Depois da condenação do Grupo VW no Dieselgate, e das suspeitas que recaíram sobre outras marcas relativamente a práticas ilegais para reduzir os registos de emissões com o anterior ciclo NEDC, agora os fabricantes sofrem nova acusação. Com uma grande particularidade. Antes queriam apresentar valores menores que a realidade, agora, na alegada fraude no WLTP, estarão a apresentar registos acima dos verdadeiros. A Transport & Environment, um famoso grupo ambientalista que opera a nível europeu, veio afirmar que os cientistas que trabalham na Comissão Europeia encontraram evidências de uma nova fraude de emissões. A acusação refere que eles terão atuado em conjunto para enganar as autoridades. O mais curioso da situação é que a intenção seria precisamente a oposta do que aconteceu com o Dieselgate. Nesse caso, o objetivo foi apresentar valores mais baixos do que as emissões reais. Agora a ideia é dar, com o novo ciclo de testes, valores acima dos verdadeiros. A ideia desta alegada fraude no WLTP é facilitar o posterior cumprimento das
metas estabelecidas para a redução da poluição causada pelos automóveis na próxima década. Segundo afirma esta associação, esta situação iria reduzir o nível de ambição para a descida das emissões em 57% para o período 2021/2025 e em 23% para a fase 2025/2030.
Pensar no futuro...
O que poderá estar a impulsionar esta situação, com a apresentação de valores acima dos reais? Tudo se explica pelo facto das metas de emissões para 2021-2030 serem estabelecidas em valores percentuais, ao contrário dos objetivos numéricos, como as 90g/km que não devem ser superadas em 2021.
Para a próxima década está prevista uma descida de 30%. Ou seja, fazendo uma análise "simplificada" e partindo das 90g de CO2 em 2021, os níveis de poluição devem descer até às 63g em 2030. Agora, imaginando que se confirma a fraude no WLTP que é indicada pela Transport & Environment, o que acontece se as emissões em 2021 forem de 100g/km? Nesse caso, os fabricantes apenas teriam de chegar às 70g/km em 2030, enfraquecendo as metas que estão a ser previstas pela Comissão Europeia. A Transport & Environment diz que são conhecidos os procedimentos adotados pelas marcas para esta possível fraude no WLTP. Segundo é referido, elas estão a desativar os sistemas de Start&Stop, estarão a reajustar os padrões das passagens de caixa e a utilizar baterias com capacidades reduzidas, para queimar mais combustível e, consequentemente, emitir mais CO2. Além disso, estarão também a declarar valores mais altos daqueles que foram medidos, inflacionando os valores médios das suas frotas de veículos. E é referido que, devido a esta situação, a comissão descobriu que "os objetivos para 2025 e 2030 serão também enfraquecidos, devido ao ponto de partida inflacionado em 2021. Isso iria, de facto, reduzir o nível de ambição".
Um pequeno senão...
A Transport & Environment afirma que, para esta situação funcionar, a única maneira possível seria que os fabricantes trabalhassem em conjunto. Por isso afirma que as autoridades comunitárias devem alargar as suas inquirições para verificar se existe efetivamente uma fraude no WLTP e se os fabricantes acusados se associaram para apresentarem valores acima dos registados oficialmente. Mas há uma questão, não abordada pela organização ambientalista, que coloca algumas dúvidas sobre a possibilidade das marcas inflacionarem os seus valores de emissões. Isto porque
existem fortes multas para quem não consiga cumprir as metas para 2021, algo que poderia significar que apresentar agora valores mais altos para depois não ter de investir tanto na redução das emissões pode não ser uma boa estratégia.
Fonte: Transport & Environment e mais fontes