Numa altura em que os avanços no domínio da Inteligência Artificial (IA) causam polémica, o CEO da Ferrari ter-se-á juntado, esta terça-feira, aos opositores da tecnologia. E, isto, porque alguém terá tentado fazer-se passar por si, recorrendo à IA!
A notícia foi avançada pela Automotive News Europe, revelando que, numa terça-feira deste mês de julho, um dos executivos da Ferrari NV terá começado a receber uma série de inesperadas mensagens, assinadas (supostamente) pelo CEO da marca do Cavallino Rampante, Benedetto Vigna, dando conta de uma grande aquisição que estaria na calha.
Enviadas por Whatsapp, as mensagens terão, no entanto, despontado a dúvida, já que, não só não tinham origem no número de telemóvel de serviço de Vigna e que o gestor conhece, como a conta apresentava uma foto de perfil diferente do habitual, com o CEO de óculos, fato e gravata, com os braços cruzados, defronte de um emblema do Cavallino.
Quanto às mensagens, a Auto News avança que, numa delas, lia-se: "Ei, já ouviste falar da grande aquisição que estamos a preparar? Posso precisar da tua ajuda". A que ter-se-á seguido uma outra, dizendo "esteja pronto para assinar o Acordo de Confidencialidade que o nosso advogado deverá enviar-lhe em breve". Acrescentando que, "o regulador do mercado italiano e a bolsa de Milão já foram informados. Esteja pronto e tenha total discrição".
No entanto, o caso não terá ficado por aqui, pois, segundo fontes conhecedoras da situação, às mensagens ter-se-á seguido um telefonema, feito com recurso a ferramentas deepfake e à Inteligência Artificial, de forma a conseguir uma imitação quase perfeita da voz de Vigna, com o seu sotaque do sul de Itália.
O deepfaker, ou pirata eletrónico, terá começado por dizer que estava a ligar de um número diferente do habitual, porque precisava de discutir algo de ultra-confidencial, mais precisamente, um projecto de acordo, relacionado com a China, que estaria em risco de conhecer obstáculos de última hora. Os quais só poderiam ser ultrapassados com a realização de uma transacção cambial de valor não especificado.
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Surpreendido com toda a situação, mas também desconfiado com uma certa entoação mecânica que ia ouvindo, o executivo decidiu colocar a voz à prova, dizendo: "Desculpe, Benedetto, mas preciso de confirmar que é mesmo você. Diga-me: qual foi o livro que me recomendou, há alguns dias?" - segundo a Auto News, o livro em questão era "Decálogo da Complexidade: Agir, Aprender e Adaptar-se no Incessante Devir do Mundo", de Alberto Felice De Toni.
As mesmas fontes dizem que a chamada terá então terminado de forma abrupta, levando, mesmo, a Ferrari a desencadear uma investigação interna.
Não é o primeiro caso
Importa também dizer que este não é o primeiro caso de tentativa de burla, através do recurso a ferramentas deepfake e à Inteligência Artificial. Pois, já em maio, surgiu a notícia de que alguém terá tentado fazer-se passar pelo CEO da gigante da publicidade WPP, Mark Read, numa chamada feita através do Teams.
Burla que, no entanto, acabou sendo descoberta também a tempo.
Bem diferente foi, no entanto, o resultado de uma outra burla parecida, no início de 2024, em que uma multinacional não-identificada terá ficado sem 200 milhões de dólares de Hong-Kong (23,5 milhões de euros), depois de burlões terem conseguido fabricar, com recurso a ferramentas e tecnologia deepfake, representações do director financeiro da empresa e de outros responsáveis, numa videochamada. Levando, assim, a vítima a transferir o dinheiro.
Entretanto e ainda segundo a Auto News, várias empresas de segurança informática estão já a formar os seus funcionários e executivos, para que não sejam enganados. Já que, conforme também alerta o professor de ciber-segurança Stefano Zanero, do Politécnico di Milano, em Itália, "é apenas uma questão de tempo até que estas ferramentas de deepfake sofisticada, baseadas em IA, se tornem incrivelmente fidedignas".