BMW 530e vs Mercedes E 300e: Rivalidade recarregável

Com autonomia superior a 100 km, os eternos rivais do segmento executivo discutem a liderança entre os híbridos de bateria recarregável. Conforto e refinamento superiores com pronúncia alemã.

Com autonomia superior a 100 km, os eternos rivais do segmento executivo discutem a liderança entre os híbridos de bateria recarregável. Conforto e refinamento superiores com pronúncia alemã.

Mais de meio século de rivalidade faz do BMW Série 5 e do Mercedes Classe E as principais referências do segmento executivo. Uma disputa que começou muito antes do mercado se ter dividido em segmentos e subsegmentos. Numa época em que ecrãs táteis e híbridos com bateria recarregável fariam seguramente parte do universo da ficção científica. Hoje, quando a sofisticação se mede pelo tamanho dos ecrãs e a condução com emissões zero é decisiva para os benefícios fiscais, a disputa mantém-se mais acesa do que nunca. Ou a iluminação LED não se estendesse das óticas ao interior, sem esquecer a moldura da grelha.

Com a gama PHEV limitada à gasolina, o BMW Série 5 parte em desvantagem face ao Mercedes Classe E, que tem no Diesel E 300 de um verdadeiro campeão das longas distâncias. Custa mais dois mil euros mas, com o depósito e a bateria cheios, tem autonomia para mais de 1000 km. A realidade da gasolina é diferente e as melhores estimativas do computador de bordo do Mercedes E 300 e apontam para 746 km. Seis quilómetros à frente do BMW 530e.

Acreditando nas respetivas fichas técnicas, BMW 530e e Mercedes E 300 e garantem mais de 100 km livres de emissões. Cento e três quilómetros para o BMW e 118 para o Mercedes. Mais próximos da realidade, os computadores de bordo ajustaram as expectativas para 90 km e 103 km, respetivamente. O teste de estrada provou ser impiedoso, com o BMW 530e a não conseguir mais de 62 km, com um consumo médio de 22,6 kWh/100 km. O Mercedes E 300 e foi melhor, esticando a autonomia até aos 83 km, com um consumo de 21,7 kWh/100 km.

Tamanho conta

Estes resultados deitam por terra o otimismo dos números oficiais, que apontam para médias combinadas de 0,5 (Mercedes) e 0,6 (BMW) l/100 km. No final da primeira centena de quilómetros, a vantagem manteve-se no lado do Mercedes, com o E 300 e (1,2 l/100 km) a apresentar um consumo muito inferior aos 2,9 l/100 km do 530e. Sem a ajuda das baterias, as médias não demoram a disparar para além dos 5 l/100 km.

Apesar do pior resultado, o BMW 530e (2080 kg) é significativamente mais leve que o Mercedes E 300 e (2210 kg). Uma diferença de peso justificada, em parte, pelo tamanho da bateria. Para além de acrescentar peso, a unidade de 25,4 kWh do Classe E rouba espaço à mala e ao depósito. Enquanto a capacidade da bagageira cai dos 540 litros para os 370 l, o depósito encolhe dos 76 l para os 50 l. O BMW 530e consegue arrumar os 22,1 kWh (19,4 kWh úteis) da bateria sem interferir com nenhuma das cotas do interior.

Para compensar a perda de espaço, o Mercedes não limita o carregamento à corrente alternada. O carregador interno de 11 kW pode receber corrente contínua até 55 kW, permitindo repor 80% da capacidade da bateria em cerca de 20 minutos. Limitado ao carregador de 7,4 kW, o BMW não consegue melhor do que três horas e meia para uma carga total.

Silêncio eletrizante

Enquanto automóveis elétricos, estas duas berlinas executivas não são particularmente impressionantes. Os 184 cv do motor do BMW prometem um pouco mais do que os 129 cv do Mercedes, que têm a seu favor um binário (440 Nm) muito superior aos 280 Nm do rival. Selecionar o modo de condução híbrido acorda os motores de dois litros e quatro cilindros, com 190 cv no 530e e 204 cv no E 300 E. Dependendo do tratamento dado ao pedal do acelerador, a entrada em ação do motor térmico tanto pode diluir-se no ruído de fundo como surgir como um choque face ao silêncio do modo elétrico.

Com os dois motores a trabalhar em conjunto, a potência do BMW 530e fixe-se nos 299 cv e a do Mercedes E 300 e nos 313 cv. É a combinação perfeita para tentar igualar os 6,4 segundos homologados pelos dois rivais no arranque até aos 100 km/h. Um exercício que, apesar de exequível, não combina com o espírito confortável e refinado destas berlinas executivas. Puxar pelos motores térmicos também agrava sobremaneira os consumos.

