Audi S3 Sportback vs BMW M135 xDrive: Clube dos 300

Motor de dois litros a gasolina, tração integral e potência igual ou superior a 300 cv. Um requisito cada vez mais difícil de respeitar, que Audi S3 e BMW M135 interpretam com distinção.

Motor de dois litros a gasolina, tração integral e potência igual ou superior a 300 cv. Um requisito cada vez mais difícil de respeitar, que Audi S3 e BMW M135 interpretam com distinção.

Em 1996 a Audi apresentou o A3 originando aquele que hoje conhecemos como segmento compacto premium. Correu bem. Tão bem que três anos depois, em 1999, lançou uma versão equipada com o motor 1.8T de cinco válvulas por cilindro, com 210 cv, caixa manual de seis velocidades e tração integral quattro a que deu o nome de Audi S3. Nascia uma lenda.

A BMW demorou oito anos a apanhar o comboio dos compactos premium. O Série 1 estreou-se em 2004, com uma gama de motorizações que, apesar de completa, não identificava a versão desportiva com o M. Mas ela estava lá. Chamava-se 130i e contava com bloco de seis cilindros em linha naturalmente aspirado, com três litros e 265 cv. A caixa de seis velocidades podia ser manual ou automática e a tração era sempre traseira ou não se tratasse de um BMW.

Acusando o toque, a Audi apresentou a segunda geração do S3 em 2006. A evolução para o motor 2.0 TFSI igualou a potência do BMW, mantendo a transmissão manual e a tração quattro. Em 2011, a segunda geração do BMW Série 1 deu a conhecer ao mundo o M135i.

Mantinha-se a lógica do bloco de três litros e seis cilindros, mas a introdução de um turbo de dupla entrada aumentou a potência para os 320 cv. A caixa podia ser manual de seis ou automática de oito velocidades e, grande novidade, a tração traseira era complementada por uma variante xDrive.

A Audi respondeu. A BMW ripostou. E hoje, duas décadas e quatro gerações depois estamos perante as interpretações modernas do S3 e do M135. E logo se destacam uma série de diferenças antes sequer de pressionar os respetivos botões de ignição.

Enquanto o Audi se mantém conceptualmente igual a si próprio (motor de dois litros, quatro cilindros e tração integral), a caixa automática S tronic de sete velocidades é a exceção, o BMW sofreu uma mudança radical. Despediu-se dos motores de seis cilindros e da tração traseira, substituídos por blocos transversais de quatro cilindros e pela tração integral xDrive. Pelo caminho ficou também o “i” por confundir os clientes entre as motorizações a gasolina e elétricas.

Só para conhecedores

Tanto Audi como BMW estrearam este ano revisões aos seus compactos desportivos. A do S3 reserva as novidades para os conhecedores. Por fora não mostra mais do que ligeiras alterações à grelha e óticas LED matrix com possibilidade de escolher a assinatura luminosa entre as quatro disponíveis no respetivo menu do ecrã central.

Procurando o que realmente interessa, encontramos o mesmo bloco de dois litros e quatro cilindros, com o turbo pré-carregado estreado no VW Golf R capaz de elevar a potência dos 310 cv para os 333 cv. Para ajudar a colocar os cavalos no chão e diferenciar-se do VW com quem partilha o motor e a potência, utiliza o diferencial traseiro com repartição dinâmica de binário do Audi RS3.

Para a BMW o restyling foi suficientemente profundo para justificar a mudança da designação interna do modelo de F40 para F70. Para o público em geral, as diferenças não são obvias, centrando-se no ecrã panorâmico, agora, caraterístico do construtor da Baviera.

Por fora é preciso procurar as ponteiras de escape duplas ou as jantes de 19 polegadas com os discos de travão M Compound do Pack Desportivo M Pro (1500 €) que as preenchem por completo. Vítima das restrições relacionadas com as normas ambientais europeias, o bloco de dois litros e quatro cilindros viu a potência recuar 6 cv para os 300 cv.

Como um mal nunca vem só, o binário também perdeu 50 Nm fixando-se nos 400 Nm. Já o Audi aumentou 20 Nm para os 420 Nm. Em termos práticos, as alterações vieram desfazer o empate que vigorava nas prestações das versões anteriores, ambas com 4,8 segundos na prova de arranque até aos 100 km/h e 250 km/h de velocidade máxima.

Se o último parâmetro se manteve inalterado, a aceleração acompanhou as variações do binário, com o Audi S3 a registar 4,7 segundos e o BMW M135 xDrive 4,9 segundos. Uma daquelas vitórias que só o cronómetro é capaz de confirmar. Na estrada, os dois modelos são incrivelmente rápidos e seguros a acelerar.

