Morre Ferdinand Piech, o "pai" do grupo VW

Ferdinand Piech, neto do fundador da Porsche e o homem que ajudou a erguer o Grupo Volkswagen no líder mundial do sector automóvel, faleceu este domingo

O homem que transformou o Grupo VW num dos maiores fabricantes mundiais desapareceu, mas deixou o seu nome bem marcada na história do conglomerado alemão formado por doze marcas

Faleceu este domingo Ferdinand Piech, um dos nomes maiores da história do automóvel. Conhecido por ser o neto de Ferdinand Porsche (a sua mãe, Louise, era filha do homem que idealizou o 911 e o VW Beetle), Piech deixou o seu legado bem marcado no Grupo Volkswagen. Afinal, foi durante a sua liderança, na década de 90, que o consórcio alemão foi reestruturado e se lançou numa expansão que culminou com a liderança do mercado mundial, superando a Toyota.

Ferdinand Karl Piech nasceu em 1937 na Áustria, e depois de completar a sua formação entrou para os quadros da Porsche em 1963. Com apenas 31 anos, em 1968, era já responsável de desenvolvimento, ficando associado ao nascimento do 917, projeto em que apostou grande parte dos fundos da marca.

O seu grande legado - O Grupo VW

Depois de passar para a Audi, em 1972, Ferdinand Piech foi assistindo ao forjar de um gigante mundial, o Grupo VW. Que a partir de 1992 ele passou a liderar, como Diretor-Executivo, ficando a responsabilidade de despertar um gigante adormecido, criticado por altos custos e alguns problemas de qualidade.

Ferdinand Piech tomou medidas que mudaram o panorama do Grupo VW. Começou por dispensar quase todos os quadros dirigentes da época, alcançou um acordo com as poderosas organizações de trabalhadores e iniciou uma revolução na gama.

A partir do momento em que os frutos desta reestruturação começaram a surgir, avançou para a reorganização e expansão. A Skoda e Seat, já pertencentes ao grupo, foram integradas com maior eficácia, e foram adquiridos emblemas como a Lamborghini e Bentley (neste caso, falhando a obtenção dos direitos da Rolls-Royce, que supunha também ter comprado) e fez renascer a Bugatti Automobiles.

Atingindo os 65 anos em 2002, Piech foi substituído como CEO. Mas não deixou de se manter como um dos homens mais influentes na estratégia do Grupo VW, já que passou a Presidente do Conselho de Administração.

A queda de Piech

A partir deste cargo foi tendo impacto nas decisões. Para tal também contribuiu a força da família Porsche, que é a maior accionista de todo o Grupo VW. Um exemplo do seu poder de influência surgiu em 2006, quando contribuiu para a queda de Bernd Pischetsrieder, que ele tinha escolhido como o seu sucessor no cargo de CEO.

Mas nove anos mais tarde o panorama alterou-se, quando ele tentou também forçar a saída de Martin Winterkorn. Nessa altura os restantes membros do Conselho de Administração cerraram fileiras em redor do CEO (que tinha alcançado o 1º lugar mundial de vendas), acabando por ser Ferdinand Piech a sair de cena.

Depois de perder esta guerra, vendeu aos outros membros da família as suas acções dentro do Grupo, desligando-se de todos os cargos e decisões. No entanto o seu nome não deixou de surgir ocasionalmente, especialmente devido ao Dieselgate.

O escândalo rebentou pouco tempo após abandonar a presidência do Grupo VW, tendo surgido rumores de que ele teria colaborado com as autoridades nesse caso. Por outro lado, o seu nome foi também ligado ao nascimento uma cultura de contornar as regras para atingir os objetivos por parte dos engenheiros. Uma forma de esconder possíveis dificuldades técnicas em relação aos rivais, e que terá dado origem ao Dieselgate.

Os grande carros... e os grandes desastres

Uma das frases marcantes da biografia de Ferdinand Piech, em 2002, fala sobre a sua maior paixão: os automóveis. Nesse livro o neto de Ferry Porsche escreve que "os negócios e a política nunca me distraíram da parte fulcral da nossa missão: desenvolver e fazer carros atrativos". E se por um lado isso é verdade, com o sistema quattro e o Audi 100, há outros casos que não correram tão bem.

Talvez pelos negócios não o terem distraído da missão, ele fica ligado a três dos maiores desastres financeiros da indústria. Foi durante a sua liderança que surgiram o Bugatti Veyron, o VW Phaeton e o Audi A2, três dos modelos com maiores prejuízos na história do mundo automóvel.

O legado de Piech

Além de ter ficado ligado à história e ao sucesso do Grupo VW, o nome Piech também tem desde este ano mais um capítulo na história do automóvel. Isto porque um dos filhos do ex-CEO, Anton, lançou uma marca de veículos elétricos. Trata-se da Piech Automotive, que apresentou o Mark 1 capaz de carregar 400km em apenas 4 minutos.

Este foi o último ponto alto que Ferdinand Piech, de 82 anos, viu por parte da "sua família Porsche" no mundo automóvel. Este domingo desmaiou enquanto estava num restaurante em Rosenheim, Baviera. Transportado para um hospital nas proximidades, acabou por não recuperar, falecendo ainda durante o domingo.