Piloto oficial da Porsche no Campeonato do Mundo de Formula E, António Felix da Costa, é, também, embaixador do Centro Porsche no Porto que, em conjunto com a TURBO, organizou um debate durante o qual o piloto fez algumas revelações surpreendentes. "Estive para desistir mas continuar foi a melhor decisão da minha carreira"
O Centro Porsche Porto convidou o seu mais recente embaixador para um debate com os seus clientes. António Félix da Costa, ex-campeão do Mundo de Fórmula E e, agora, piloto oficial Porsche fez algumas revelações surpreendentes e confessou-se "rendido à experiência de condução de um automóvel elétrico".
A conversa de quase duas horas, perante um público conhecedor e interveniente, começou com uma pergunta colocada por Hugo Ribeiro da Silva, administrador dos Centros Porsche do Porto e Braga sobre a ligação de Félix da Costa à Porsche e à sua condição de embaixador das estruturas do Porto e Braga.
"Poder estar ligado à Porsche e em casa diz-me muito. Cresci a adorar a competição automóvel onde se há marca que que se destaca é a Porsche. Por isso, ser piloto Porsche foi um sonho", começou por dizer António Félix da Costa.
"A maneira como ele se concretizou é uma história muito engraçada. Eu estava no início do meu contrato com a BMW na Formula E e a Porsche anunciou que iria estar nesta competição. Quase imediatamente disse ao Tiago Monteiro, que é o meu agente, que era o lugar certo para nós. O Tiago começou a movimentar-se há três anos mas as marcas alemãs têm uma espécie de acordo para não tirarem pilotos umas às outras e, por isso, acabei por estar três anos com a DS, onde profissionalmente as coisas correram muito bem".
A Porsche em primeiro lugar
No entanto, como refere, os contactos com a Porsche nunca pararam. "Há cerca de um ano e meio eles fizeram uma aproximação e as coisas evoluíram, de maneira muito fácil. Eles sabiam que a nossa vontade era muito grande e ficámos muito satisfeitos por verificar que o mesmo acontecia com eles. Estávamos muito sintonizados".
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Deixar uma equipa que conhecia bem e onde tinha alcançado o título de Campeão do Mundo não terá sido, ainda assim, uma decisão fácil. Félix da Costa refere precisamente o contrário.
"Adoro desafios novos, sair da zona de conforto. Quando assinei com a DS onde estava um piloto francês, sabia que as coisas não iriam ser fáceis; ganhei muitos cabelos brancos. Prevejo que o mesmo irá acontecer aqui. Mas é um processo de crescimento e ainda por cima numa empresa muito mais estruturada, com métodos de trabalho mais rigorosos, como é habitual nos alemães, mas acho que temos todas as condições para ter sucesso. Uma das primeiras coisas que ouvi, quando cheguei à Porsche, agradou-me bastante: quem ganha não é o António, não é Pascal (Wehrlein), mas sim a Porsche. Tudo o que é feito é em nome do sucesso da marca – estou 100% de acordo com isso".
Nova equipa, novos métodos e as exigências sempre a subir, mas Félix da Costa está confiante. "Fiz os primeiros testes com os mecânicos e engenheiros do meu colega de equipa e em seguida é a vez de ele fazer testes com os meus engenheiros e mecânicos. Dessa forma conhecemo-nos melhor uns aos outros e criamos um espírito de equipa muito mais forte; somos um todo e um só: a Porsche".
"É uma forma de trabalhar nova de que estou a gostar, como sinto também que para eles está a ser importante a experiência que lhes estou a transmitir. Está a ficar ainda mais claro para mim o porquê de a Porsche só entrar em projetos onde sabe que vai ganhar. A Porsche ainda não alcançou nenhum grande feito na Fórmula E mas está a fazer tudo para que isso aconteça. E eu sei que vai acontecer. Se eu puder ser uma peça nesse grande passo ficarei muito feliz".
Rasga o contrato – tira-me daqui
Habituado a conduzir os carros mais potentes, Félix da Costa recorda os primeiros passos num Fórmula E… que foram tudo menos motivantes…
"Recordo-me muito bem da minha primeira experiência. Na altura eu era piloto de testes de Fórmula 1 e estava a correr no DTM com a BMW. Estava, portanto, acostumado aos automóveis mais evoluídos. Estava algo frustrado por não ter entrado para a Fórmula 1 como piloto oficial e é nessa altura que a Fórmula E nasce. Quase em simultâneo, recebo uma chamada em que me é oferecido um bom contrato e eu e o Tiago decidimos dizer imediatamente que sim, sem conhecer o projeto, sem conhecer os engenheiros, quase sem conhecer nada", relembra o piloto.
