Lembra-se dele? Ghosn acusa Nissan de entrar numa "aquisição disfarçada"

Outrora um dos líderes da indústria automóvel, mas hoje caído em desgraça, Carlos Ghosn voltou à ribalta para apontar à parceria Honda-Nissan.

Em tempos um dos principais rostos da indústria automóvel mundial, da qual acabou, no entanto, por sair, caído em desgraça, Carlos Ghosn está de volta à ribalta, agora para se assumir como um opositor à recentemente anunciada parceria Honda-Nissan-Mitsubishi. Desde logo, por considerar que se trata de uma "aquisição disfarçada" da marca que já liderou.   

A "denúncia" foi feita pelo próprio Ghosn, em declarações ao site Automotive News Europe, nas quais, além de considerar a Nissan atual uma marca "aborrecida, medíocre" e que, hoje em dia está numa "má posição", defende que, a entrada deste construtor na recém-formada parceria Honda-Mitsubishi-Nissan é, na verdade, "uma aquisição forçada" das duas últimas, pela primeira.

No entender do gestor franco-brasileiro de origem libanesa, a Honda é, de longe, o maior e mais possante dos três fabricantes japoneses, o que fará com que seja o construtor de Minato a liderar as operações na atual parceria.

Carlos Ghosn, ex-CEO da Nissan
Carlos Ghosn, ex-CEO da Nissan

"A verdade é que não consigo imaginar como é que tudo isto irá funcionar, entre a Honda e a Nissan, a não ser que se trate de uma aquisição. Ou melhor, a não ser que se trate de uma aquisição encapotada da Nissan e da Mitsubishi, com a Honda no lugar do condutor", afirma o ex-CEO da Nissan.

Ghosn garante, ainda, que, uma parceria entre a Nissan e a Honda, nunca foi sequer cogitada, durante a sua liderança como CEO da Nissan, entre junho de 2001 e abril de 2017. Ou até mesmo após essa data, quando passou a desempenhar as funções de Chairman na marca de Yokohama.

O início

Recorde-se que Carlos Ghosn começou por ingressar na Renault em 1996, vindo da Michelin, para assumir o cargo de vice-presidente executivo do fabricante automóvel francês, onde acabaria por ter um papel fundamental, não apenas na reestruturação da empresa francesa, mas também enquanto um dos principais promotores da aliança Renault-Nissan, estabelecida em 1999, que acabou por salvar a marca japonesa da bancarrota.

Carlos Ghosn ao lado do show-car K-ZE, em 2018
Carlos Ghosn ao lado do show-car K-ZE, em 2018

Na base deste feito, estiveram não somente cortes profundos na operação do fabricante japonês, mas também o investimento feito pela Renault na aquisição de 43,4% do capital accionista da Nissan. Tendo levado, igualmente, a que Ghosn começasse por se tornar COO (Chief Operating Officer) do fabricante nipónico.

Quanto à Renault, acabou por revender, já no final de 2023, à Nissan, 5% da sua participação.

O exílio no Líbano

Ainda sobre Carlos Ghosn, importa, também, recordar que, em novembro de 2018, seria detido pelas autoridades japonesas, acusado de utilização indevida de fundos da Nissan e comunicação incorrecta do seu vencimento anual (declarava menos do que efectivamente recebia), durante cerca de cinco anos. 

Contudo, em dezembro de 2019, acabaria por conseguir fugir, na sequência de uma acção verdadeiramente rocambolesca, da prisão domiciliária em que se encontrava no Japão, com destino ao Líbano. 

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Neste país, onde ainda hoje se encontra, dando aulas e fornecendo consultoria a startups, Ghosn beneficia do facto de possuir passaporte libanês e deste país ter como princípio não extraditar cidadãos nacionais. O que permite que, mesmo tendo ainda de responder na justiça, em vários processos criminais, Ghosn não seja extraditado.

Aliança desconhecida

Finalmente e quanto à recém-formada (foi anunciada dia 1 de agosto) aliança Honda-Nissan-Mitsubishi, são muitos, ainda, os detalhes que a envolvem e que continuam por conhecer. 

A celebração da aliança entre a Nissan e a Honda

Ainda assim, Honda e Nissan anunciaram um acordo separado, ao abrigo do qual vão desenvolver baterias, motores elétricos e software de veículos para ambas as marcas, ao mesmo tempo que assumem a intenção de complementar as respectivas gamas com novos modelos a combustão e totalmente elétrico.

Entretanto, a Nissan continua a deter uma participação de 34 % na Mitsubishi.