O aumento de 500% no preço do lítio vai encarecer os veículos elétricos e poderá comprometer os objetivos de descarbonização e transição energética. Nova tecnologia de baterias só chegará em 2035.
A pressão crescente para a diminuição do consumo de combustíveis fósseis e para a descarbonização está a levar a indústria automóvel a apostar na produção de automóveis elétricos e a sua aquisição por parte dos consumidores.
Tudo indicava que os automóveis elétricos se iriam tornar mais baratos, contribuindo para o aumento do parque circulante e a redução das emissões de poluentes nocivos para a saúde.
Se no plano puramente académico, isto faz sentido, no real poderá ter dificuldades em concretizar-se devido ao impacto do aumento da procura de matéria-primas para a produção de componentes para a produção de veículos elétricos.
Uma das matérias-primas utilizadas no fabrico das baterias dos automóveis elétricos atuais é o lítio e o seu preço aumentou cerca de 500% em apenas um ano, segundo a Bloomberg.
Agravamento de custos
Além disso, os analistas acreditam que isto pode fazer aumentar o custo de um veículo novo em cerca de mil dólares (930 euros), contrariando os esforços dos construtores para diminuir os preços para níveis semelhantes aos dos veículos convencionais com motor de combustão interna.
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A Bloomberg refere que a procura excecional do lítio se segue a uma diminuição para metade da sua cotação entre 2018 e 2020, o que levou a uma redução do investimento em novas fontes de abastecimento e no momento exato em que se assistiu a uma "explosão" na procura de veículos elétricos.
Além disso, o fornecimento de outros componentes utilizados na produção de baterias como níquel, grafite e cobalto foi afetado pela guerra na Ucrânia, agravando a situação.
Dificuldade de extração
O lítio pode ser obtido através da extração de salmoura de lítio ou pela sua mineração. Contudo, ambos os processos têm impactos ambientais, podendo ser pouco eficientes e muito lentos, assim como é difícil aumentar a produção a partir das de fontes já existentes. A procura de novas fontes, como se tem verificado em Portugal, está envolta em polémica e também demora muito tempo.
"Existe muito lítio no solo, mas o investimento em devido tempo é a questão", afirma Joe Lowry, fundador da empresa de consultadoria Global Lithium. "A Tesla pode construir uma gigafactory em cerca de dois anos; as fábricas de catódos podem ser erigidas em menos tempo, mas pode demorar até dez anos a construir o projeto de um campo "verde" de salmoura de lítio.
Os especialistas acreditam que haverá mais intervenção dos governos para proteger as fontes de lítio e até os próprios fabricantes automóveis poderão envolver-se no processo de mineração, algo que o CEO da Tesla Elon Musk já confirmou.
Quantidade insuficiente
Os próprios fabricantes têm vindo a procurar a quantidade de lítio nas baterias e alguns especialistas sugerem que a reciclagem de baterias antigas poderá representar cerca de 16% da procura mundial até 2035, altura em que uma nova tecnologia de baterias poderá reduzir a procura de lítio.
Mas como a procura de veículos elétricos deverá aumentar substancialmente a partir de 2030 devido à proibição da venda de veículos novos de combustão interna em muitos países, a reciclagem de baterias antigas não será suficiente. "Simplesmente não existem agora baterias suficientes para virem a ser recicladas", comenta Ken Hoffman, especialista sénior da McKinsey, em declarações à Bloomberg.