Estes são particularmente sensíveis à autonomia elétrica. Com a bateria descarregada, a média do BMW 530e sobe para os 6,3 l/100km, mais do que os 5,8 l/100 km homologados pelo 520i, com o mesmo motor e menos 280 kg de baterias e periféricos. Mais eficiente em todos os modos de condução, os 5,1 l/100 km do Mercedes E 300 e batem os 6,4 l/100 km do E 200, com o mesmo bloco e 385 kg mais leve.

O segredo está na caixa

Pode ter só mais uma velocidade que a transmissão automática do BMW, mas a caixa automática de nove velocidades do Mercedes é essencial para os bons resultados do E 300 E. Muito suave e progressiva, procura sempre a maior desmultiplicação possível. Fora do modo de condução Sport, naturalmente uma exceção a esta regra, é perfeitamente normal circular a 120 km/h com o motor a ronronar nas 1500 rpm. O mesmo regime com o qual mantém os 90km/h. As subidas e descidas têm reflexos imediatos no taquímetro, mas sempre com progressividade, sem reduções bruscas.

Procurando uma vertente mais emotiva, o BMW está sempre mais disponível para acelerar. No entanto, apesar do maior nervosismo, a resposta ao esmagar do acelerador nem sempre é imediata. Por vezes há uma pausa, como uma hesitação, antes da caixa reduzir para a relação mais baixa possível. Tal como no Mercedes, o modo manual não traz mais emoção à condução.

Retirar estas duas berlinas do habitat natural é um exercício infrutífero. Procurar travagens fortes e transferências de massas consecutivas vai apenas evidenciar as fragilidades de duas berlinas concebidas para se excederem em cidade e estradas abertas. A tração traseira só se vai notar com as condições de piso ideais e os travões não demoram a acusar a utilização intensiva. Apesar de estar longe da perfeição, o BMW apresenta um controlo de movimentos superior e uma direção mais comunicativa.

Adeus botões

Enquanto executivos de referência, BMW Série 5 e Mercedes Classe E sabem receber passageiros nos lugares traseiros. Há espaço para pernas suficiente para sentar quatro adultos de estatura elevada e um túnel central volumoso para atrapalhar o lugar do meio. Conscientes de que os acessórios variam em função das intermináveis listas de opções, não deixámos de estranhar a ausência de bolsas nas costas dos bancos dianteiros do BMW. A falta de revestimento no interior das bolsas das portas também nos pareceu pouco própria de um Série 5.

Porque muitos executivos apreciam conduzir os próprios automóveis, as referências do segmento não podiam receber mal os condutores. As regulações são múltiplas, e eletrificadas em função das opções, para que o alinhamento entre volante e banco seja irrepreensível. Uma cobertura completa de câmaras ajuda a manobrar nos espaços onde as limitações da visibilidade traseira se tornam evidentes. Os sistemas operativos recebem atualizações remotas, extensíveis a algumas funções de segurança. Estas são completas em ambos os modelos, garantindo o nível 2 de condução autónoma.

Rendidos à moda do digital, BMW Série 5 e Mercedes Classe E concentram os poucos botões sobreviventes nos respetivos volantes. Representam a alternativa à ponta dos dedos para interagir com o automóvel. O BMW destaca-se neste campo por manter uma série de atalhos na consola central, bem mais fáceis de utilizar durante a condução do que os ecrãs. Neste capítulo, o E 300 e das imagens está em vantagem por apresentar o MBUX Superscreen (1850€), atribuindo assim um ecrã ao passageiro. Os três ecrãs (painel de instrumentos, central e passageiro) têm 12,3 polegadas e convivem som um vidro único. O BMW utiliza uma solução idêntica para fundir o painel de instrumentos (12,3 polegadas) com o ecrã central de 14,9 polegadas.

VEREDICTO

Feitas as contas, o BMW 530e não tem a vida nada facilitada. Não só o Classe E tem uma versão PHEV a gasóleo, como o Mercedes E 300 e tem mais autonomia elétrica e gasta menos. A maior vantagem do BMW é custar menos 3000 euros e, para quem isso possa ser importante, ter uma bagageira de maiores dimensões. Os ganhos em comportamento não são significativos e, no limite, o Mercedes tem uma velocidade máxima superior.

PREÇO

BMW 530e

Mercedes E 300 e

71 100 € (83 923 € versão ensaiada)

74 050 € (95 100 € versão ensaiada)