Melómanos de explosão

Suspensões independentes com amortecedores adaptativos garantem a solidez do pisar sem chegarem a ser totalmente desconfortáveis. Não se dão bem com calçada de paralelo portuguesa, mas qual é o desportivo com jantes de 19 polegadas que se dá? Em estrada são suficientemente confortáveis para encarar viagens longas com a descontração de quem não precisa de grandes cálculos para efetuar ultrapassagens em segurança.

Essenciais para criar uma banda sonora adequada ao ambiente, os sistemas de escape não podiam ser mais diferentes. Enquanto a sonoridade artificial do BMW M135 xDrive dificilmente agradará aos melómanos dos motores de explosão, a linha de escape Akrapovic em titânio do Audi S3 vale cada um dos 5080 € que custa.

A sonoridade de ambos acompanha o espírito dos seis programas de condução disponíveis. Se no Audi há diferenças notórias entre efficiency, comfort, auto, dynamic, dynamic plus e individual, no BMW só Sport e Efficient alteram a dinâmica do M135 xDrive. Expressive, Relax, Digital Art e Silent não passam de jogos de luz e cor para o interior.

Dynamic Puls (pela menor intervenção da eletrónica) e Sport são as escolhas naturais de estes compactos desportivos. Curiosamente, os comportamentos são contrários à tradição de cada construtor. Em claro contraste com a neutralidade de reações das gerações anteriores, o diferencial traseiro do RS3 traz uma dinâmica totalmente nova ao S3. Continua a ser muito fácil de controlar e levar a escorregar às quatro rodas. No entanto, acertando com a dose de acelerador a meio da curva, é possível fazer a traseira rodar. Reações próximas da tração traseira muito mais envolventes e divertidas que as das gerações anteriores.

Colado à estrada

No extremo oposto, a direção muito direta e sensível ao binário do M135 xDrive está mais próxima à de um tração dianteira com autoblocante do que à histórica tração traseira da BMW. Já não estamos habituados a sentir o volante acompanhar o relevo da estrada que, apesar de recentemente asfaltada, mantinha alguma ondulação. A traseira também roda, mas como resposta à combinação de golpe de volante com alívio de acelerador. Mantendo a carga constante vai escorregar progressivamente à quatro rodas. Um comportamento em tudo semelhante ao do Audi S3, que se destaca pela agilidade proporcionada pelo diferencial traseiro.

Lineares na entrega da potência e com regimes de utilização muito equilibrados, ambos os motores de dois litros e quatro cilindros trabalham com caixas de dupla embraiagem e sete velocidades. Uma novidade para o BMW até agora associado a uma transmissão automática de oito relações. Patilhas no volante permitem desfrutar do modo sequencial e, no caso do M135 xDrive, ativar o modo Boost (pressão prolongada da patilha esquerda para reduzir automaticamente para a relação mais baixa possível).

Manter algum controlo sobre a ação pode ser tentador, mas deixar tudo em Auto é mais eficaz. A terceira relação muito longa do BMW faz esquecer que se ativou o modo manual. Já o Audi tem aquele escalonamento onde a terceira esgota com facilidade sem que a quarta tenha capacidade para manter o ritmo.

Nota positiva para head-up display do M135 xDrive, único com HUD, por ter luzes amarelas a indicar a proximidade do regime máximo. Apesar aparecer num painel de instrumentos personalizável, o taquímetro do Audi S3 nunca assume uma posição de destaque.

Cotovelada no banco

Gostos podem não se discutir, mas a funcionalidade quantifica-se. Neste caso temos o painel panorâmico do BMW contra o conjunto de ecrã tátil e botões do Audi. Os menus do M135 xDrive são intuitivos, rápidos, têm a barra de atalhos para a climatização sempre presente e estão ao alcance fácil da mão direita. É bom e mais fácil de utilizar que muitos concorrentes… onde não se inclui o S3. Não é por gostamos mais da organização do Audi que o destacamos. É por não ser preciso desviar a atenção da estrada para controlar a climatização. Basta estender o braço e pressionar os botões.

Como em todos os BMW Série 1, a posição de condução é elevada. Não é um ponto negativo, como a grossura excessiva do volante, é apenas estranho num compacto desportivo com as caraterísticas do M135 xDrive. O volante do Audi tem melhor pega, mas é mais horizontal. Juntem-se bancos com apoio lateral generoso e estão criadas as condições para o inevitável contanto entre o cotovelo e o banco.

VEREDICTO

Chegámos a este ponto sem falar no elefante na sala, mas não há como o evitar o Mercedes-AMG A 35 4Matic quando analisarmos os preços. O BMW M135 xDrive toma a liderança com um preço base de 60 000 €, seguido de perto pelos 65 700 € do Audi S3. O eterno rival de Estugarda, também com motor de dois litros, quatro cilindros e 306 cv, capaz de disparar até aos 100 km/h em 4,7 segundos, custa 68 600 €. Tem argumentos comparáveis aos dos protagonistas deste comparativo sem, como o BMW M135 xDrive, conseguir igualar o nível de interatividade do Audi S3.