Ford Bronco vs Jeep Wrangler. Aventura à moda antiga

Chassis de longarinas, suspensão de eixos rígidos, bloqueio de diferenciais, redutoras… O Ford Bronco e o Jeep Wrangler têm o equipamento necessário para desbravar os terrenos mais inóspitos. São jipes à moda antiga, mais à vontade na terra do que no asfalto.

Chassis de longarinas, suspensão de eixos rígidos, bloqueio de diferenciais, redutoras… O Ford Bronco e o Jeep Wrangler têm o equipamento necessário para desbravar os terrenos mais inóspitos. São jipes à moda antiga, mais à vontade na terra do que no asfalto.

Antes dos SUV dominarem a paisagem urbana, o todo-o-terreno era uma atividade reservada aos jipes. Veículos que, ao contrário da carroçaria da moda, têm reais capacidades para circular fora de estrada e chegar àqueles sítios onde a tração integral, por mais sofisticado que seja o controlo eletrónico, não é suficiente. Quantos condutores dão pleno uso a essas capacidades? Provavelmente um número idêntico ao dos que espremem até ao limite os mais de 500 cv dos seus desportivos…

Numa realidade onde a possibilidade supera a necessidade, o Ford Bronco e o Jeep Wrangler destacam-se da (pouca) concorrência pela vertente lúdica. Enquanto os rivais – Land Rover Defender, Mercedes Classe G e Toyota Land Cruiser – assumem uma postura sofisticada, condizente com o preço, o Ford Bronco e o Jeep Wrangler apostam na simplicidade das linhas e materiais.

Sendo uma solução funcional, afinal são veículos com uma elevada probabilidade de ficarem expostos aos elementos, os ralos que permitem escoar a água do habitáculo do Jeep não combinam com o preço. Principalmente do Bronco, cujos 124 mil euros pedem um interior com outra qualidade. É interessante revestir os botões com uma película de borracha resistente, mas duvidamos que alguém lave o interior do Ford com uma mangueira.

Poderá ser para proteger da chuva, pois tanto o Bronco como o Wrangler são descapotáveis em potência. Os painéis do tejadilho, quatro no Ford e três no Jeep, são moldados em fibra e estão presos por alavancas fáceis de manusear. Difícil é encontrar espaço para os arrumar.

Porque as aventuras extremas requerem soluções radicais, os dois jipes permitem remover as portas. A Ford diz que a operação não demora mais de oito minutos, com recurso a uma única ferramenta. É por esta possibilidade (legal apenas em condução fora de estrada) que os dois jipes posicionam os comandos dos vidros no centro do habitáculo – Ford na consola e Jeep no tablier. Levando o conceito radical ao extremo, o Wrangler pode rebater o para-brisas.

Ruído ambiente

Tantas juntas e painéis em carroçarias que devem pouco à aerodinâmica resultam em ruído. Ampliado no Bronco pelas barras de tejadilho, responsáveis por subir o tom da conversa ou o volume da música sempre que a velocidade ultrapassa os 70 km/h.

Enquanto houver bateria no sistema híbrido do Wrangler são os pneus a dar o mote. Os BF Goodrich Mud-Terrain T/A 255/75 R17 produzem uma zoeira constante. A entrada em funcionamento do bloco de dois litros e quatro cilindros a gasolina com 272 cv agrava a falta de isolamento.

Pode ser encarado como uma forma, nada subtil, de Ford Bronco e Jeep Wrangler marcarem o posicionamento distinto dos SUV. São veículos para explorar horizontes longínquos… fora do asfalto. Uma aparente contradição à tecnologia híbrida de bateria recarregável do Jeep Wrangler 4xe. Os 35 km de autonomia elétrica proporcionados pela bateria de 17,3 kWh sugerem uma utilização quotidiana. É possível, mas não é prática.

Na configuração Rubicon, o Wrangler assume vertente mais radical. Nem estribos tem, sendo necessário trepar para o interior e depois saltar para a rua evitando tocar com a roupa na chapa, eventualmente coberta de pó.

Ao contrário do que a volumetria sugere (4,88 metros comprimento, 1,89 m largura, 1,90 m altura e 3, 01 m distância entre eixos), o Jeep Wrangler não é tão espaço como o Ford Bronco (4,81 m comprimento, 1,93 largura, 1,85 m altura e 2,95 m distância entre eixos). Para além de oferecer mais espaço para as pernas e em largura nos lugares traseiros, a configuração Outer Banks do Ford inclui um estribo para facilitar o acesso ao interior.

Mais SUV

Fazendo-se valer do maior comprimento, o Wrangler oferece 548 litros de mala, contra 504 l do Bronco. Em qualquer dos casos, o acesso é feito por um portão com abertura lateral e um pneu sobresselente pendurado. Nada fácil de utilizar em estacionamentos apetados. Os vidros têm abertura independente para cima, mas esta não representa qualquer vantagem pois o movimento é impedido pelo pneu.

Numa aproximação a um conceito um pouco mais sofisticado, o Ford esconde uma prateleira sob o piso da mala. Esta tanto pode servir como mesa ou superfície limpa para sentar ao ar livre. O nível de equipamento Outer Banks inclui ainda uma tenda que se monta como uma extensão do Bronco.

