Numa altura em que ofensiva chinesa sobre o mercado automóvel europeu avança de acelerador a fundo, a Comissão Europeia acaba de anunciar o lançamento de uma investigação sobre os apoios estatais da China aos seus construtores automóveis, que lhes permite vender carros elétricos mais baratos na Europa, numa posição de vantagem face aos fabricantes europeus.
O anúncio do lançamento desta "investigação contra as subvenções para automóveis elétricos provenientes da China" foi feito pela Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, durante a apresentação, no Parlamento Europeu, do Estado da União.
Defendendo que "os mercados globais estão hoje inundados por carros elétricos chineses que são mais baratos", mas apenas porque "os seus preços mantêm-se artificialmente baixos através de subvenções estatais gigantescas", Von der Leyen qualificou esta prática como "uma distorção" do mercado".
"E tal como nós não aceitamos este tipo de distorção, vinda do interior do nosso mercado, também não aceitamos que possa vir de fora", sentenciou a presidente da Comissão.
Recorde-se que os construtores automóveis europeus estão impedidos de receber apoios financeiros dos Estados, como forma de conseguirem responder, não apenas às mais recentes exigências decorrentes da transição para a Mobilidade Elétrica, mas também à ofensiva das marcas, nomeadamente, chinesas, sobre os mercados da Europa.
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Estes construtores, embora tendo de lidar com os custos acrescidos decorrentes do transporte e colocação dos veículos nos diferentes mercados europeus, conseguem, ainda assim, disponibilizar veículos elétricos mais baratos, inclusive, que os produzidos no Velho Continente.
De resto e fruto desta situação, a União Europeia promoveu, já este ano, uma revisão temporária das limitações aos auxílios estatais, para combater os subsídios massivos disponibilizados, não apenas pelo governo chinês, mas também pela Administração Federal dos Estados Unidos da América, relativamente às chamadas tecnologias verdes.
França exige medidas proteccionistas
Entretanto e já esta quarta-feira, o ministro das Finanças de França, Bruno Le Maire, deslocou-se a Berlim, com o intuito de pressionar o governo alemão, para que tome medidas mais duras, que protejam a indústria automóvel, avança a Automotive News Europe.
"Precisamos, no imediato, de uma nova estratégia industrial europeia que seja muito mais proactiva, muito mais inovadora, muito mais protectora dos nossos interesses industriais, relativamente à China e aos Estados Unidos", afirmou, ainda na terça-feira, o ministro, durante uma entrevista ao canal de televisão francês LCI. Concluindo que, "não há um dia a perder".
Construtores europeus... contra?!
No entanto e ainda na semana passada, durante o Salão da Mobilidade de Munique (IAA), os principais responsáveis dos maiores grupos automóveis alemães, a BMW, a Mercedes-Benz e o Grupo Volkswagen, defendiam um aprofundamento dos laços com os construtores automóveis chineses. Isto, ao mesmo tempo que afirmavam que, a imposição de mais tarifas e barreiras comerciais com a China, não é o caminho a seguir.
"Devemos defender o comércio livre", afirmou, no Congresso Mundial de Veículos a Novas Energias, promovido pela China, o CEO da Mercedes-Benz, Ola Kallenius.
Reino Unido também na berlinda
A par da disputa com a China, relativamente à qual Von der Leyen também considerou ser "vital manter abertas as portas da comunicação e diálogo", até porque "também há áreas em que podemos e temos de cooperar", a Presidente da Comissão Europeia tem ainda de decidir, em conjunto com os seus comissários, sobre as possíveis e já abordadas tarifas a aplicar aos veículos elétricos provenientes do Reino Unido.
Neste momento sob debate interno e ainda sem decisão final tomada, as tarifas têm, no entanto, encontrado oposição da parte de algumas autoridades e até da indústria, que defende que a instauração de tais medidas prejudicará ainda mais os fabricantes europeus, ao mesmo tempo que aumentará a concorrência da China.