A Conferência "Rumo às emissões 0 em 2030" organizada pela LeasePlan contou com a presença de Nélson Pinto, que é Diretor Municipal de Ambiente e Serviços Urbanos da Câmara Municipal do Porto e explicou as várias fases da implementação da mobilidade elétrica na frota do executivo camarário. Decorreu hoje, nos Montes Claros (Monsanto) a Conferência "Rumo às emissões 0 em 2030" da LeasePlan, que teve como ponto principal a explicação aos frotistas das vantagens desta alternativa de mobilidade para as suas empresas. Mas também contou com um muito esclarecedor exemplo prático sobre as várias fases dessa transição, com a indicação sobre como foram implementados os veículos de baixo e nulo impacto ambiental na cidade do Porto. Um projeto que se foi tornando realidade em várias fases, que decorreram ao longo de uma década e que estão a trazer diversos benefícios à cidade. Não apenas nas contas da autarquia, mas também na qualidade de vida proporcionada aos cidadãos…
400.000€ de manutenção/ano em 2007
Foi o Diretor Municipal de Ambiente e Serviços Urbanos da Câmara Municipal do Porto, Nélson Pinto, a ficar responsável por demonstrar como, ao longo de uma década, esta ambiciosa intervenção nos transportes foi sendo realizada. Para tal, foi efetuada a radiografia à situação existente em 2007, e que mostra bem a situação caótica da frota de automóveis da altura. Nélson Pinto recorda que então a C.M. Porto era proprietária de 200 viaturas, com uma idade média de 14 anos e algumas delas já acima dos 25 anos. Algo que significava diversos constrangimentos, pois as avarias obrigavam a longos períodos de imobilização e ainda a uma fatura anual de 400.000€ apenas com a manutenção dos carros. Juntava-se ainda o facto de serem veículos de várias marcas, tornando a situação ainda mais difícil, e ainda a necessidade de ter muitos recursos humanos para tratar de todo este envelhecido parque automóvel.
Como em cada problema existe uma oportunidade, estes dados serviram para dar início à inversão na estratégia, existindo a hipótese de compra, leasing ou o renting dos automóveis. O custo de 4,5 milhões de euros em novos carros num só ano do primeiro caso e a manutenção da propriedade (com todos os encargos associados) nas duas alternativas iniciais significaram que elas foram descartadas, sendo o renting a opção. A primeira etapa, em 2007, permitiu desde logo diminuir em 20% a dimensão da frota (pois não existiam carros avariados por longo tempo) e ainda obter fundos pela alienação do parque automóvel que estavam na posse da autarquia da cidade invicta. Além disso, foi possível reduzir custos pois eram necessários menos recursos humanos alocados à manutenção e outras tarefas e ainda, pela introdução de motores mais modernos e eficientes, gastar menos 150.000€ em combustível. Para os habitantes a primeira vantagem foi a redução da quantidade de CO
2 que poluía o ar do Porto.
Primeira investida nos elétricos
Em 2012, na segunda fase desta mudança de paradigma, o executivo camarário decidiu redefinir prioridades, mas considerou que a relação custo/benefício e a reduzida oferta ainda não tornavam os elétricos atrativos. Além disso, é recordado que na altura a incerteza sobre esta tecnologia eram ainda muitas, pelo que a opção foi manter a estratégia. Foi dois anos mais tarde que finalmente a autarquia teve o primeiro contacto com as motorizações alternativas. Tudo começou, nesta terceira fase, através do acordo estabelecido com a Mitsubishi para a utilização de uma Canter e-Cell em 2014 na recolha seletiva de resíduos. O resultado foi bastante positivo, pois os motoristas ficaram bastante agradados e os próprios portuenses foram surpreendidos pelo reduzido ruído (a menor poluição sonora é também apontada como vantagem dos elétricos) que este pesado fazia ao passar.
