Carros elétricos vs carros a combustão

A mobilidade elétrica tem colocado dúvidas nomeadamente em torno do impacto que esta solução aparentemente mais sustentável tem no ambiente

Qual o real impacto do automóvel elétrico?

O facto de não produzir emissões no processo de utilização significa que é totalmente inócuo no plano ambiental?

Para responder aquelas que são as questões mais frequentes colocadas sempre que o tema surge importa começar por reter uma ideia essencial: para produzir energia (kWh) usada para alimentar o motor elétrico temos de utilizar uma fonte primária de energia e esta pode ser renovável, não renovável ou uma mistura das duas.

É o que acontece nalguns países como é o caso de Portugal onde a contribuição das fontes renováveis (solar, eólica e hídrica) tem meses que ultrapassa os 65%. Já em França, por exemplo, o nuclear tem um peso determinante.

O impacto em termos de emissões de CO2 tem variações grandes dependendo da geografia e das tendências de produção de energia elétrica adotada em cada um dos países.

Simulação responsável

Para este trabalho usámos um conjunto de simulações feitas num estudo recente para conseguir responder a esta questão de saber qual o impacto de um carro elétrico versus combustão na utilização quotidiana.

Uma simulação que se baseia em dados oficiais da EDP e dados dos fabricantes pois só deste modo se consegue garantir um mínimo de coerência e rigor nos resultados, que mesmo assim dependem de um número quase infindável de variáveis.

Se para um veículo com motor de combustão este é um exercício fácil uma vez que as emissões de CO2 anunciadas é uma função direta do consumo quer seja de um motor a gasolina quer Diesel num veículo elétrico o seu cálculo é algo mais complexo.

Isto porque um veículo elétrico não emite CO2 localmente pois o movimento é desencadeado pelo motor elétrico. No entanto e como já dissemos, a produção da energia elétrica pode não ser um processo completamente limpo para o ambiente e assim é emitido CO2 durante esse mesmo processo.

Na produção das baterias dos carros elétricos são igualmente produzidas quantidades enormes de gases com influência no efeito de estufa, mas como os estudos nesse âmbito são inconclusivos devido aos diferentes tipo de fabrico, essa realidade não é tida em conta para a comparação entre o impacto ambiental entre as várias soluções energéticas.

O mesmo acontece com a poluição provocada pela refinação dos combustíveis daí esse impacto também não ser contabilizado.

Elétricos com menos impacto

Esta é uma simulação que pode ser aplicada a qualquer modelo elétrico e comparada com os modelos com motores de combustão.

Segundo dados da EDP a média anual de energia elétrica produzida através de fontes renováveis é de 65% pelo que o nível de emissões especificas de CO2 registado foi de 209,09 g/kWh. Sendo assim carregar uma bateria de 41 kWh emite diretamente 8572,69 g de CO2.

Simplificando estes valores para comparar com os tabelados relativamente aos veículos com motor de combustão, temos agora de dividir o total de dióxido de carbono emitido no carregamento pela autonomia em quilómetros. Se esta for de 300 km e tendo em conta o mix das diferentes fontes na produção de energia elétrica, um carro elétrico com essas caraterísticas tem uma emissão de CO2 de 29 g/km.

Se aplicarmos o mesmo cálculo a todos os carros 100% elétricos verificamos que os valores obtidos são nitidamente mais baixos que os apresentados pelos motores a combustão, movidos a gasóleo a gasolina.

Considerando o cenário apresentado (65% da energia elétrica produzido por energias renováveis) fica demonstrado que os carros elétricos durante a sua utilização têm um menos impacto sobre o ambiente o que é uma mais-valia, principalmente nas cidades onde a utilização do automóvel é mais intensa.

Convém referir, no entanto, que caso o parque automóvel passasse a ser totalmente elétrico, as fontes de energia renovável não seriam suficientes para o consumo necessário e desse modo teríamos de recorrer às fontes não renováveis.

Só para termos uma ideia uma ideia um central de ciclo combinado emite mais de 700 g/kWh de CO2, um valor que alteraria completamente o impacto dos carros elétricos, como acontece, por exemplo na China onde grande parte da energia elétrica é produzida em centrais a carvão como a que existia em Sines onde a emossão era de 841 g/kWh de CO2!

Um cenário que varia

Os resultados não deixam dúvidas quanto à eficiência e sustentabilidade das soluções de mobilidade elétrica, porém estas duas variáveis dependem da contribuição das fontes renováveis de energia.

Caso isso não se verifique será necessário recorrer a fontes não renováveis para garantir o consumo elétrico da rede e aí o conceito perde algum sentido, passando os carros elétricos inclusivamente a registar taxas de emissões de CO2 superiores às dos veículos movidos a motor de combustão.