Automóvel ligado, carro 'pirateado'?

Encontramo-nos definitivamente perante um novo mundo de possibilidades, e é necessário estudar criteriosamente a segurança do mesmo.

Acredita-se que 14% dos automóveis vendidos atualmente no mundo têm algum tipo de conetividade com o exterior, e este valor chegará aos 75% em apenas quatro anos. Isto supõe que se as normas o permitirem os condutores vão poder controlar remotamente os seus veículos, verificando se estão fechados, o nível de combustível e inúmeras novas funcionalidades que podem ser controladas a partir da "poltrona da sala" através de dispositivos móveis como computadores, smartphones ou tablets.

O que é o automóvel ligado?

Muito se diz sobre o automóvel ligado, mas de que se trata realmente? A conetividade no veículo está relacionada principalmente com estes fatores: a segurança integral e os sistemas de ajuda ao condutor; o denominado "infotainment" (infoentretenimento) associado à utilização da Internet e de aplicações de bordo. Por último, o automóvel autónomo supõe uma fase mais avançada mas ainda há muitos obstáculos por ultrapassar.

Os ADAS, ou sistemas de assistência à condução, destacam-se pela sua integração no automóvel ligado: inovadores sistemas anti-colisão, assistentes de estacionamento, reconhecimento de sinais de trânsito, etc.

Agora viajar de automóvel é mais confortável e seguro, graças a estes sistemas, pois permitem uma condução mais automática e reduzem o erro humano, presente em mais de 92% dos acidentes.

Em qualquer caso, a conetividade persegue um objetivo claro: reduzir o número de acidentes graças a automóveis mais seguros, confortáveis e eficientes.

Informados e entretidos "a bordo"

Daqui a dez anos o automóvel ligado irá disponibilizar a mesma experiência de ligação a serviços de Internet que os dispositivos móveis. No automóvel, quem não gostaria poder desfrutar de serviços de navegação on line, informação de trânsito em tempo real, reprodução de música em streaming, ler mensagens, enviar ou receber chamadas ou interagir nas redes sociais, e o que é mais importante, sem desviar a atenção da estrada?

Alguns fabricantes de automóveis encaram a conetividade como uma grande oportunidade para oferecerem serviços de valor acrescentado e soluções próprias que exigem a aceitação do seu catálogo de aplicações.

Mas há cada vez mais sistemas que facilitam a integração de aplicações do smartphone do utilizador ou dos atuais relógios inteligentes através do sistema de infotainment ou infoentretenimento do automóvel.

Podem ser controlados por voz, com o volante multifunções ou os comandos do automóvel para reduzir as distrações do condutor.

E neste âmbito entram em jogo sistemas de empresas tecnológicas como MirrorLink, Android Auto da Google ou CarPlay da Apple

Automóvel autónomo

Para que o automóvel autónomo seja uma realidade previamente terá que ser desenvolvida a conetividade entre automóveis e entre veículo e infraestrutura. Esta última vertente é a que apresenta menos desenvolvimentos devido às lacunas existentes no meio envolvente.

Em 2016, a Bosch começou a produzir em série novos sistemas de assistência que abrangem o estacionamento remoto, os engarrafamentos de trânsito, manobras de desvio e mudanças de direção com trânsito em sentido contrário e preveem ter pronto um piloto automático para circular de forma automatizada em autoestrada em 2020.

Como exemplos do que já está a acontecer, um camião fabricado pela Daimler tornou-se no primeiro veículo autónomo com licença para circular sem condutor nas estradas dos Estados Unidos e a Volvo anunciou que em 2017 vai entregar uma frota de 100 veículos autónomos aos seus clientes para deslocação em trajetos quotidianos em algumas estradas da Suécia. A Google também tem o seu automóvel autónomo.

Deste modo a conetividade online permitirá que os condutores tenham acesso à informação sobre engarrafamentos, gelo no piso ou acidentes, bem como informação para encontrar lugares de estacionamento livres e locais de carregamento – que poderão ser reservados e pagos imediatamente – para veículos elétricos.

Automóvel "pirateado"?

Quanto mais tecnologia de conetividade tiver um automóvel, mais fácil será encontrar pontos vulneráveis para de alguma forma assumir o controlo do mesmo. Por exemplo, quando não havia fecho centralizado nos automóveis, a única forma de aceder aos mesmos era forçar a fechadura. Agora, com os acessos sem chave ou keyless, é mais fácil roubar o código de acesso para furtar o automóvel. Mas trata-se de artimanhas de ladrões profissionais.

A revista "Wired Magazine" contou com a ajuda de dois hackers que há já algum tempo investigam sobre as possibilidades proporcionadas pelo automóvel em controlo remoto: Charlie Miller (engenheiro de segurança na Twitter) e Chris Valasek (diretor de investigação de segurança no automóvel da Ioactive). O automóvel escolhido foi um Jeep Cherokee de última geração e o que fizeram foi publicado recentemente.

Enquanto um piloto de testes conduzia o veículo, os hackers conseguiam ligar o ar condicionado, depois enviaram uma foto e apresentaram a mesma no ecrã do automóvel; em seguida ativaram o sistema de áudio no máximo, ligaram os limpa-para-brisas, etc. O pior de tudo é que depois desligaram o motor e inclusivamente fizeram uma demostração do que podiam fazer com os travões num estacionamento, naturalmente.

Encontraram também falhas de segurança significativas no Toyota Prius e no Ford Escape.

Após vários meses de investigação apoiados por uma bolsa do governo americano, Miller e Valasek elaboraram um relatório no qual explicaram, entre outras coisas, que foram capazes de travar à distância um Toyota Prius que circulava a 128 quilómetros por hora, e que também manipularam o volante e travaram o motor.

No caso do Ford Escape, conseguiram desativar os travões quando este circulava muito lentamente. Descobriram outra falha de segurança que afetava milhares de automóveis correspondentes a modelos do mesmo fabricante, Fiat Chrysler Automobiles, chegados ao mercado entre finais de 2013 e 2015. A falha localiza-se no chip que estes automóveis incorporam para permitir a ligação sem fios e móvel à Internet.

E foi precisamente através da Internet que estes dois especialistas em ciberataques foram capazes de rastrear estes veículos e intervir em algumas das suas funções de forma remota e não autorizada.

Encontramo-nos definitivamente perante um novo mundo de possibilidades, e é necessário estudar criteriosamente a segurança do mesmo.