Aceleração da aposta
A quarta etapa teve início em 2015, com a aquisição de cinco veículos de pequeno porte com motorizações alternativas (quatro elétricos e um híbrido de Plug-In) para a manutenção e limpeza dos espaços verdes. Mais uma vez o feedback dos funcionários, agradados com a agilidade e autonomia das suas novas viaturas "amigas do ambiente", foi tida em consideração. No mesmo ano também 12 ligeiros de passageiros elétricos entram ao serviço da C.M. Porto, três deles destinados ao executivo, quatro para a Polícia Municipal e os restantes cinco para os diversos serviços da autarquia. E após a habitual fase inicial de transição. Nélson Pinto recorda que pouco tempo depois os condutores já preferiam ir nestes carros sem emissões poluentes, dadas as vantagens na condução obtidas pelo silêncio e o binário.
A importância dos números
No mesmo ano foi dado um outro passo importante, com a quinta etapa a surgir graças ao apoio do CEIIA (Centro de Excelência para a Investigação na Indústria Automóvel). Esta parceria teve o condão de mostrar, pelos números, como as autoridades camarárias da cidade banhada pelo Rio Douro poderiam ser líderes na transição para a mobilidade elétrica. O dado mais incrível é que, com base nos três anos de registos dos movimentos dos carros, foi possível concluir que 90% da frota poderia ser elétrica. O facto de serem viagens curtas, percursos próximos e espaçados no tempo explica essa possibilidade. No entanto, como constatou o Diretor Municipal de Ambiente e Serviços Urbanos da Câmara Municipal do Porto, não é possível completar totalmente a transição porque não existem automóveis elétricos em todos os segmentos, como pick-ups, obrigando a utilizar motores de combustão para apoio a diversas tarefas.
Mobilidade elétrica em força
No último ano o esforço do Porto para esta transição ficou bem exemplificado através daquela que foi a maior candidatura nacional ao Fundo Ambiental. O que significou um investimento total de 820.000€ (340.000€ comparticipados pelo Estado), que serviu para adquirir 12 viaturas elétricas para a manutenção dos jardins e duas varredoras também de emissões 0. Também com vista a este objetivo, e após a mais recente renovação da frota, 70% dos carros ao serviço da Câmara do Porto serão eletrificados. Ao todo, será composta por 205 veículos elétricos, 69 híbridos de Plug-In e, porque não existem alternativas, 116 viaturas com motores de combustão interna. A própria C.M. Porto já fez contas aos ganhos, e refere que além do decréscimo do custo da mobilidade proporcionado pelos veículos elétricos, poupa uns impressionantes 620.000€/ano em combustível. E os mais beneficiados, pelo que explica Nélson Pinto, são os cidadãos, já que estas alternativas são menos ruidosas e, segundo estimativas, vão evitar o envio de 2300 toneladas de CO
2 para a atmosfera nos próximos quatro anos. Situações que, como é referido, melhoram a qualidade de vida das pessoas…
Os desafios
Este membro do executivo da Cidade Invicta refere que, no entanto, esta transição vem colocar desafios internos e externos à Câmara Municipal. Começando desde logo por encontrar forma de aumentar o número de carregamentos sem um incremento exagerado da potência contratada, algo que se espera alcançar com sistemas de gestão inteligente. O objetivo será ir alterando a potência consoante as horas e quantidade de automóveis ligados, podendo por exemplo variar entre 1kW ou 7kW. Outra intenção passa por oferecer um ponto de carregamento por cada veículo elétrico, o que significa um investimento superior a 700.000€. Mas, destaca Nélson Pinto, com a poupança obtida em rendas e eletricidade (e sem esquecer o montante acima referido da fatura com combustível), em somente dois anos este valor será amortizado. O Diretor Municipal de Ambiente e Serviços Urbanos da Câmara Municipal do Porto referiu ainda três desafios externos ao município, começando por enumerar o potencial de gerar energia, até com várias fontes renováveis, que Portugal tem e a necessidade de garantir uma rede de carga adequada. Mas não esqueceu o papel dos construtores na expansão da oferta para outros segmentos e o aumento atração dos elétricos, através da autonomia ou velocidade de carga. Porque, recorda, se a velocidade de carga for rápida nem é preciso muita autonomia ou, vice-versa, se a autonomia for grande a velocidade de carga até pode ser mais baixa pela menor necessidade de recorrer aos postos. Uma interessante e curiosa opinião que terminou a intervenção de Nélson Pinto na Conferência LeasePlan "Rumo às emissões 0 em 2030", onde deu uma clara explicação sobre o ambicioso objetivo da C.M. Porto na mobilidade elétrica.