DM: a marca de carros portuguesa criada por um catalão

Portugal está repleto de histórias, projetos, sonhos e marcas dignas da nossa consideração. Hoje, contamos-lhe a história da DM.

A grande maioria de nós, portugueses, somos incapazes de indicar mais do que uma ou duas marcas de automóveis lusitanas. Aqui, na Turbo, e durante as próximas semanas, pretendemos retificar esta lacuna, pois, na verdade, Portugal está repleto de histórias, projetos e marcas dignas da nossa consideração. Hoje, contamos-lhe a história da DM.

A DM foi uma das muitas marcas portuguesas que surgiram numa época extremamente rica para a indústria automóvel portuguesa.

DM, acrónimo para Dionisio Mateu, nome do seu criador, foi fundada em 1951.

Mateu era catalão, mas, quando criou a DM, já acumulava cerca de três décadas como habitante da cidade do Porto. Acumulava, também, muita experiência como mecânico.

Logótipo da DM
Logótipo da DM

Na base da fundação da marca DM, esteve a paixão de Dionisio Mateu pela competição automóvel e, mais concretamente, a vontade de competir numa das categorias existentes na época, denominada Sport, e que compreendia desportivos com cilindradas de 750cc a 1100cc.

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Para o fazer, tentou comprar um carro de competição a um piloto, mas apercebeu-se que, pelo preço que este lhe pedia pelo carro, conseguiria construir o seu próprio automóvel, à sua medida.

Com base numa mecânica de tração traseira da Fiat

E assim o fez. Comprou um chassis de um Fiat 1100 (tal como fez a também portuguesa FAP, e tantas outras incontáveis marcas europeias, nos anos 50), e construiu-lhe uma carroçaria de raiz.

Com a forma de "charuto", o DM apresentava os guarda-lamas completamente separados do corpo do automóvel.

A DM, à semelhança de inúmeras marcas europeias e de marcas portuguesas como a FAP, a Alba e a Olda, utilizaram o chassis e conjunto propulsor do Fiat 1100/508c, exposto aqui na imagem a cima
A DM, à semelhança de inúmeras marcas europeias e de marcas portuguesas como a FAP, a Alba e a Olda, utilizaram o chassis e conjunto propulsor do Fiat 1100/508c, exposto aqui na imagem acima

O motor Fiat beneficiou de um aumento da sua performance, com o polimento e calibramento da cambota, das bielas e dos pistões. Alcançaram-se assim 65 cv, que conseguiam impulsionar o leve DM, de apenas 500kg, até aos 170 km/h.

Quanto à estreia da DM em competição, aconteceu a 11 de Maio de 1951, com dois carros. Os quais não podiam ter tido estreia mais auspiciosa, já que venceram as respectivas corridas.

Aliás, o sucesso haveria de continuar na prova seguinte, com a DM a somar novo triunfo, demonstrando elevada competitividade.

A evolução do desenho das carroçarias dos DM, que se foram tornando cada vez mais aerodinâmicas (sequência fotográfica retirada de O Automóvel: Design Made in Portugal)
A evolução do desenho das carroçarias dos DM, que se foram tornando cada vez mais aerodinâmicas (sequência fotográfica retirada de O Automóvel: Design Made in Portugal)

Em 1952, a DM decide construir um terceiro carro. Desta vez, já com uma carroçaria completamente fechada de raiz,e, distinta dos dois modelos anteriores.

Este últimos, pelo contrário, viram o fecho das suas carroçarias acontecerem progressivamente, à medida que foram recebendo novas alterações.

Quanto à nova carroçaria fechada, revelou uma aerodinâmica muito apurada, e uma estética elegante e refinada. Características que levaram a DM a começar a equacionar a produção em série do modelo, ainda que em pequenos lotes, para o público em geral.

Um DM, não só fechado a nível da completa integração dos guarda-lamas na carroçaria, mas também fechado com teto, adotando uma configuração coupé
Um DM, não só fechado a nível da completa integração dos guarda-lamas na carroçaria, mas também fechado, com teto, adotando uma configuração coupé

O Fim

No entanto e infelizmente para todos nós, portugueses aficionados, este objetivo nunca viria a ser concretizado. Culpa dos desentendimentos entre Dionisio Mateu e o fabricante das carroçarias da DM.

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Estes desentendimentos, juntamente com uma perda de competitividade dos DM na sua classe (graças a um regulamento que aumentou a cilindrada máxima da categoria para 1500cc), acabaram ditando o fim desta marca portuguesa. Que assim fechou portas, decorria o ano de 1955...

Fonte:
O Automóvel: Design Made in Portugal