BMW X2 M35i: Quarteto fantástico

O downsizing chegou aos desportivos da BMW. Com dois litros, quatro cilindros e 306 cv, o BMW X2 M35i é um excelente crossover desportivo

Um desportivo M com motor de dois litros e quatro cilindros? É estranho, mas é bom que nos habituemos. O futuro parece passar pelo downsizing dos blocos e, a julgar pelo BMW X2 M35i, vai ser risonho

Caiu o último bastião dos motores de seis cilindros e da tração traseira no segmento compacto. Sabemos que os automóveis não se medem, só, pelo tamanho do motor. Mas… é incontornável. Não há como evitar o assunto.

A BMW vai acabar com os motores de seis cilindros nos modelos compactos. E pelo caminho aproveita para desviar a tração para o eixo dianteiro.

Com o bloco mais pequeno arrumado em posição transversal, não vale a pena investir peso e recursos a encaminhar a força para trás. É assim o BMW X2 M35i.

Motor BMW X2 M35i
Só quatro cilindros e dois litros para este BMW X2 M35i

A arquitetura da plataforma, comum ao Mini e à próxima geração do Série 1, colocou o departamento desportivo da BMW, conhecido pela letra M, perante duas situações inéditas: desenvolver um motor de quatro cilindros e instalá-lo em posição transversal.

"Sacrilégio!" Gritam os puristas. "Disparate. Já não se fazem BMW como antigamente" pensámos nós.

Quatro cilindros

Depois conduzimos o BMW X2 M35i e percebemos que não se perde nada com a passagem dos seis para os quatro cilindros. Já com a adaptação da tração dianteira a integral, o resultado não é tão óbvio.

Eficaz como seria de esperar, tanto do ponto de vista energético como dinâmico, o sistema só fica a perder numa caraterística. Tinha logo de ser aquela que é a mais apreciada pelos condutores da BMW: o envolvimento…

Mais do que seguir atrás da tendência do segmento, Audi e Mercedes há muito que apostam na fórmula dois litros, quatro cilindros, mais de 300 cv, a opção da BMW tem um fundamento prático. O ganho de potência conseguido pelo motor de seis cilindros seria marginal, não compensando o acréscimo de peso.

Assim, o departamento M concentrou-se no bloco de dois litros da família B48. Pistões novos, injetores otimizados, cambota reforçada e turbo de maiores dimensões permitiram fixar a potência nos 306 cv e o binário nos 450 Nm, disponíveis entre as 1750 e as 4500 rpm.

Painel de instrumentos BMW X2 M35i

Para alimentar o turbo de dupla entrada sedento de ar, o departamento M reviu toda a admissão do BMW X2 M35i. Cresceram as entradas de ar, ao mesmo tempo que a capacidade de circulação interna duplicou.

Os gases de escape também fluem mais livremente, antes de ressoarem numa panela com afinação desportiva. Soa melhor nas ponteiras cromadas com 10 mm de diâmetro, do que no interior, onde a ampliação artificial é demasiado evidente.

Caixa Steptronic de oito velocidades

Sem transmissões manuais no alinhamento, o BMW X2 M35i trabalha em exclusivo com a caixa automática Steptronic Sport, de origem ZF. Percorre as oito velocidades com rapidez e sem problemas em manter o regime perto das 7000 rpm do red line. O motor sobe com gosto e é neste último fôlego que se mostra mais fácil de modular.

Em aceleração pura o conjunto lança o BMW  X2 M35i até aos 100 km/h em cinco segundos. Tempo particularmente interessante para um crossover compacto com 4,36 metros de comprimento e 1685 kg.

Selector da caixa do BMW X2 M35i
Não há caixa manual

Entre a transmissão e as jantes opcionais de 20'' (880 €), trabalha o sistema de tração integral permanente. No lugar do tradicional diferencial central de deslizamento limitado, a BMW optou por utilizar uma embraiagem com controlo eletrónico.

Mais simples e eficaz, esta solução privilegia o eixo dianteiro, podendo em caso de necessidade desviar até metade do binário para o posterior. A arquitetura orientada para o eixo dianteiro justifica a utilização do autoblocante à frente.

