Numa altura em que têm sido várias as notícias que apontam para o seu desaparecimento, a Audi pode estar a despedir-se do seu crossover Q2, com aquela que poderá muito bem ser a última edição especial. Contudo e partindo do princípio de que se trata do adeus, valerá mesmo a pena este "presente de despedida"?...
Concebido com base numa variante da já bem conhecida plataforma MQB-A0, a mesma que serve de base a propostas como, por exemplo, o "português" Volkswagen T-Roc, a verdade é que, não é de agora, que o Audi Q2 não goza da mesma popularidade ou sucesso dos restantes irmãos.
Pelo contrário e desde o seu lançamento em 2016, que o mais pequeno dos crossovers de Ingolstadt tem sido obrigado a lidar, não somente com uma estética exterior não muito consensual, mas também com aspectos que, nos restantes elementos da família, sempre foram encarados como fortes qualidades. Aliás, se dúvidas ainda houvessem, bastaria citar a já muito citada qualidade perceptível de vários materiais no habitáculo, claramente aquém não só dos pergaminhos da marca, mas também do nível de exigência que poderia ajudar a colocar este Audi Q2 num patamar acima daquela que é a luta sem tréguas mantida pelos generalistas.

Aliás, consciente desta realidade, a Audi decidiu agora e em jeito de despedida, propor ao mercado uma nova edição especial, de nome, precisamente, 'Special Edition', em que o esforço de elevar o posicionamento do modelo, surge patente, desde logo, num aspecto exterior mais reluzente. Nomeadamente, através da aplicação de molduras metalizadas na generosa grelha frontal e nas (pretensas) entradas de ar do pára-choques dianteiro (replicadas, de resto, também no pára-choques traseiro), de jantes em liga leve de 17" também metalizadas, além dos sideblades laterais em Cinzento Manhattan ou até mesmo das supostas protecções inferiores à frente e atrás, neste caso, a imitir metal.
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Pormenores que, mesmo tratando-se de não mais que estética, ou não estivéssemos perante um crossover que vive na, e para a cidade, não deixam de assegurar um visual mais moderno e atraente, e, quiçá, até ajudar a convencer alguns indecisos...
Já no habitáculo, o qual mantém o acesso fácil e acomodação desafogada, inclusive, no que à visibilidade exterior diz respeito - ainda assim, para trás, agradecer-se-ia uma câmara... que não tem! -, a mesma estratégia "reluzente", apoiada em várias aplicações em metal escovado, como forma de elevar a sensação de qualidade perceptível. Ainda que e mesmo assim, a manter uma significativa distância para os restantes crossovers Audi.

