Quatro mulheres que marcaram a indústria automóvel

As mulheres e os automóveis é sempre um assunto que gera alguma controvérsia: por brincadeiras, piadas ou mesmo por convicções por parte de alguns homens. Há quem acredite que as mulheres por norma conduzem pior do que os homens, como se os homens detivessem o gene da condução. Apresentamos quatro mulheres que alteraram o paradigma da indústria automóvel. Sem elas os automóveis como os conhecemos não seriam os mesmos.   Bertha Benz, a primeira mulher condutora Pelo apelido o leitor já sabe que estamos a falar de alguém relacionado com a Mercedes-Benz. Bertha Benz, casada com Karl Benz, o engenheiro mecânico creditado como o inventor do automóvel, teve a ousadia de, em 1888, deixar uma nota na cozinha da casa a indicar que iria com os dois filhos para casa da avó das crianças, a 106 quilómetros de distância. Uma distância considerável na época. Ao volante do Benz Patent-Motorwagen 3, um triciclo com um motor monocilíndrico de 1.6 litros, Bertha Benz partiu para a aventura. A família Benz vivia em Mannheim e o destino era Pforzheim. Há quem diga que foi, inclusivamente, a primeira viagem de longa distância percorrida pela primeira vez por um automóvel. Durante o trajeto, Bertha Benz resolveu problemas relacionados com o sistema de refrigeração do automóvel - a água era colocada diretamente sob o motor e, ao evaporar, arrefecia um pouco o motor. Foi necessário procurar, portanto, diversas fontes de água para que o triciclo não sobreaquecesse. O sistema de óleo também era um problema: em vez de circular por um circuito fechado, sendo reutilizado, o óleo era colocado numa parte do motor e a quantidade que não fosse queimada era lançada diretamente para a estrada por outra parte do motor. Em relação ao combustível, esta questão era relativamente fácil de resolver - considerando que a fonte utilizada era a Benzina, disponível para venda em vários estabelecimentos pelo país. No entanto, o combustível tornou-se um problema quando o sistema de combustão avariou. Bertha Benz teve de proceder a alguma bricolagem na estrada, resolvendo um problema na tubagem. Além de primeira condutora, a esposa de Karl Benz partilhava os seus dotes para a engenharia, que teve de por em prática uma vez mais na viagem de regresso, desta vez no sistema de travagem. Bertha Benz faleceu aos 94, em 1944 anos mas deixou o seu legado não só no desenvolvimento da Mercedes-Benz mas também na indústria automóvel. Legado esse assinalado em Mannheim, com o trajecto 'Bertha Benz Memorial Route'. Diz por quem lá passa que a recriação do trajeto oferece a noção da dificuldade que seria fazer a viagem em 1888, numa amostra de carro.   Mary Anderson, a inventora dos limpa pára-brisas A história entre as mulheres e os automóveis continua com Mary Anderson, a inventora dos limpa pára-brisas. Numa viagem de elétrico em Nova Iorque em 1902, Mary Anderson, uma empresária da construção civil natural de Alabama, notou na quantidade de vezes que o motorista teve de parar o elétrico para limpar o pára brisas. A empresária pensou em como poderia evitar esta situação, esboçando aquilo que veio a ser o primeiro limpa pára-brisas da história. A concepção era relativamente básica - um braço metálico revestido por uma borracha resistente. A partir daí, Mary Anderson concebeu um dispositivo capaz de mover o limpa pára-brisas a partir do interior da viatura. No entanto, o sucesso da engenhoca não foi imediato. Mary Anderson tentou vender a sua criação a uma companhia do Canadá que não se mostrou muito interessada. Mais tarde os limpa pára-brisas desenvolveram-se e Henry Ford e a Cadillac adaptaram sistemas de limpa pára-brisas, em particular no Model T da Ford, um dos primeiros automóveis a dispor do engenho.   Florence Lawrence e a criação dos piscas intermitentes A atriz canadiana Florence Lawrence, uma figura do cinema mudo apaixonada pelos automóveis, é referenciada como a criadora dos piscas intermitentes. Casada com um vendedor de automóveis, a atriz inventou um sistema, localizado na zona das cavas das rodas traseiras, que levantava ou baixava um indicador sempre que o condutor premia um botão. Apesar de não ter patenteado este sistema, atribui-se a Florence Lawrence a origem dos primeiros piscas intermitentes de indicação de direção.         [caption id="attachment_26748" align="alignright" width="166"] © heidi-um-die-welt.com[/caption] Heidi Hetzer, a primeira mulher a dar a volta ao mundo com um clássico A alemã Heidi Hetzer, que chegou a ser piloto de ralis, foi a primeira mulher a conduzir em várias estradas por todo o mundo num clássico, um Hudson Great Eight de 1930. Em 2014 saiu de Berlim para atravessar os cinco continentes, num plano que traçava a passagem por 56 países diferentes. O feito histórico ainda se torna mais interessante quando descobrimos que Heidi Hetzer foi diagnosticada e operada a um cancro enquanto se encontrava no Peru. Nem mesmo a condição da sua saúde impediu que a condutora concluísse o percurso.     Estas são algumas das histórias entre as mulheres e os automóveis que refutam um preconceito que talvez seja mais comum do que pensamos. 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