Os travões aquecem com facilidade

As alterações mecânicas ficam completas com uma revisão à suspensão, que recebe amortecedores mais firmes e vê a altura descer 10 mm.

Mais baixo e plantado, o X2 M35i fica a meio caminho entre o SUV e o hatchback. Combina os elementos estéticos do fora de estrada com as dimensões necessárias para se movimentar sem problemas em ambientes urbanos.

Um posicionamento que o volta a deixar a meio caminho, desta vez entre os 4,19 metros do concorrente direto, Audi SQ2 2.0 TFSI S tronic quattro de 300 cv (59 410 €),  e os 4,70 metros do concorrente aspiracional, Porsche Macan de 245 cv (80 898 €).

Desportivo discreto

Se o exterior do X2 M35i é discreto, acabamentos Cinzento Cerium nas capas dos retrovisores, grelha e entradas de ar dianteiras, ponteiras de escape e aileron específico, o interior ainda é mais. Aplicações na soleira das portas, apoio do pé esquerdo e é tudo.

Os bancos desportivos M são opcionais (520 €). E bons. Abraçam o condutor sem lhe prender demasiado os movimentos, ao mesmo tempo que o sentam baixo, totalmente integrado com o X2.

Atrás não há novidades. Espaço mediano e pilar C volumoso a roubar visibilidade lateral.

Interior do BMW X2 M35i
A posição de condução é baixa

À frente, a visibilidade é variável. No limite inferior, o banco não deixa ver o capot. Só estrada, o que pode criar uma ilusão enganadora.

Sentado baixo e com um motor dinâmico nos regimes elevados é fácil esquecer que o X2 não é um compacto. Distrações que podem ser complicadas, porque o X2 M35i acusa muito o peso da frente, que não se coíbe de invadir a faixa contrária ou testar a aderência da berma… Há que respeitar o peso e deixar os travões arrefecer.

Os enganos solicitam muito o pedal da esquerda e os travões não aguentam o trato, começando a ser preciso esticar cada vez mais a perna para reduzir a velocidade.

Soma das partes

Depois de interiorizar que estamos ao volante de um crossover e não de um compacto desportivo, o X2 M35i transforma-se numa máquina de precisão.

Os travões mantêm as suas limitações, mas o autoblocante fecha a linha com o acelerador, movendo o X2 como um todo. O movimento da carroçaria é mínimo, mesmo sem os amortecedores adaptativos opcionais.

O balanço pode ser aproveitado para puxar pela traseira que, de outra forma, não consegue sair do carril. É aqui que reside o problema. Se estivéssemos numa pista a tirar tempos seria ótimo. Mas estamos numa estrada de serra à procura da diversão e do envolvimento a que a BMW no habituou.

Bancos desportivos do BMW X2 M35i
Bancos muito confortáveis

Para sermos honestos com o BMW X2 M35i, não o podemos avaliar como um todo. Temos de começar pelo motor, o componente que nos suscitou mais dúvidas, e reconhecer o nosso preconceito.

Por uma questão de identidade, ser diferente da maioria, gostávamos que mantivesse o motor de seis cilindros. No entanto, o novo bloco de quatro cilindros e dois litros conquistou-nos, praticamente, desde a primeira aceleração. Responde bem desde os regimes mais baixos, sem se cortar nos limites superiores. Não há muito mais que se possa pedir a um motor turbo de dois litros.

Crossover desportivo

A tração integral e o comportamento em geral também não têm um problema objetivo que lhes possa ser apontado. Como um todo, o X2 M35i funciona com eficácia e precisão de um desportivo numa prova de regularidade.

O problema reside precisamente nessa neutralidade de comportamento, que se resume numa palavra: eficácia. Uma definição que, não sendo estranha à BMW, parece deslocada sem a companhia dos substantivos habituais: envolvimento, diversão e interação.

Esquecendo a falta de ligação emocional, um dos pilares do sucesso da BMW, o X2 M35i é um excelente crossover desportivo.

Ensaio publicado na íntegra na Turbo 455