A grande maioria de nós, portugueses, somos incapazes de indicar mais do que uma ou duas marcas de automóveis lusitanas. Aqui na Turbo, e durante as próximas semanas, pretendemos retificar esta lacuna, pois, na verdade, Portugal está repleto de histórias, projetos e marcas dignas da nossa consideração. Hoje, contamos-lhe a história da EDFOR.
Eduardo Ferreirinha, o industrial, piloto e mecânico que fomentou a origem do primeiro carro de competição português, o Felcom, é o principal protagonista de uma das histórias mais empolgantes da indústria automóvel portuguesa: a história da marca EDFOR.
Nos anos 30, Eduardo Ferreirinha era então dono da EFI (Eduardo Ferreirinha & Irmão), uma metalúrgica que se dedicava ao fabrico de componentes para automóveis. Adicionalmente, em meados desta década, Ferreirinha acumulava já uma vasta experiência na modificação de mecânicas Ford.
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Foi, assim, através desta experiência mecânica e industrial, que Eduardo decide avançar para a criação da marca EDFOR (ED, de Eduardo, e FOR, de Ford).
EDFOR Grand Sport
Chegado o mês de Abril de 1937, Eduardo Ferreirinha decide revelar ao mundo, no Salão Automóvel do Porto, a sua mais recente criação: o EDFOR Grand Sport.
Este carro, um elegantíssimo roadster de dois lugares, espantou Portugal e o estrangeiro, não só pela sua elegância, mas também por uma panóplia de inovações técnicas, extremamente avançadas.
Dotado de um V8 da Ford, este motor foi alterado para uma maior performance, através de novos pistões desenhados e produzidos pela EFI. Resultado: uma faixa rotativa mais alta, 3620 cc de cilindrada, e uma potência que subiu para uns expressivos 90cv.
Uma das maiores inovações, reside na sua conceção estrutural, com um chassis cujo esqueleto era construído numa liga de alumínio fundido. E a que se juntava, depois, uma suspensão de molas helicoidais, reguláveis através do interior do carro, além de uma direção fortemente desmultiplicada, como forma de facilitar a realização de manobras.
De resto, a carroçaria também não escapou aos benefícios do alumínio, com a construção feita neste metal, a permitir um peso final de apenas 150 kg.
A carroçaria foi, igualmente, esculpida, com preocupações aerodinâmicas. Bem patentes, por exemplo, nos suportes dos faróis dianteiros, que conectam as abas das rodas e a carroceria, em forma de torpedo.
Ao volante: Manoel de Oliveira
A história da EDFOR contou com outro grande protagonista: nada mais, nada menos, que Manoel de Oliveira. O cineasta, e na altura, piloto de corridas, também ajudou, e muito, na divulgação da EDFOR, através da realização de uma curta metragem sobre o Grand Sport, intitulada de "Já se Fabricam Automóveis em Portugal".
O cineasta mantinha uma ligação a Eduardo Ferreirinha, iniciada ainda antes de 1937, pois, já lhe tinha adquirido um carro de competição.
Este carro, o Ford Especial Méneres & Ferreirinha, era essencialmente um prótotipo do Grand Sport, tal eram as semelhanças entre os dois.
Oliveira, com este "proto-Grand Sport", competiu numa série de corridas portuguesas e até internacionais, onde alcançou vários pódios, além de ter estabelecidos inúmeros recordes.
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Já com o Grand Sport, Oliveira entrou também em algumas competições, tendo ganho a rampa do Gradil, em 1938.
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Mas, ee a Primeira Guerra Mundial impediu o primeiro projeto de uma marca de carros portuguesa, a ATA, desta feita, coube à Segunda Grande Guerra, destruir o sonho automóvel lusitano.
No entanto e apesar desse desfecho, a EDFOR ainda conseguiu completar o fabrico de quatro unidades do seu Grand Sport. Uma das quais, continua sendo vista e admirada, em encontros e exposições de clássicos, em Portugal.