A Segurança é um dos temas mais relevantes do automóvel. Daí a democratização de alguns sistemas, como o assistente de manutenção de faixa, que a Comissão Europeia pretende tornar obrigatório em todos os veículos como forma de prevenir acidentes. Saiba o que é esta importante tecnologia, como surgiu, mas também como funciona.
Os acidentes causados por colisão frontal ou saída de faixa inadvertidamente, não são os mais frequentes. Porém, são aqueles que, na maioria das vezes, têm consequências mais gravosas. Daí a necessidade da sua prevenção através de sistemas que alertem o condutor ou até corrijam essas manobras, como já acontece com grande parte dos automóveis.
Num choque frontal, a velocidade de ambos os carros duplica a gravidade do acidente, enquanto, na saída de faixa, as consequências dependem muito das circunstâncias em que o acidente ocorra e da reação do condutor em minimizar os efeitos, procurando, por exemplo, amortecer o embate.
Quando isso não acontece (que é a situação mais habitual em estradas secundárias ou em muitos troços em linha reta nas autoestradas), a probabilidade do carro chocar contra um obstáculo, como uma árvore, ao despistar-se, é muito grande.
Ambos os tipos de acidentes descritos partilham duas caraterísticas. A primeira e mais evidente é o abandono não intencional da faixa onde circulamos; a segunda e mais subtil é a falta de capacidade do condutor para reagir face ao inesperado, dominando o carro.
Os estudos e as estatísticas mostram que as colisões decorrentes de uma saída de faixa ocorrem em segundos, enquanto as saídas de faixa não relacionadas com excesso de velocidade acontecem por distração ou sonolência, situações em que o tempo de reação do condutor é bastante reduzido.
Sistema de manutenção na faixa: do surgimento ao funcionamento actual
O assistente de manutenção de faixa é um sistema de ajuda à condução bastante evoluído e projetado para prevenir esse tipo de acidentes, intervindo na direção para evitar que o carro abandone a faixa em que nos encontramos ou atrasar esse momento na sua fase mais crítica.
Os primeiros sistemas do género utilizaram mecanismos de vibração concentrados no banco do condutor e no volante ou, pior ainda, apitos irritantes que podiam ser desligados ou não!
Com a generalização das direções com assistência elétrica, foi possível melhorar o sistema, intervindo de uma forma ativa, eliminando o tempo de reação do condutor e de modo menos intrusivo, sem aqueles sons ou apitos que, ao assustar, produziam vezes sem conta o efeito contrário.
A direção elétrica é a grande responsável pela democratização desta ajuda tão importante e que no passado recente apenas estava disponível nos modelos mais caros por serem mais pesados.
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Ainda que toda esta história tenha conhecido uma evolução constante, a verdade é que o começo foi difícil. O primeiro modelo a integrar esta ajuda foi o Honda Accord em 2002, que a batizou como "Lane Keeping Assistant System".
O sistema baseava-se numa câmara que fazia a leitura das linhas da estrada, uma função que demorou anos a aperfeiçoar, dada a dificuldade desta em ler os traços da estrada.
A combinação entre uma deteção errática das linhas da estrada e a intervenção in extremis da direção, tinha muitas vezes como resultado um comportamento pouco consistente e por vezes desagradável. Daí que a solução tenha passado por melhorar a leitura dos traços que definem as faixas de rodagem e um funcionamento do sistema mais suave, de forma a manter o carro no centro da faixa, em vez de intervir de surpresa, para evitar que o carro saia da faixa.
O resultado é a sensação de que o carro roda sobre carris. Desta forma, a intensidade da correção evolui à medida que a velocidade lateral aumenta, além de ter em conta o estilo de condução e o tipo de traço que define cada faixa de rodagem (descontínua, continua, de obra e outras).
Segurança acima de tudo
Hoje, a maioria dos sistemas já consegue com grande fiabilidade fazer uma leitura correta de todas essas variáveis, o que torna esta ajuda bastante eficaz, como facilmente podemos comprovar em alguns sistemas como o Autopilot da Tesla, que utiliza uma câmara bastante evoluída (Mobilleye EyeQ2).
Também as marcas alemãs e a Volvo oferecem sistemas bastante evoluídos nesta matéria. Como curiosidade, a Mercedes não realiza esta função com a direção, mas sim acionando os travões, o que, no início, pode causar algum susto, quando por distração pisamos a linha que limita a faixa e sentimos uma forte travagem lateral de forma a impedir que o carro passe para a outra faixa sem a devida sinalização.
À medida que o sistema tem progredido, têm sido adotados vários acrónimos e siglas para definir os vários sistemas, como o LDW (Lane Departure Warning) que se limita avisar o condutor de que está a pisar o traço que separa uma faixa da outra sem intervir na direção; o LPD (Lane Departure Prevention), mais preventivo de forma a evitar a manobra; e, finalmente, o LDWS (Lane Departure Warning System) reservado aos sistemas que mantêm o carro centrado na sua faixa.
Alguns dos sistemas mais avançados usam métodos de deteção capacitivos no volante, como o da BMW, uma vez que esta tecnologia reduz consideravelmente a reação que, segundo a norma europeia, não deve ultrapassar os 15 segundos. Associada a isso está uma função que deteta a atenção ou falta dela por parte do condutor.
A vantagem do método capacitivo é a capacidade de detetar, com grande precisão, a presença das mãos no volante, em vez da análise da força exercida sobre o volante. Os modelos mais recentes nesta matéria analisam, não só a presença das mãos no volante, como a direção. Dois pressupostos que estão também na base dos sistemas de condução autónoma.
Todos estes sistemas podem ser desligados pela simples razão de que há situações em que a sua intervenção pode ser prejudicial.
É o caso da condução fora de estrada ou em estradas em que as linhas estão pouco definidas, ou ainda porque a sua intervenção interfere negativamente com o estado de espírito do condutor numa condução mais desportiva.
Com a decisão da União Europeia de tornar estes sistemas progressivamente obrigatórios, os diferentes fabricantes têm feito um esforço de tornar esta ajuda mais eficaz. Daí que seja previsível que este seja um assunto relevante para o aumento da segurança ativa, que já conta com muitas ajudas obrigatórias, como o ABS, o ESP, a travagem de emergência em caso de colisão, a deteção de ângulo morto e muitos outros.