"Chegou então o dia de conhecer o carro – recordo-me bem. Estavam várias equipas em Donington, chovia imenso. Faço cinco voltas, paro na box e digo para o Tiago: 'Rasga já o contrato. Tira-me daqui. Nem pensar. Não vou correr com isto'. O Tiago tentou demover-me, explicou-me uma série de coisas, ao que eu respondi que não, que a decisão estava tomada: não!".
"Nessa altura, como disse, estava com a BMW no DTM e disse aos responsáveis que iria focar-me única e exclusivamente no DTM, que a Fórmula E não me interessava. A resposta foi contundente: não, tu tens que ficar. Podes ter a certeza de que daqui a cinco anos estamos no topo e contamos contigo. Acreditei e fiquei. Hoje posso dizer que foi a melhor decisão que tomei na minha carreira de piloto".
"Nunca me diverti tanto como na Formula E. O carro é um desafio enorme, a diversos níveis. Corremos em circuitos citadinos, que todos adoramos – basta ver a satisfação dos pilotos de F1 quando vão ao Mónaco. Depois toda a tecnologia é desafiante. Por exemplo podemos afinar o nosso carro em quatro ou cinco parâmetros, curva a curva. Quando vou para o simulador, para cada corrida e para cada ponto da pista, defino o comportamento, a percentagem de travagem e tudo o mais. Faço esse processo para cada curva. Há tanta tecnologia à volta destes carros que o desafio para nós e para os engenheiros é fantástico. Para um piloto é muito mais do que guiar; é muito mais do que fazer corridas. É um desafio enorme ao qual eu não sabia que seria capaz de dar resposta".
Próxima temporada será desafio ainda maior
Quanto à próxima temporada, se a expetativa é grande, a confiança é maior.
"Testei o novo carro, de terceira geração, há um mês, e posso dizer que o desafio é ainda maior. Tem muito mais potência e, por exemplo, face ao carro com que venci em Le Mans, que atinge os 350 km/h, este carro novo de terceira geração é muito mais potente, o que nos coloca desafios enormes em termos de tração – estamos a fazer 150 metros sem conseguir transmitir a potência ao chão – e temos que lidar com isso nos mesmos circuitos citadinos. Além disso, a forma como a potência chega é avassaladora".
"Em síntese, desde que conduzi pela primeira vez um Formula E há nove anos até hoje a evolução é incrível. Temos muito mais potência, mais autonomia, mais regeneração, tudo evoluiu de maneira incrível e ter feito parte deste percurso é fascinante. Talvez por isso, 30 ou 40 pilotos que na altura me ligavam a gozar com os carros a pilhas e com as corridas Scalextric… hoje já lá estão ou, se não estão, é porque não conseguiram entrar".
Na estrada com o Porsche Taycan
Da pista para a estrada, Hugo Ribeiro da Silva convida também o piloto a recordar a primeira experiência ao volante do seu carro de todos os dias, o Porsche Taycan Turbo.
Félix da Costa confessa que as dúvidas iniciais não eram poucas e que, sem o "empurrão" do responsável pelos Centros Porsche do Porto e Braga, a opção não teria recaído sobre um elétrico.
No entanto e logo após a primeira experiência, "as coisas começaram a fazer sentido. Posso mesmo dizer que estou a adorar e há uma série de ideias que eu tinha à partida que estão a ruir. Nomeadamente, as questões relacionadas com a autonomia e os carregamentos. A verdade é que já não são problemas. Mas ainda mais importante é que rapidamente nasceu na minha cabeça a convicção de que, para as deslocações do dia-a-dia, os carros a combustão já não fazem qualquer sentido. Só servem para poluir e esse é um tema para o qual todos temos que estar muito atentos e dar o nosso contributo".
"Por outro lado eu adoro automóveis, adoro a Porsche, e posso garantir que estou fascinado com a experiência de condução do Taycan. Olho para ele e é verdadeiramente um Porsche e o mesmo acontece com a condução", acrescenta o piloto, que deixa, inclusivamente, "uma confissão":
"Hoje vinha para o Porto e ponderei vir de comboio, pois pareceu-me que seria uma aventura vir de automóvel elétrico. O Hugo explicou-me duas ou três coisas simples e a verdade é que bastou-me parar durante 20 minutos a meio do caminho e, enquanto fazia uns telefonemas, repus energia suficiente para chegar ao Porto sem qualquer 'stress', a uma velocidade perfeitamente normal".
"Já não tenho qualquer dúvida de que o automóvel elétrico faz todo o sentido e não existe qualquer razão para não aderirmos a uma solução que é muito mais evoluída do ponto de vista ambiental. Ao mesmo tempo, o prazer de condução é enorme. Tenho a certeza de que, alguém que ande de carro elétrico durante uma semana, vai ser impossível regressar à solução anterior".