Euro 7. Construtores e Bruxelas estão longe de se entenderem

Os construtores europeus e Bruxelas não se entendem relativamente aos limites da norma Euro 7. Se Bruxelas afirma ser necessário

Os construtores europeus e Bruxelas não se entendem relativamente aos limites da norma Euro 7. Se Bruxelas afirma ser necessário para evitar emissões prejudiciais para a saúde, já os fabricantes consideram que a legislação em causa é cara, feita à pressa e inútil.

"Inútil", "totalmente estúpida" e "cara". Estas são algumas afirmações públicas de responsáveis da indústria automóvel europeia relativamente à proposta da União Europeia para a norma Euro 7, segundo refere o Automotive News Europe.

Os fabricantes europeus estão a criticar e a contestar a futura legislação de emissões porque a consideram demasiado cara, feita à pressa e desnecessária. Por seu lado, a Comissão Europeia argumenta que o Euro 7 é necessário para reduzir as emissões e evitar a repetição do escândalo do dieselgate do Volkswagen Group.

Filas de trânsito

Os países da União Europeia e os legisladores estão a negociar a proposta da diretiva Euro 7 que prevê limites de emissões mais exigentes de óxido de azoto e monóxido de carbono para automóveis diesel, mas não a gasolina, camiões e autocarros. Os limites têm vindo a diminuir drasticamente desde a introdução do Euro 1 em 1992.

A proposta da Comissão alarga os testes em condições reais de condução (RDE) e acrescenta um sistema contínuo de teste de emissões através da monitorização a bordo. A norma Euro 7 deverá entrar em vigor em meados de 2025 para automóveis e em meados de 2027 para camiões e autocarros. A legislação compreende ainda as emissões dos pneus e dos travões.

Críticas ferozes da indústria

Os executivos dos principais fabricantes europeus não poupam críticas aos limites constantes na proposta da Comissão Europeia. O CEO da Stellantis afirma que são "inúteis" numa altura em que os construtores gastam milhares de milhões de euros em veículos elétricos, tendo já dado início à descontinuação de viaturas com motor de combustão.

O principal grupo de pressão europeu da indústria automóvel, ACEA, afirmou que o Euro 7 irá fazer aumentar o preço dos carros novos até 2000 euros e um administrador da Skoda adiantou que o Volkswagen Group teria de despedir 3000 trabalhadores.

Escape

Por sua vez, o CEO da Iveco, o alemão Gerrit Marx, não hesitou em apelidar a proposta como "uma estupidez completa".

A Comissão Europeia, por seu lado, defende que o Euro 7 só irá aumentar o preço dos automóveis até 150 euros, enquanto nos camiões e autocarros o valor ronda os 2600 euros.

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Nesta guerra de argumentos, a ACEA considera que as reduções de gases poluentes serão mínimas com o Euro 7, enquanto a Comissão Europeia advoga que serão significativas.

Pouco tempo de preparação

Mattias Johansson, responsável de relações governamentais da Volvo Cars, afirmou à Reuters, que o prazo de 2025 "praticamente não deixa tempo" para fazer alterações nos motores e poucos são os detalhes acerca dos procedimentos dos testes. A Volvo comprometeu-se a tornar-se totalmente elétrica até 2030.

O CEO da Daimler Truck Martin Daum afirmou que os novos sensores de emissões exigem "elevados investimentos", enquanto Alexander Vlaskamp, CEO da MAN Truck & Bus estima que o custo do Euro 7 será de mil milhões de euros.

Os fabricantes de pesados também afirmam que o Euro 7 entra em vigor em 2027 e a partir de 2030 passam a ser obrigatórios limites ainda mais restritos.

"É um comportamento aceite pelos políticos em Bruxelas bater na indústria automóvel porque merecemos" na sequência do escândalo do diesel gate", sublinha Gerrit Marx da Iveco.

Um porta-voz da Comissão Europeia recusou fazer comentários às declarações dos executivos, mas afirmou que os testes de emissões Euro 7 em condições reais são importantes devido "aos escândalos no passado com dispositivos de batota".  

No escândalo do diesel, a Volkswagen admitiu em 2015 ter instalado software para alterar os resultados de emissões em 11 milhões de automóveis diesel em todo o mundo, o que custou ao fabricante alemã mais de 32 mil milhões de euros em chamadas às oficinas, multas e custos legais.