De resto e a par dessa ambição menos visível, a manutenção de um certo apego ao passado, nomeadamente, com o reafirmar da preferência pelos botões físicos, tanto no volante, como no ar condicionado e até mesmo na consola de comando do sistema de infoentretenimento MMI - opção que, pelo menos para nós, dificilmente poderá ser entendida como algo negativo, desde logo, por ser claramente mais funcional, precisa e até intuitiva, do que muitas soluções tácteis que por aí se encontram...
Num interior com uma disposição tipo anfiteatro, com o banco traseiro posicionado mais alto que os da frente, além de concebido para apenas dois adultos (o pretenso lugar do meio pouco mais é uma solução temporária e de recurso...), nota, ainda, para uma posição de condução alta, apoiada num banco em tecido e com agradável apoio lateral, num volante de boa pega e regulação ampla, mas também num correcto apoio de pé esquerdo. Com o condutor a beneficiar, ainda, de um painel de instrumentos 100% digital e configurável, além de um acesso um pouco distante a um ecrã táctil do sistema de informação e entretenimento (MMI) não só de layout já algo ultrapassado, como com um posicionamento também ele de outras épocas...
Descubra o interior abaixo
[https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2022/11/AudiQ2SpecialEdt2022EnsaioGaleria_posicãocondução.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2022/11/AudiQ2SpecialEdt2022EnsaioGaleria_bancotraseiro.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2022/11/AudiQ2SpecialEdt2022EnsaioGaleria_comandosMMI.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2022/11/AudiQ2SpecialEdt2022EnsaioGaleria_volantecomandos.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2022/11/AudiQ2SpecialEdt2022EnsaioGaleria_saidaar.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2022/11/AudiQ2SpecialEdt2022EnsaioGaleria_painelinstrumentos.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2022/11/AudiQ2SpecialEdt2022EnsaioGaleria_consolacentral.jpg,https://www.turbo.pt/wp-content/uploads/2022/11/AudiQ2SpecialEdt2022EnsaioGaleria_bagageira.jpg]Passando à bagageira, uma capacidade anunciada de 405 litros, valor que continua sendo de bom nível, ainda para mais, quando conjugado com um acesso fácil e amplo, além de um piso amovível que tem por baixo um alçapão a toda a dimensão do espaço. Ainda que esquecido quanto à importância da presença de uma qualquer divisória ou, pelo menos, revestimento da superfície...
Três cilindros de 110 cv? Dá para o gasto...
Disponível entre nós apenas com motores - a gasolina e gasóleo - de pequeno porte, a unidade que tivemos oportunidade de ensaiar optava pela variação a gasolina, um pequeno três cilindros de 999cc., a debitar 110 cv às 5.500 rpm e 200 Nm entre as 2.000 e as 3.000 rpm.
Solução que, conjugada com uma igualmente bem conhecida caixa manual de seis velocidades, de accionamento fácil e agradável, permite prestações que passam pelos 11,2 segundos na aceleração dos 0 aos 100 km/h, assim como por uma velocidade máxima anunciada de 197 km/h. Ou, ainda, por um consumo oficial combinado de 5,8 l/100 km e que, de resto, mesmo quando transpostos para a realidade, não fogem muito disso - 6,1 l/100 km foi o nosso resultado...

Exigindo pouco mais do que a manutenção do ponteiro do conta-rotações acima das 2.000 rpm, este 1.0 TFSI de 110 cv acaba por resultar, de forma agradável, numa proposta que, de SUV, pouco mais tem do que a maior altura ao solo. Aproveitando não somente o funcionamento discreto do propulsor, como também uma direcção convincentemente assistida e, sobretudo, um agradável compromisso entre conforto e desempenho dinâmico.
Aliás e com a ligação ao solo a ser feita por rodas de 17" polegadas, o Q2 não deixa de mostrar boa desenvoltura, particularmente quando em cidade, favorecendo uma condução fácil e confortável. Que, de resto, só deixa transparecer as suas limitações, a partir do momento em que começamos à procura de algo que esteve pequeno crossover não tem - espírito desportivo...
Assim, o veredicto é...
Sem conseguir esconder os anos que já leva e, até mesmo, a fraca aposta que, ao longo deste período, a própria marca nele fez, apetece concluir que o Audi Q2 poderá estar prestes a fazer as despedidas, da mesma forma como viveu - discretamente.

Afinal e mesmo com as suaves alterações trazidas com esta 'Special Edition', o mais pequeno dos crossovers da marca dos quatro anéis continua a deixar uma imagem de "presente de recurso", com pouco impacto ou emoção... e, ainda por cima, caro.
AUDI Q2 30 TFSI 'SPECIAL EDITION'
Preço 36.519 Euros
Motor Gasolina 3 cil., 999 cc, turbcompressor
Potência 110 cv às 5.500 rpm
Binário 200 Nm às 2.000-3.000 rpm
Transmissão Dianteira Cx. Man. 6 vel.
Comp./Larg./Alt. 4,20/1,79/1,53 m
Dist. entre eixos 2,60 m
Peso 1.325 kg
Mala 405 l
Acel. 0 – 100 km/h 11,2 s
Vel. Max. 197 km/h
Consumo WLTP 5,8 (6,1*) l/100 km
Emissões CO2 WLTP 132 g/km
* Medições TURBO
GOSTÁMOS
– Conforto
– Posição de condução
– Bagageira
NÃO GOSTÁMOS
– Preço
– Prestações
– Qualidade de alguns materiais