempre com matrícula estrangeira e uma carga de procedimentos administrativos associados. Este é um ponto determinante em favor da Tesla, que vende o Model S Plaid desde 111 900 €. Este Lucid Air Dream Edition P (de Performance) custou 222 000 € na Holanda. 

É difícil justificar o preço tão elevado de um automóvel que se vende pela internet. Tem a potência, o binário, as prestações, a bateria e os motores. São três, como os do Tesla, e utilizam tecnologia patenteada que os torna muito compactos. Ao ponto de cada unidade, que pode desenvolver até 670 cv, pesar apenas 74 kg e ter dimensões suficientemente pequenas para caber dentro de uma bagagem de mão avião. 

Espaço para tudo

Com o comprimento a rondar os cinco metros e os mesmos 2,96 metros de distância entre eixos, Lucid Air e Tesla Model S não sofrem de falta de espaço. Ambos oferecem duas generosas filas de bancos, daquelas que convidam a desfrutar a longo de viagens prolongadas. As bagageiras também não são pequenas. O Model S tem vantagem da mala principal, 709 litros contra 456 l, que o Air quebra ao anunciar o maior compartimento dianteiro: 202 l. O Tesla não vai além dos 89 l.

Apostando num posicionamento requintado, o Lucid tem movimento elétrico para as duas bagageiras e "soft close" para as portas do Air. O Tesla só tem o portão traseiro elétrico.

Equivalente ao Tesla na qualidade dos materiais e respetiva aplicação, o Lucid distingue-se pela utilização das cores para criar a ilusão ótica de espaço. O Model S é um pouco mais largo que o Air Dream Edition, mas, sem parecer apertado, não consegue igualar a sensação de espaço do Air. Nesta Dream Edition com bancos dianteiros pretos e traseiros brancos. A frente é dominada por um ecrã curvo de 34'' e resolução 5K.

Uma faixa estreia e elegante, com a secção esquerda reservadas para funções básicas do automóvel, a central para a informação necessária à condução e a direita para navegação e entretenimento. Um segundo ecrã tátil permite aceder a funções secundárias. Este tem a particularidade de poder recolher para o interior do tablier. Um movimento automático e pouco refinado.

Questão de hábito

Este Model S Plaid estava equipado com o volante opcional Yoke. É capaz de funcionar muito bem nas autoestradas norte-americanas. Nas ruas estreitas das cidades portuguesas, cheias de curvas e ângulos apertados, é pouco funcional. Falta aro, tanto em cima como em baixo.

Independentemente do volante, a seleção do sentido de marcha é feita no ecrã central. Deslizar o dedo para baixo ao longo da margem esquerda faz o tesla andar para a frente. Deslizar o dedo no sentido inverso faz o Model S andar para trás. A posição de parque é selecionada no canto superior esquerdo. É uma questão de hábito…

Partindo do princípio de que os condutores não vão passar o tempo a fazer arranques ou acelerar sem limites de velocidade nas autobahn alemãs, Lucid e Tesla anunciam, respetivamente, 883 km e 600 km de autonomia. Valores que correspondem a médias de consumo na ordem dos 13,4 kWh/100 km para o Air Dream Edition P e 15,8 kWh/100 km para o Model S Plaid.

A realidade não é tão otimista, com os 17,2 kWh/100 km do Lucid a encolherem a autonomia para 685 km e os 17 kWh/100 km do Tesla a reduzirem o intervalo entre carregamentos para 560 km. 

Embora sejam concorrentes diretos, o facto do Lucid Air não ser comercializado em Portugal deixa-o em clara desvantagem face ao tesla Model S. É sempre possível recorrer à importação, mas a diferença de preço, custa o dobro, torna-o numa peça de coleção. Um handicap pesado, que permite ao Tesla manter o título de campeão da potência.