"Questões culturais". Great Wall acusada de criar ambiente tóxico na sede europeia

Numa altura em que as marcas chinesas tentam conquistar a Europa, a Great Wall é acusada pelos seus funcionários europeus de ambiente tóxico

Numa altura em que os construtores automóveis chineses procuram conquistar o Velho Continente, questões culturais e de funcionamento nas próprias estruturas empresariais, poderão dificultar essa mesma implementação, na Europa. Que o diga a Great Wall, acusada de criar um ambiente de trabalho "tóxico" na sua nova estrutura europeia.

A notícia foi avançada pelo diário alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, com base em depoimentos de ex e atuais funcionários europeus da Great Wall, que, pedindo para não serem identificados, apontam o dedo às condições de trabalho "tóxicas" na estrutura europeia fabricante automóvel.

Inaugurados em 2023, os escritórios europeus da Great Wall Motor (GWM) estão localizados em Munique, na Alemanha, sendo também a partir daí que o grupo automóvel chinês tem vindo a procurar implementar, na Europa, as duas marcas com que pretende crescer no Velho Continente - a Wey e a Ora.

O Ora Cat, modelo mais representativo de uma das marcas que a Great Wall pretende implementar-se na Europa
O Ora Cat, modelo mais representativo de uma das marcas que a Great Wall pretende implementar-se na Europa

Também para levar a cabo esse objectivo, a Great Wall recrutou já cerca de 100 funcionários em solo europeu, a grande maioria proveniente de outros fabricantes automóveis europeus, aliciando-os com propostas de salários 30 a 50 por cento acima do que recebiam anteriormente.

Contudo e uma vez integrados na estrutura europeia do construtor chinês, estes colaboradores terão encontrado um ambiente de trabalho muito diferente daquele a que estavam habituados e que terá levado, inclusivamente, à apresentação de queixas no sindicato IG Metall. Em que é denunciado não apenas o tom particularmente duro utilizado pela empresa, para com os funcionários, como também uma alegada falta de respeito relativamente à experiência de muitos deles e até o exercer de um "domínio permanente" com origem na sede da companhia, na China.

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"Os chineses começam por nos atrair com muito dinheiro", afirmou, em declarações ao diário alemão, um director que ainda se encontra a trabalhar na Great Wall. No entanto, "é impossível trabalhar numa empresa assim", desabafou o mesmo funcionário, lamentando ter ingressado na empresa chinesa.

Director de operações aponta "diferenças culturais"

Confrontando, também pelo Frankfurter Allgemeine Zeitung, com estas acusações, o responsável máximo pela divisão europeia da Great Wall, o alemão Steffen Cost, um experiente gestor que já passou por fabricantes como a Renault, a Nissan e a Kia, terá apontado as "diferenças culturais" como o motivo para estas situações. Não deixando de defender que, o ambiente de trabalho na empresa é "intenso", porque o fabricante ainda é um perfeito desconhecido, fora da China.

O Great Wall Motor Wey 05, um SUV híbrido plug-in que o fabricante chinês acredita poder vingar na Europa
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"É emocionante [o momento porque que passa a Great Wall na Europa], mas também é verdade que nem todos conseguem lidar com a situação", afirmou Cost.

Funcionários chineses cumprem treino militar

Apesar desta opinião, o mesmo diário recorda que, até mesmo na China, o tipo de gestão levado a cabo pelo presidente da Great Wall, Wei Jianjun, é considerado extremo. Com Frankfurter Allgemeine a recordar uma reportagem do Financial Times, em que é relatado que, em solo chinês, os funcionários do fabricantes são obrigados a frequentar duas semanas de treino militar, antes de ingressar na empresa.

Wei Jianjun, Chairman da Great Wall Motor
Wei Jianjun, Chairman da Great Wall Motor

Resultado desta formação, os trabalhadores têm como prática encaminhar-se para os respectivos turnos a marchar, em fila indiana, o mesmo acontecendo quando se encaminham ou regressam do refeitório.