Capot longo, habitáculo recuado e, sobretudo, capota têxtil. O BMW Z4 M40i regressa às origens do roadster para descobrir uma dinâmica que passou ao lado da geração anterior
Desenvolvido no auge da moda Coupé Cabriolet, o BMW Z4, com o seu teto rijo escamoteável, nunca se afirmou como um roadster de consensos.
Entre os condicionalismos estéticos provocados pela necessidade de arrumar um tejadilho dobrado na bagageira e uma condução pouco emotiva, para BMW, a geração anterior do Z4 não vai deixar saudades.
Para alterar esta perceção pouco entusiasmante, a BMW descomplicou e regressou às origens. Apostou numa elegante capota têxtil que demora apenas dez segundos a abrir ou fechar. A operação pode ser efetuada em movimento até aos 50 km/h.
Porque os olhos condicionam o processo de decisão, a BMW esticou a carroçaria em todas as dimensões. O novo BMW Z4 M40i é 85 mm mais comprido (4,32 metros), 74 mm mais largo (1,86 m) e 13 mm mais alto (1,30 m). Visto de frente ou traseira é fácil perceber que as vias acompanharam o crescimento da carroçaria colocando o condutor e o passageiro bem no centro da ação.
A distância entre eixos foi a única medida que encolheu, 26 mm para 2,47 m, sem que por isso o habitáculo fique menos recuado e elegante ou a distribuição equitativa de peso desequilibrada.
Ambiente premium
Sóbrio e ligado ao mundo pelo sistema operativo BMW 7.0, o habitáculo recria o típico ambiente premium. Pleno de qualidade e com poucas soluções para arrumar convenientemente telemóveis e carteiras.
Do que interessa, o banco do condutor tem o apoio correto, o volante as afinações necessárias e a informação é completa. É apresentada no painel de instrumentos digital BMW Live Cockpit Professional, refletida no para-brisas pelo head-up display opcional e partilhada com o pendura no ecrã tátil da consola central Control Display.
Entre o volante multifunções e o clássico iDrive é possível controlar tudo sem encher o ecrã de inestéticas dedadas.
Como o tamanho do capot deixa adivinhar, a alma deste BMW Z4 M40i é um motor de seis cilindros em linha, montado em posição longitudinal. Orientação perfeita para trabalhar com a caixa Steptronic de oito velocidades e encaminhar os 340 cv para o eixo traseiro.
Aqui, diferencial desportivo M garante que os 500 Nm de binário chegam sempre à roda com melhor tração. O controlo de movimentos do chassis foi aperfeiçoado com uma nova suspensão dianteira de duplos triângulos e uma revisão ao eixo traseiro de cinco braços.
O amortecimento adaptativo M Sport faz parte do equipamento de série desta versão, tal como os travões desportivos M Sport.
Resposta na ponta do acelerador
Igualmente desportiva e capaz de adaptar o rácio e a assistência aos modos de condução, a direção prima pela rapidez. Um pouco mais de comunicação, como oferece o M2, e seria perfeita. Entre EcoPro, Comfort, Sport, Sport+ ou Adaptative há modos de condução para todos os gostos.
Entre o cuidado com a autonomia do EcoPro e o nervosismo do Sport+, elegemos o Adaptative para a maioria das circunstâncias. Garante um nível razoável de conforto, sem penalizar demasiado a resposta.
Claro que para condução a sério não há como o Sport+. Para confirmar os 4,6 segundos no sprint até aos 100 km/h é melhor manter a transmissão no modo automático desportivo. Tudo o resto é feito em manual. As passagens são rápidas, acompanhadas por uma banda sonora com tanto de agradável como de artificial.
Sem precisar de mais do que um turbo de dupla entrada, o bloco de 2998 cc mantém o binário estável entre as 1600 e as 4500 rpm, enquanto a potência estabiliza entre as 5000 e as 6500 rpm.
Aproveitando a disponibilidade do motor nos baixos regimes, o BMW Z4 M40i tem sempre a resposta na ponta do acelerador. Recupera velocidade com grande facilidade, movendo-se com um rigoroso controlo da carroçaria. Apercebemo-nos da ausência de oscilações durante algumas ultrapassagens, comportamento que confirmámos em estradas sinuosas.
Ajudado por borrachas Michelin Pilot Super Sport, em jantes de 19'' opcionais, 225/35 à frente e 275/35 atrás, o BMW Z4 M40i agarra-se à estrada com determinação. A frente não cede e a traseira só descola com muita provocação. Um movimento progressivo que, sem surpreender o condutor, não surge com a naturalidade esperada de um roadster desportivo.
Espírito Gran Turismo
Claro que é possível e até fácil desenhar círculos concêntricos no asfalto, mas é limitativo. Falta-lhe a fluidez de movimentos do BMW M2 Competition ou o equilíbrio natural de um Porsche 718 Boxster. Não se trata de uma falha de caráter, antes de uma opção de posicionamento.
Com ou sem capota, o Z4 M40i oferece uma rara combinação de conforto e agilidade. As vibrações transmitidas ao habitáculo são mínimas, tal como a interferência aerodinâmica, que permite manter uma conversa a velocidade de autoestrada sem ter de elevar demasiado a voz.
No entanto, apesar do elevado nível de interatividade proporcionado pelo motor e pela caixa Steptronic, há um sentimento de Gran Turismo transversal a todos os modos. Seja pelo conforto, pelo requinte e qualidade dos materiais ou mesmo pela bagageira que duplicou a capacidade e não é afetada pela posição da capota, o Z4 M40i convida mais a desfrutar do fresco das noites de verão do que a desbravar estradas secundárias.
Claro que se pode optar por uma combinação dos dois cenários, mas preferimos rumar a uma estrada marginal.
O limite é estabelecido pela autonomia proporcionada pelos 52 litros de capacidade do depósito de gasolina. Seria interessante se gastasse os 7,1 l/100 km oficiais, mas não conseguimos baixar dos dez… De certa forma é o preço a pagar pela exclusividade de usar um motor de seis cilindros, quando a concorrência se rendeu aos blocos de quatro cilindros.
Por outro lado, o BMW Z4 M40i é cerca de dez mil euros mais barato que o Porsche 718 Boxster S, com motor 2.5 de quatro cilindros e 350cv.