Longe de justificar um preço com seis dígitos, o interior do Ford é mais refinado que o do Jeep. Ambos têm a cablagem das portas à vista, para facilitar a remoção das mesmas, com o Bronco a mostrar maior cuidado com a apresentação do interior. São pormenores, como as bolsas nas costas dos bancos dianteiros, por oposição à rede do Wrangler, ou o espaço para a carteira e telemóvel, com carregador sem fios, inexistente no Jeep. Este conta apenas com um porta-copos duplo e o espaço de arrumação sob o apoio de braços central.

No entanto, a maior conceção do Ford a uma utilização mais mundana são os pneus. A versão Outer Banks monta Bridgestone Dueler A/T 255/70 R18, muito mais confortáveis e seguros em estrada. Os dois jipes contam com completos sistemas de apoio à condução e possibilidade de passar de tração traseira para integral em movimento.

No entanto, o piso das borrachas Mud-Terrain do Wrangler não inspira confiança sobre alcatrão, muito menos quando este está molhado. A direção de esferas recirculantes também é menos precisa que a cremalheira com assistência elétrica do Ford.

Chassis de longarinas

Embora ambos recorram a um chassis de longarinas e travessas, o Bronco refina o comportamento com suspensão dianteira independente, mantendo o eixo traseiro rígido. Mais extremista, o Wrangler utiliza dois eixos rígidos e mantém duas manetes. Uma para a caixa automática de oito velocidades e outra para a tração integral. Esta a pedir mão firme para passar de tração integral para redutoras. No Ford esta operação é feita por meio de botões e um comando rotativo. Até o modo sequencial da caixa de dez velocidades é feito com o polegar num par de botões na face lateral do seletor.

Beneficiando de uma menor projeção dianteira, o Ford (38,1 graus) tem um ângulo de ataque melhor que o do Jeep (36,6 graus). Os ângulos de saída e ventral são equilibrados, com o Wrangler a superiorizar-se na altura ao solo (253 mm) e o Bronco a fazer o mesmo na capacidade de passagem a vau (800 mm). Em caso de necessidade o Jeep pode desacoplar a barra estabilizadora dianteira e bloquear os dois diferenciais, enquanto o Ford só bloqueia o traseiro.

Em contraste com a abordagem tradicional do Jeep Wrangler – alavancas, redutoras e sensibilidade do condutor – o Ford Bronco oferece uma panóplia de sistemas eletrónicos. Começa por ter modos de condução selecionáveis pelo comando rotativo G.O.A.T.

Aos habituais Normal, Eco e Sport juntam-se os modos Areia e Escorregadio. Um botão no centro do comando ativa a função Trail control e Trail One Pedal Drive. A primeira permite definir uma velocidade entre os dois e os 31 km/h, uma espécie de cruise control de baixa velocidade. Não selecionar nenhuma velocidade ativa automaticamente o modo de condução com um pedal. Este imobiliza o Bronco sempre que se alivia totalmente o acelerador.

Prova dos nove

Sem o binário nos baixos regimes dos motores Diesel, Bronco e Wrangler socorrem-se soluções alternativas para melhorar a condução fora de estrada. O Ford utiliza uma caixa automática com dez velocidades e escalonamento curto para aproveitar o melhor dos 563 Nm debitados pelo V6 de 2.7 litros e 334 cv.

Já o Jeep aproveita a ajuda do motor elétrico para desenvolver um binário combinado de 637 Nm. O sistema híbrido do Wrangler 4xe combina um bloco de quatro cilindros e dois litros com 272 cv e 400 Nm com dois motores elétricos. Um, com 63 cv e 53 Nm, serve apenas de gerador, o outro, com 145 cv e 245 Nm, trabalha como motor gerador. O conjunto desenvolve 381 cv de potência combinada.

Da areia das imagens a troços com caraterísticas de corta-fogos, não houve obstáculo que impedisse a passagem de qualquer dos protagonistas. As diferenças, muito subtis, deveram-se principalmente ao calçado, com os pneus mistos do Bronco a resvalarem onde os tacos do Wrangler agarravam sem problemas. São mesmo dois jipes puros e duros, à antiga, separados por um posicionamento ligeiramente mais refinado por parte do Ford Bronco. E, em Portugal, por 36 mil euros graças à motorização PHEV do Jeep Wrangler 4xe.

É uma diferença significativa, principalmente quando os ganhos na qualidade dos acabamentos e do interior não o são. Há ecrãs para a instrumentação e entretenimento, integração com smartphones, câmaras a toda a volta, o pacote completo. O Ford Bronco consegue apresentar tudo isto com um pouco mais cuidado. Por outro lado, não tem uma bateria recarregável para ajudar a disfarçar os consumos do V6, que dificilmente baixam dos 14,1 l/100 km.

Com uma autonomia elétrica real na ordem dos 30 km, o Jeep Wrangler 4xe não dá descanso ao motor de quatro cilindros e dois litros. No modo híbrido, os consumos fixam-se nos 12 l/100 km.

VEREDICTO

Numa época em que a autonomia ganhou protagonismo, o depósito de 79 litros traz uma pequena vantagem ao Ford Bronco, capaz de percorrer 560 km entre abastecimentos de gasolina. O Jeep Wrangler 4xe fica 18 km atrás, distância que fora de estrada pode parecer uma infinidade.

PREÇO

Ford Bronco Outer Banks

Jeep Wrangler 4xe Rubicon

124 402€ (126 842€ versão ensaiada)

87 699 € (87 699 € versão ensaiada)