Como os cadáveres tornaram o seu carro mais seguro

A informação recentemente divulgada de primatas em testes é condenável, mas não é o único caso na história do automóvel de práticas que levantam questões morais. Como nos mostra o passado (até recente…) do recurso a cadáveres em testes de segurança em nome da ciência! A recente notícia de que o EUGT submeteu macacos à inalação de gases expelidos pelos escapes, durante a realização de um estudo sobre as emissões, tem gerado controvérsia e obrigou a Volkswagen, a Daimler e a BMW a pronunciarem-se sobre o assunto. Este, no entanto, não é um caso isolado de uma prática mórbida associada a testes da indústria automóvel. A utilização de cadáveres em testes de segurança foi um exercício relativamente comum e há inclusivamente testemunhos da utilização de corpos de crianças… [https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2018/01/30898-a-wha.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2018/01/30898-c-wha.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2018/01/220212hon-d.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2018/01/Dummy.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2018/01/dummy22.jpg] A utilização de cadáveres em testes de segurança é algo a que certamente nenhum fabricante quererá ser associado. No entanto, não significa que esta prática não tenha sido realizada na indústria automóvel. A revelação de que primatas foram usados na realização de testes de emissões pela EUGT – que a Volkswagen e outras marcas se apressaram a condenar – junta-se a outros casos de testes bizarros. De Universidades dos EUA a um centro de pesquisa em Espanha, passando pela GM e pela Saab, a utilização de corpos foi uma mórbida realidade que se justifica em nome da ciência. Em 1930, o cientista Lawrence Patrick, da Universidade de Wayne State, em Detroit, submeteu-se, ele próprio, a danos corporais para investigar os limites do corpo humano. A experiência prosseguiu com a utilização de cadáveres embalsamados, ao lançá-lo para um poço de um elevador, para determinar a força de impacto que o corpo humano poderia suportar. Abria-se um precedente para o uso de cadáveres para a realização de pesquisas e testes. Saiba quais foram os carros mais seguros de 2017 Décadas depois, os meios de comunicação germânicos noticiaram que investigadores da Universidade de Heidelberg utilizaram mais de 200 cadáveres para a realização de crash-tests, incluindo corpos de 8 crianças, ainda que com a permissão dos pais, sintetiza a história do NY Times. O governo local pediu justificações e a Daimler admitiu que a utilização de cadáveres era necessária, ressalvando que, no entanto, a companhia não realizou estas experiências diretamente. O reitor da Universidade anunciou, em 1989, o fim dos crash-tests que envolviam corpos de crianças, embora prosseguissem os testes com o uso de cadáveres de adultos. "Os testes salvaram a vida a outras crianças", justificava o reitor. A situação foi denunciada pelo ADAC, Associação Automóvel da Alemanha. Albert King, cientista da Universidade de Wayne State sublinhou, em 1995, que por cada cadáver utilizado, 61 pessoas sobreviviam pelo uso do cinto de segurança, 147 por airbags e 68 devido à segurança dos vidros para-brisas. King estima que esta prática salvava 8,500 por ano. Talvez atendendo a estas estatísticas, a GM levou a cabo um projeto que utilizava cadáveres em simulações de acidentes, revelou um responsável de segurança automóvel, segundo o meio Popular Science. Também a Saab se envolveu no projeto, de acordo com a mesma fonte. Outras marcas como a Chrysler e a Ford financiavam estudos desta natureza, escreveu o NY Times, deixando os trabalhos práticos para universidades. Leia também: Crash-tests salvaram 78000 vidas em 20 anos Mais recentemente, o Telegraph noticiou, em 2005, que uma universidade austríaca estava sob a mira das autoridades devido à mesma situação, depois do ministério público da cidade de Graz ter aberto uma investigação. De acordo com o meio de informação britânico, durante os testes os cadáveres foram conduzidos numa pista, sendo depois projetados por consequência de travagens. A experiência, que durou uma década, recorreu a 21 corpos. Horst Sigl, um dos procuradores públicos encarregues do caso, referiu que "o cerne do problema é se as famílias dos defuntos deram permissão". Do lado da universidade, Hermann Steffan, responsável do departamento de segurança automóvel da universidade, sublinhou a importância dos testes para a construção de manequins realistas. Em 2013 este tema foi de novo alvo de atenção nos meios de comunicação por todo o mundo. Avançava o Daily Mail, entre outras fontes, que os cientistas do Laboratório de Tecnologia e Sistemas para a segurança no Automóvel (TESSA), em Alcaniz (Espanha), utilizaram cadáveres para a realização de crash-tests. De acordo com a fonte, os cientistas justificaram a decisão dizendo que os corpos humanos (oriundos de laboratórios médicos que já os tinham utilizado em testes próprios) são mais fáceis de encontrar do que um manequim de custo elevado e que proporcionavam melhores resultados na análise aos danos causados em órgãos internos. Veja a evolução dos automóveis através dos crash-tests A utilização de cadáveres em testes de segurança é, por razões óbvias, um assunto delicado que resulta em conflitos com princípios éticos e morais. As entidades que realizaram esta prática justificam-se em nome da ciência e da segurança, mas esta utilização de defuntos é algo que se situará sempre na "área cinzenta" daquilo que é ou não aceitável.
Fontes: Autoblog (link), Daily Mail (link), HowStuffWorks (Link), NY Times (link 1, link 2) Popular Science (link), Telegraph (link), Wired (link)